De olho no Governo do Estado, três candidatos darão a largada, amanhã, na corrida eleitoral. A disputa deve ser polarizada entre o governador André Puccinelli (PMDB) e o ex-governador José Orcírio dos Santos (PT) e, no meio deles, estará exprimido o representante do nanico PSOL, Ney Braga. Com este quadro, a previsão é da eleição no Estado ser definida no primeiro turno por falta de candidatos para a divisão de votos e pela baixa competitividade de Braga, que entrará na campanha eleitoral sem a estrutura de André e José Orcírio.
Serão 88 dias de bombardeio nas ruas e, a partir de 17 de agosto, entra em ação a campanha na mídia eletrônica — programa eleitoral gratuito nas emissoras de rádio e televisão —, que passa a ser a principal arma dos candidatos para conquistar voto.
Apesar do discurso de evitar “canelada e golpe baixo” no decorrer da disputa eleitoral, os candidatos admitem ser impossível manter a diplomacia com os rivais. “Guerra é guerra”, comentou, recentemente, o deputado federal Vander Loubet (PT), que prevê duros ataques de André contra José Orcírio.
O candidato petista a governador não vai deixar de responder as acusações do adversário. Os dois já vinham se atacando na pré-campanha eleitoral e endureceram o discurso nas convenções partidárias. André culpa José Orcírio pela retração na economia de Mato Grosso do Sul e o petista o responsabiliza pelo corte de programas sociais e de usar obras do governo Lula como se fossem estaduais.
Favorito
O governador André Puccinelli entra como favorito na guerra eleitoral para se manter no poder, mas está ciente que irá participar de uma campanha difícil, porque o seu maior adversário, José Orcírio, não estará sozinho nesta batalha. Ele contará com o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e da ex-ministra Dilma Rousseff (PT), que lidera a corrida presidencial. Já André terá em seu palanque o PSDB enfraquecido, com poucas lideranças de peso eleitoral, e um candidato a presidente, José Serra, que começou a perder fôlego no aquecimento da campanha eleitoral.
André, no entanto, terá em seu palanque 14 partidos, enquanto José Orcírio contará com apoio de 9 agremiações políticas. O batalhão do governador é bem superior não só de partidos, como também de lideranças com mandato. Hoje, 20 dos 24 deputados estaduais estarão engajados na reeleição de André, além de ficar com a metade dos 8 deputados federais.
O governador leva, porém, desvantagem no apoio de senadores. Dos três, apenas Marisa Serrano (PSDB) irá trabalhar pela sua reeleição. A senadora, no entanto, é hoje uma aliada sem expressão eleitoral em Mato Grosso do Sul. Ela é apenas uma grande liderança política do PSDB em nível nacional, mas isso não deve se transformar em voto para André, de acordo com as pesquisas eleitorais já divulgadas. Marisa sempre aparece na lanterninha numa eventual disputa ao Governo do Estado. O que soma é o seu partido, o PSDB, detentor de grande espaço no programa eleitoral gratuito no rádio e na televisão.
José Orcírio pode não ter grande quantidade de aliados como André, mas terá muito mais pesospesados em seu palanque. De um lado estará o líder das pesquisas para senador, Delcídio do Amaral (PT), e, do outro, o deputado federal Dagoberto Nogueira (PDT), apontado como forte candidato a senador.
Além disso, o candidato petista terá o apoio explícito do presidente Lula, com alta popularidade em todo o Brasil e, particularmente, no Estado. Outro pesopesado será a candidata a presidente, Dilma Rousseff, líder nacional da preferência do eleitorado.
Rivais históricos
Nesta guerra eleitoral, estarão mais uma vez se enfrentando dois rivais históricos da política do Estado, que ganharam projeção nas eleições de 1996 para a Prefeitura de Campo Grande. Naquela tumultuada e violenta eleição, André saiu vencedor das urnas por diferença de apenas 411 votos. Ele foi acusado de comprar votos e ficou dois anos no cargo “sub judice” (sob exame da Justiça) quando o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) considerou improcedente as denúncias do ex-governador José Orcírio.
Mesmo assim, as lideranças do PT estão convencidas da manipulação do resultado daquelas eleições. A campanha, na reta final, foi marcada por agressões e prisões de cabos eleitorais.
Dois anos depois, apresentando-se como vítima de injustiça nas eleições de Campo Grande, José Orcírio venceu a disputa para governador do Estado. Foi um resultado inesperado, porque ele estava enfrentando o mito da política estadual, Pedro Pedrossian, governador por duas vezes de Mato Grosso do Sul e uma de Mato Grosso. Pedrossian era disparado o grande favorito daquelas eleições. Do outro lado, estava então secretário estadual de Fazenda, Ricardo Bacha (PSDB), apoiado pelos grandes partidos, como o PMDB, PFL (hoje DEM) e outras agremiações da base de sustentação do governador da época, Wilson Barbosa Martins (PMDB). Bacha tinha apoio de quase todos os deputados estaduais, federais e de mais de 50 prefeitos dos 77 municípios.
A disputa eleitoral estava polarizada entre Pedrossian e Bacha e, na abertura das urnas, José Orcírio surpreendeu passando para o segundo turno com o candidato governista. Pedrossian ficou de fora e se aliou ao petista para derrotar Bacha. O candidato tucano perdeu apoio do ex-governador quando declarou, em entrevista coletiva, logo depois de conhecer o resultado do primeiro turno, que não queria o voto dos pedrossianistas. Quem levou vantagem disto foi José Orcírio e acabou vencendo Bacha por larga vantagem de votos.
No primeiro turno, Bacha obteve 309.330 (38,50%) votos no Estado, seguido de José Orcírio com 263.350 (32,77%) e Pedrossian, de favorito, caiu para terceiro lugar com 220.362 (27,42%) votos.
Virada no segundo turno
No segundo turno das eleições, José Orcírio virou o jogo e venceu Ricardo Bacha com larga vantagem de votos. Era a quebra de tabu da política de Mato Grosso do Sul com a eleição de um petista até então temido pelos conservadores.
José Orcírio saiu vitorioso com 548.040 (61,27%) e Bacha foi derrotado com 346.466 (38,73%) votos. Depois o petista foi reeleito, no pleito de 2002, vencendo mais um tucano: Marisa Serrano.
Em 2010, José Orcírio se reencontra com o seu maior adversário político, André Puccinelli, para mais um confronto eleitoral.