Os debates frequentes que se observam sobre a questão moral fazem acreditar que moral e política não se dão muito bem. Velho tema e sempre atual, porque o problema da relação entre moral e política não é diferente do problema da relação entre moral e todas as outras atividades do homem: ética médica, esportiva, ética do mercado, ética na religião etc, e em todas essas relações diferentes da esfera do homem há sempre o problema da distinção daquilo que é moralmente lícito e do que é moralmente ilícito. Essa questão quando apresentada na esfera política assume um caráter particular. Convém esclarecer que quando se fala da relação entre moral e política, a moral tratada é a moral social e não a individual. A moral social é concernente às ações de um indivíduo político que interferem nas atividades de outros e a questão é exclusivamente dos deveres para com os outros.
A expressão política geralmente é usada para designar a esfera das atividades estreitamente ligadas à conquista e/ou ao exercício de poder onde indivíduos estão assentados sobre um território. A história do conflito entre moral e política é antiga e complexa e no seu transcurso, os que contavam a verdade tiveram consciência dos riscos de seus atos, pois enquanto não interferiam no curso do mundo, eram cobertos de ridículo, porém, quando levados a sério, encontravam-se em perigo de vida.
Norberto Bobbio, cientista político italiano, coloca que o problema dessas relações torna-se mais grave porque o senso comum parece ter, pacificamente, aceito que o homem político pode comportar-se de modo disforme da moral comum, que um ato ilícito na moral pode ser considerado e apreciado como lícito na política. Em suma, que a política obedece a um código de regras, ou sistema normativo, diferente de, e em parte incompatível com o código ou o sistema normativo, da conduta moral.
A atividade política é uma atividade com características específicas que exigem um regimento normativo particular para que a sua atividade alcance o bem comum. Mas nessas guerras parlamentares, a grande maioria mantém-se vigilante e empenhado em promover a própria existência, respeitando o de outrem enquanto puder se beneficiar. E o povo? De barbárie em barbárie vai sobrevivendo e alguns grupos tornam-se aliados naturais do ‘poder absoluto’ em troca de verbas públicas, de espetáculos dantescos e festas romanas, com direito a competições de gladiadores numa arena suntuosa. Uma pesquisa recente do Ibope revelou que 75% dos entrevistados afirmaram que cometeriam algum tipo de corrupção política caso tivessem oportunidade e que 70% admitiram já ter cometido algum tipo de prática antiética. Isso demonstra a tolerância do senso comum com o que se faz de errado e a reação emotiva das pessoas diante dos fatos de que são espectadoras.
Assim, que o cenário nacional não nos torne eternos e permanentes espectadores passivos diante dos que dizem e querem que tudo continue como está, porque esses contribuem para fazer com que sua previsão se realize. Que não triunfe alguns de Brasília!
Silvia Araújo Dettmer, Advogada, Profª MSc. da UFMS/Campus de Três Lagoas
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