Um o p e r á r i o morreu, l itera l me nte d ilacerado, e outros três sofreram ferimentos, na terça-feira à tarde quando uma carreta invadiu o “canteiro de obras” dos trabalhadores na BR-163, próximo a Coxim, no norte do Estado. O saldo trágico só não foi maior porque outros operários perceberam a aproximação do caminhão e conseguiram correr. De acordo com informações das vítimas, a via, que passa por ampla reforma, estava devidamente sinalizada, mas o caminhoneiro ignorou os veículos que estavam à sua frente e fez as ultrapassagens. O condutor, que também teve vários ferimentos, pois atingiu uma máquina pesada usada na obra, alegou que o veículo havia perdido o freio e por isso não conseguiu parar. Se houve falha mecânica, distração ou irresponsabilidade cabe à perícia policial apontar. O fato é que um trabalhador de 35 anos morreu e outros sofreram ferimentos graves durante uma ocorrência que, possivelmente, será considerada somente mais uma entre tantos acidentes graves que são registrados quase que diariamente naquela que há muito é conhecida como “rodovia da morte”. Se houve falha mecânica, a empresa proprietária da carreta precisa assumir as responsabilidades pela tragédia. E, caso fique comprovado que o caminhoneiro cometeu imprudência ou imperícia, a punição precisa ser severa. Defender esta tese parece ser o óbvio do óbvio. Porém, a possibilidade de alguém ser punido é remotíssima. Tanto nas rodovias quando nas cidades, toda tragédia que envolve veículos é vista pelas autoridades como acidente, embora em incontáveis casos os motoristas tenham cometido crimes bárbaros. Por mais que se adotem mudanças na legislação, ninguém é punido por conta das atrocidades que comete. A chamada lei seca, por exemplo, foi apontada como “salvadora da pátria”. Porém, ninguém chegou a ser condenado até agora no Estado. Pelo contrário, a impunidade aumentou, conforme admite a própria polícia. Embora não possam ser ignoradas as más condições das estradas, o excesso de veículos, a falta de sinalização nas vias, entre outros fatores, a absoluta maioria dos acidentes acontece por causa da imprudência, atrevimento ou irresponsabilidade de motoristas. Apesar disso, tudo é interpretado como acidente. Casos de falha mecânica, como alegou o caminhoneiro que “patrolou” os operários em Coxim, são raríssimos. Ou seja, enquanto não houver mudança radical, não só na legislação, mas na cultura e até mesmo na linguagem para traduzir as fatalidades no trânsito, as mortes não diminuirão. Embora, em tese, a metade dos “irresponsáveis” acabe fazendo parte das trágicas estatísticas de 40 mil mortes anuais no País, a outra parcela é de pessoas “inocentes”, que morrem porque a cultura brasileira decidiu não atribuir culpa àqueles que não sabem que estão com verdadeiras máquinas mortíferas nas mãos.