CRISTINA MEDEIROS
Quando se fala em arte contemporânea brasileira, vários são os nomes de peso a serem listados – Hélio Oiticica, Lygia Clark, Cildo Meireles, Ernesto Neto, entre outros. Mas quando se quer restringir a lista pelo perfil da inquietude ligada à arte multifacetada, um dos nomes que aparecem é o do artista plástico Nuno Ramos, que iniciou carreira nos anos 1980 e conseguiu uma obra nestes moldes. Parte do trabalho deste importante artista plástico brasileiro, com curadoria do professor e crítico de arte Paulo Venâncio Filho, pode ser conhecida numa exposição aberta ontem na Galeria de Artes do Sesc Horto, e que ficará aberta até o dia 19 de setembro.
Para a mostra foram selecionados 11 desenhos da série “Só lâmina”; o vídeo “Luz negra” (2002), sobre Nelson Cavaquinho e a instalação “Carolina”. Cada um deles representa e exemplifica uma dimensão importante e significativa da extensa obra do artista.
Inspirado na poesia de João Cabral de Melo Neto, o artista criou 11 telas que integram a primeira parte da mostra. Para representar a crueza do poema “Uma faca só lâmina”, os quadros têm como suporte placas de alumínio que se sobrepõem aos versos do poeta pernambucano.
“Nuno Ramos tem esta face de trabalhar com a poética, como já fez com a obra de Goeldi e Carlos Drummond de Andrade. Ele tem interesse nas figuras emblemáticas da cultura brasileira”, explicou o curador Paulo Venâncio Filho, que ontem ministrou a palestra “A arte contemporânea brasileira na atualidade”.
No restante da mostra, o que dá o tom é a sonoridade. Com as vozes dos atores Marat Descarts e Camilo ecoando pelo espaço expositivo, “Carolina” é uma instalação sonora em que frases desconexas remetem ao caos das metrópoles. Já em “Luz negra”, Nuno se uniu a Eduardo Climashauska para conceber um filme sobre a efemeridade: caixas de som entoando a música “Juízo final”, na interpretação de Nelson Cavaquinho, são enterradas no meio do sertão.”
“Nuno Ramos tem este lado único na variedade de interesses, ele é muito imaginativo quando se trata de trabalhar com vários elementos e ocupações de espaços”, diz Venâncio.
O volúvel raciocínio plástico de Nuno Ramos é estimulado por oposições, confrontos, antagonismos, tudo que é heterogêneo o atrai. Daí o aspecto tumultuado e instável de suas obras, sempre provocando e desestabilizando o olhar conformista.
“Na verdade, Nuno Ramos é um pouco indefinível, ele é um dos maiores artistas contemporâneos brasileiros, que ainda não ganhou a projeção internacional que deveria, mas isso, certamente, vai acontecer”.
SERVIÇO - “Só lâmina”. Exposição de Nuno Ramos, com curadoria de Paulo Venâncio Filho. Até 19 de setembro na Galeria do Sesc Horto, das 8h às 22h.