AGÊNCIA ESTADO, SÃO PAULO
"Foi uma coisa extraordinária. A diplomacia sai vencedora", disse ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o acordo nuclear iraniano, realizado com a intermediação do Brasil. A afirmação foi feita durante o programa "Café com o Presidente". O Irã aceitou enviar à Turquia 1.200 quilos de urânio pouco enriquecido e, em troca, receberá 120 quilos de urânio enriquecido para seu reator de pesquisas.
O acordo deve passar por avaliação da Agência Internacional de Energia Atômica (AEIA) e do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Para Lula, que falou diretamente de Teerã, o acerto foi uma resposta de que "é possível, com diálogo, construir a paz, construir o desenvolvimento".
O ministro de Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim destacou que a negociação se estendeu por meses, e enfatizou que esse acordo não vai resolver todas as questões a respeito da questão nuclear. "Ele é o passaporte para discussões mais amplas que criem a confiança na comunidade internacional e, ao mesmo tempo, permita o Irã exercer o direito legítimo de usar a energia nuclear para fins pacíficos."
Quanto às sanções internacionais ao Irã, Amorim acredita que o acordo "deve ser suficiente" para interromper o movimento em favor de sanções.
Rússia
A Rússia recebeu bem o novo acordo. "O que foi feito por nossos colegas precisa ser saudado. Esta é a política da solução diplomática para o problema do Irã", disse ontem o presidente russo Dmitry Medvedev a jornalistas durante uma visita a Kiev. "Precisamos fazer consultas com todos os lados, incluindo o Irã e então determinar o que fazer em seguida."
Estados Unidos
A Casa Branca afirmou ontem que os Estados Unidos e seus aliados têm "sérias preocupações" sobre o acordo para troca de combustível nuclear, firmado entre Irã, Brasil e Turquia. O governo norte-americano, porém, não rejeitou categoricamente o pacto.
Robert Gibbs, porta-voz do presidente Barack Obama, disse que, caso o Irã concorde em transferir urânio enriquecido para outro país, esse seria um "passo positivo". Ele notou, porém, que Teerã já afirmou que pretende continuar a enriquecer urânio a 20%. Gibbs disse que o prosseguimento dessa ação seria "uma violação direta às resoluções do Conselho de Segurança da ONU". Para produzir uma bomba atômica, é preciso urânio enriquecido a mais de 90%.
O acordo provavelmente complicará a ação norte-americana para pressionar por uma nova rodada de sanções ao Irã no Conselho de Segurança da ONU, que seria a quarta. Os países liderados pelos EUA temem que o Irã busque secretamente armas nucleares, mas Teerã garante ter apenas fins pacíficos.
Gibbs cobrou atitudes do Irã para demonstrar que seu programa nuclear tem fins pacíficos, e "não apenas palavras". Segundo o porta-voz, os EUA continuarão a trabalhar com seus parceiros internacionais por uma solução diplomática, mas considerarão sanções contra o país, caso ele não obedeça aos padrões internacionais nessa área.