grupo de adolescentes conversa animadamente. Se não fossem os trajes sujos e o assunto, seria apenas mais um grupo como outro qualquer. O tema é o material reciclável e a ação dos funcionários que trabalham no lixão. “Mas esse povo só atrapalha a gente, isso quando não tomam os ganchos e ainda dão uns tapas”, reclama Clayton. O jovem mente dizendo que tem 15 anos, e logo é corrigido por um comprador. “Fala a verdade, você tem só 12”. A entrada de crianças e adolescentes é proibida no local, e de acordo com os funcionários, a ordem é não deixar que menores trabalhem. “É para protegê-los, mas não conseguimos controlar todo mundo, e eles entram mesmo”, explica um dos funcionários da prefeitura, que prefere não se identificar. Para ele, deveria deixar que eles continuassem. “É melhor do que eles ficarem por aí roubando”, fala. Este tipo de proibição faz com que jovens como Clayton sintam medo de não conseguir mais catar lixo. “Muitos ajudam os pais ou mesmo sustentam a casa com o dinheiro do lixo e por causa da lei os funcionários tomam os ganchos deles”, explica o mesmo comprador. Clayton trabalha em grupo com Marcos, 17, e Adriano, 15. Recolhendo cerca uma tonelada, cada um chega a ganhar R$ 1,5 mil mensalmente. “Não vou achar serviço melhor que no lixo”, conta. Ele acredita que se não fossem os guardas, conseguiria ganhar muito mais do que isso. Trabalho Os bags (sacos) estão cheios e os plásticos e materiais que podem ser comercializados precisam ser separados para render mais. Os meninos parecem não se importar com o mau cheiro ou com os restos de comida misturados. Sem luvas ou qualquer outro tipo de proteção, eles param e comem salgados sentados em volta do material coletado durante a noite. Uma cena chocante para muitos, mas considerada normal ali. “Não tem onde lavar a mão, e nem compensa, vai sujar de novo”, explica Marcos. Entre eles, não há discussões sobre meninas, planos, sonhos ou internet. Os assuntos da moda não interessam a eles e sim aquilo que gera dinheiro. “Sem dinheiro, não vamos a lugar nenhum. Como vamos ter as coisas sem dinheiro?”, questionam. Para os meninos do “garimpo do lixo”, sonho mesmo é conseguir comprar os próprios pertences sem ter que recorrer ao crime. “Eu trabalho e ganho igual a gente grande e quero ser tratado como adulto, o resto não me interessa muito”, finaliza Clayton, dizendo que não quer mais conversar com a reportagem. (LBC)