Campo Grande é uma bela cidade. A população tem orgulho dos seus traços de metrópole moderna.
Um fato no entanto está a merecer a atenção maior da nossa Capital: a selvageria no trânsito. Cinquenta mortes por ano, com duzentos postes de concreto danificados, aumento assustador dos atendimentos de emergência e de internações nos hospitais. Sessenta por cento dos acidentes com vítimas fatais envolvem motociclistas inconsequentes, sem falar dos motoristas imprudentes
Se a cidade está muito bem sinalizada e conta com equipamentos eletrônicos de última geração, por que os acidentes continuam aumentando de modo assustador?
Ouvi de uma autoridade pública que a solução seria multiplicar a sinalização da cidade. Não acredito nessa solução simplista, que só rechearia ainda mais os cofres públicos.
Esta semana transitava eu pela Duque de Caxias, rumo ao Aeroporto. Um detalhe me chamou a atenção. A avenida conta com uma pista especial e exclusiva para ônibus, ambulâncias e táxis. No entanto vi que um grande número de veículos, leves e pesados, inclusive motocicletas, usavam em alta velocidade a pista para eles proibida. Transgressores da regra, com imprudência e inconsequentes, ofereciam o que é de pior numa cidade: o espetáculo da anarquia, como se o povo não soubesse conviver com um mínimo de disciplina social.
No trajeto não vi nenhum agente de trânsito, orientando ou reprimindo os motoristas faltosos. Ausência completa da autoridade que poderia evitar que a imprudência continuasse a colocar em risco a vida de tantas pessoas.
Procurei saber o por que da ausência dos agentes de segurança. É sabido que uma cidade como a nossa, para que o trânsito seja bem administrado, deveria contar no mínimo com quatrocentos e cinquenta homens nas ruas.
Esta é hoje, agora, a mais significativa solução para toda essa violência. Mas contamos apenas com cento e cinquenta ou seja um terço do necessário. A proposta é conhecida, mas não é objeto de prioridade administrativa.
Os jornais noticiam em manchetes que a Presidência da República já colocou à disposição da nossa cidade cento e oitenta milhões de reais, para a melhoria da nossa estrutura de transporte. Fala-se em viadutos, novas vias asfaltadas, com muitos quilômetros de ciclovias, centenas de novos abrigos, aumento das estações de transbordo e muitas outras obras.
Esse grandioso investimento é uma dádiva para nossa Capital. Seria muito útil que significativa parcela fosse destinada para o aumento do contingente de agentes de trânsito, para tornar visível a sua presença em nossas ruas, não para multar, porque isso a parafernália eletrônica já faz muito bem, mas para orientar e garantir ao nosso povo segurança, poupando vidas que se perdem irresponsavelmente.
* Ex-prefeito de Campo Grande e ex-senador da República