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Manoel Martins de Almeida: "Caiado: um tiro pela culatra"

Produtor rural no Pantanal de Corumbá

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Há pouco tempo ousei um pequeno texto a respeito das PCHs, pequenas centrais hidrelétricas, que a meu ver poderiam ajudar a salvar a planície pantaneira, retendo sedimentos no planalto da bacia do rio Taquari. Naquela ocasião louvei iniciativa do governo de Goiás, que acabara de lançar um mega projeto de construção dessas mini barragens, tal qual já o fizera a administração anterior na década de oitenta.

Citei, com respeito e admiração, a figura do atual governador goiano, o médico e produtor rural Ronaldo Caiado, cujos posicionamentos no parlamento brasileiro em muito coincidiam, até estes dias, com a minha visão do papel do homem público.

Não abracei, como muitos da minha classe, as ideias da UDR, grupo por ele e outros formado para confrontar as forças de esquerda à época da Constituinte de 1988. A rotulagem que se propunha não sensibilizava a Nação e nos colocava a todos em um mesmo saco ideológico radical; entretanto, louvava o seu destemor e, é mister que se diga, à época cumpriu importante papel na resistência à onda socialista que dominava o Congresso Nacional. Por tudo isso somos, os ruralistas brasileiros, eternamente gratos.

Se desconsiderarmos o seu patético aparecimento montando um fogoso cavalo branco à época da campanha presidencial, na qual foi candidato fragorosamente derrotado, que à luz da psiquiatria já nos esclarecia a respeito da sua megalomania, a carreira política que construiu no Parlamento poderia ser avaliada como sadia.

Soube conter alguns psicopatas da esquerda, tanto com argumentos quanto na força bruta em várias oportunidades. Creditei a sua mocidade aquele happning eleitoral de cores napoleônicas que, sem dúvidas, envergonhou a seus possíveis eleitores, tirando-lhe muitos votos no agro brasileiro. Mas, tudo bem, menino do campo terá vislumbrado naquele gesto uma possível tradução do pensamento rural. Errou.

O tempo pode curar tanto quanto pode agravar determinados distúrbios emocionais nas pessoas. A vida e a caminhada nos modulam para que possamos conviver em sociedade exercendo o nosso pensamento. Se não formos cuidadosos erramos na dose, para mais ou para menos.

Caiado errou para mais. Prestou um desserviço à Nação. Não terá o aplauso dos velhos inimigos e atraiu para si o descrédito de quem o respeitava. Traiu. A galope, montado em seu cavalo branco, agora corre para longe da sua auto infligida Waterloo, em busca da primeira figueira que esteja em sua desesperada rota de fuga.

Como diríamos aqui no Pantanal: chasqueia a boca do matungo, dá de rédea, vai pra casa, dá um toso de engorda, solta o vivente campo fora e de a pé peça desculpas ao produtor rural brasileiro, que no passado acreditou em suas posturas.

Você não era um rói couro qualquer. Errou a mão. Troca de montada. Forma a tropa e pega um cavalo do monte. Peão ruim em cavalo bom é canseira. Peão bom em cavalo ruim joga corda em cinquenta metros.

O Brasil não precisava desse gesto tresloucado. Dá uma volta, como dizemos por aqui. Você já foi peão da cabeceira. Com jeito, quem sabe, arruma serviço outra vez. Pode ser que descontem os dias sem trabalhar. Mas você deixou um saldo na conta.