Em passeio pelo Chile acabei assistindo ao final da campanha para presidente da república daquele país. Algumas lições pareceram-me importantes. Em primeiro lugar, a campanha se fez sem nenhum exagero propagandístico. Andando pelas ruas nada se via a não ser raros e modestos cartazes dos candidatos. Tentávamos conversar com as pessoas sobre política e quase sempre recebíamos respostas evasivas. Bem poucos aceitaram definir-se. Nos jornais, a eleição era sempre notícia de terceira e quarta páginas. Senti fortemente que estava bem longe do Brasil. O Chile é o país de maior maturidade eleitoral entre nós sul-americanos, apesar de ter tido, em sua história recente, dois grandes traumatismos políticos. O primeiro com a surpreendente eleição do comunista Allende que, atabalhoadamente, quis impor o marxismo para essa gente acostumada à vivência democrática, culturalmente amadurecida e com larga margem da população em nível superior. O segundo traumatismo, muito maior, foi a violenta revolução militar de Augusto Pinochet. Sua ditadura deixou contundentes feridas naquela gente. Mas, surpreendentemente, essa gente, apesar de ferida, sempre foi capaz de reconhecer os acertos do ditador, particularmente na área econômica. Agora, a direita, apesar de ser estigmatizada como sucessora de Pinochet, ganhou a eleição, derrotando o chamado centro-esquerda, que há 20 anos tinha o poder em mãos. Surpresa maior: a esquerda, agora derrotada, saía do mais festejado governo da história política do país, com a competente presidenta Michele Bachelet, com 80% de aprovação popular. Como pode perder eleição um governo com 80% de aprovação? Li explicações feitas por alguns cientistas políticos chilenos. Explicações que buscavam objetivamente as razões pelas quais a presidenta Bachelet, de consagrada aprovação, não conseguiu transferir seu prestígio ao candidato do seu partido. As explicações são de caráter pessoal e doutrinário. De caráter pessoal: o candidato não era simpático ao povo. De caráter doutrinário: o candidato Eduardo Frei conduziu a sua proposta governamental em torno da ideia de um governo forte – um estado de maior poder. Seu slogan era: “Mais Estado”. Ora, um país como o Chile, vivendo um momento feliz da sua história, crescendo dentro da política democrática, do livre mercado, não poderia entender o candidato propondo o dirigismo e o atraso. Preferiram votar num empresário muito rico, antítese do ideário da esquerda. Era a prova clara da superação da fórmula esquerda-direita, que ainda comanda da politicalha dessa subdesenvolvida e triste América do Sul. Nós entre eles. Mas, essa eleição chilena nos faz mais esperançosos. Há semelhanças entre nossa situação e a que viveram os chilenos. Temos também aqui um presidente com 80% de aprovação com muita probabilidade de não transferir seu prestígio à candidata que carrega a tiracolo. Ela, como o candidato derrotado do Chile, manifesta indisfarçável antipatia popular. Já fizeram toques e retoques no rosto da moça, mas a sua cara continua de uma sapa, transpirando agressividade e mau humor. Nós, brasileiros, não costumamos engolir sapos por amor à pátria. Para aumentar esperanças, agora, o querido Lula acaba de fazer propostas de Governo exatamente iguais àquelas que derrotaram Eduardo Frei, no Chile. Aliás, muito mais avançadas no sentido do atraso. Contrariando a imagem de um político hábil e inteligente, o queridíssimo rei Lula está nos propondo investir contra os direitos democráticos, a livre imprensa, o livre mercado e, como peça básica propõe de forma indireta o fim do direito de propriedade. Trata-se do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH – 3) criado pelo grupo de guerrilheiros da Casa Civil, sob a chefia da indigesta Dilma Rousseff. Além disso, o grupo investiu também contra a anistia aos militares da ditadura militar, numa atitude de atrasado revanchismo que, temos certeza, o povo não gosta. É impensável que ninguém tenha dito ao Rei que o perdão da anistia atingia aos dois lados e que, portanto, os assaltantes de bancos, sequestradores de embaixadores e guerrilheiros poderão ser chamados também para responder na Justiça. Já imaginaram a foto da sapa sentada no banco dos réus?