O desrespeito por parte da grande maioria dos motoristas no trânsito de nossa Capital é por demais conhecido. A cada momento presenciamos cenas que comprovam todo tipo de abusos: é aquele que para sobre a faixa de pedestres, avança o cruzamento com sinal vermelho, se irrita e buzina apenas porque o motorista à sua frente reduziu a marcha para estacionar ou entrar em sua garagem, e por aí vai.
Dia desses, subindo a pé pela Rua Dom Aquino em direção à praça Belmar Fidalgo, vi quando uma elegante e jovem senhora estacionou seu possante SUV (Sport Utility Vehicle, em bom “vernáculo”) exatamente na esquina com a Rua José Antonio, sobre a faixa de pedestres, bloqueando o rebaixamento da guia destinado ao acesso de cadeiras de rodas. Imaginando que ela não percebera o erro, avisei-a de que ali havia o rebaixamento do meio-fio para permitir o acesso de cadeirantes. Saindo do veículo, ela simplesmente, sem ao menos olhar em minha direção, sapecou:
- “Vá à merda!”
Fiquei ali, perplexo, observando-a afastar-se!
Em outro dia, na mesma via, dessa vez descendo em direção ao centro, numa entrada para a garagem de um imóvel, tive meu percurso na calçada interrompido por uma caminhonete (pick-up, como é mais chique) que simplesmente parou na referida entrada, atravessando a calçada e tomando toda sua largura, de modo que o pedestre teria de descer à pista de rolamento para continuar o trajeto. Parei e mirei o motorista, fazendo sinal de que desejava passar. Pois bem: ele me olhou com o mais profundo desprezo, desceu do carro, trancou-o e foi cuidar da vida! Fotografei o carro com a câmera do telefone celular, mostrando sua posição e placa, mas não consegui enviar a foto para o DETRAN, pois o recurso de comunicação do site dessa autarquia não permite a anexação de arquivos. Estacionar sobre as calçadas é a coisa mais comum!
Há algum tempo a administração pública do município demarcou vagas de estacionamento reservadas para idosos em diversos locais da cidade. Numa das esquinas do quarteirão onde moro, foram assinaladas duas vagas. Do meu posto de observação no 19º andar, frequentemente observo carros estacionando nessas vagas, cujos motoristas nada têm de idosos. Nelas também estacionam caminhões de entrega de bebidas e outras mercadorias. Parece que os fiscais da empresa que lucra com o uso de NOSSAS vias públicas, construídas e mantidas com o NOSSO dinheiro, se preocupam apenas em verificar se foi acionado o famigerado “parquímetro”!
Todas essas barbaridades ocorrem por dois motivos: FALTA de educação e civilidade por parte dos motoristas e AUSÊNCIA total de policiamento. Policiais de trânsito, tanto municipais quanto estaduais, raramente são vistos, e assim mesmo apenas nas ruas mais centrais, como a 14 de Julho. Fico imaginando onde estão e o que fazem as centenas (milhares?) de policiais militares lotados nos diversos “batalhões” espalhados pela cidade. Assim, cometem-se todas as irregularidades possíveis com a certeza da total ausência de repressão estatal. E, lógico, a inexistência de policiamento também propicia a prática de vários outros crimes por bandidos de todas as espécies!
Outro abuso, esse de proprietários de estabelecimentos comerciais, afeta inversamente os motoristas, educados ou não. Trata-se do ilegal rebaixamento das guias (meio-fios) em toda a frente do imóvel para criar os estacionamentos “privativos para clientes”, impedindo que os não clientes estacionem no local respectivo. Trata-se de verdadeira “privatização” da via pública! É louvável que se crie estacionamento para os clientes, mas com uma ÚNICA entrada e saída, e não em toda a extensão da calçada em frente. Há locais em que, praticamente, toda a quadra está afetada por esses “estacionamentos”, como na Rua 13 de Maio, entre a Calarge e a Belizário Lima. Ali, na maior parte do dia, é impossível estacionar, a não ser nos “exclusivos para clientes”. Alguns, para piorar, dada a insuficiência de suas áreas próprias, usam parte ou quase toda a largura da calçada. Recentemente, em Londrina, no Paraná, houve um movimento de revolta contra essa prática, que foi reconhecida como ilegal pela administração pública, tendo um secretário municipal “autorizado”, em entrevista, que os motoristas desrespeitassem essas “reservas” e estacionassem seus veículos nos locais rebaixados. Entretanto, um leitor escreveu para um jornal local perguntando se a prefeitura iria indenizar os danos que os comerciantes, em represália, iriam provocar nos carros que barrassem seus “estacionamentos privativos”... E, assim, o problema continuou. Aqui, por estas bandas guaicurus, parece que ninguém com autoridade cogita qualquer providência a respeito.
E o cidadão contribuinte, ó!!!
Oswaldo Barbosa de Almeida, advogado, [email protected]