Artigos e Opinião

Artigo

Abilio Leite de Barros:
E agora Mané?

Abilio Leite de Barros é produtor rural e escritor

Redação

08/09/2015 - 00h00
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E agora Mané? Nós que sonhamos com um Brasil de Glórias Mil, vamos chegar ao fim do caminho atolados nesse mar de corrupção? Um mar de merda que fede. Cabe-nos uma revolta, pois sempre nos pautamos em comportamentos honestos. E agora Mané? Vamos conviver ou aceitar esse políticos que quebraram a Petrobrás e roubaram bilhões dos cofres públicos? Bilhões Mané. Eu nem sei quantos zeros têm esses números do roubo. Acho que, no mínimo, cabe-nos reflexões ao lado da revolta que temo acabar sendo só nossa, pois  não sei quantos ainda têm caráter nesta pátria amada, salve, salve.

Vamos refletir: em primeiro lugar sabemos que o roubo sempre existiu. Já contei uma passagem quando fui secretário de educação em que o prefeito Plínio Barbosa Martins, em minha presença, expulsou com veemência  um safado que oferecia dinheiro para ganhar a concorrência num serviço de asfaltamento da cidade. Esse tipo de roubo energicamente afastado pelo Plínio é o mesmo que hoje o governo do PT promove em escalas inimagináveis para nós, os bestas desta nação. Vamos mudar Mané? As passeatas no último feriado mostram essa possibilidade.

Para evitar o roubo é urgente que sejam feitas privatizações das nossas empresas estatais, todas, todas, todas. A Petrobrás, que é um império, deverá ser fatiada para as vendas. Vendê-la de uma só vez poderá promover temores e tremores em nossa economia. Há exemplos de eficácia das privatizações: A Inglaterra, no governo da Margareth Thatcher, vendeu todas as empresas estatais e hoje está dando as cartas na Europa. Os Estados Unidos sempre foram os maiores produtores de petróleo do mundo e nunca tiveram um único poço estatal. Mas, nós latinos que adoramos adorar, somos tomados pela paixão em nossas decisões. A campanha “O Petróleo é nosso”, defendida patrioticamente por Getúlio Vargas e todos nós era uma manifestação típica do espírito latino apaixonado que hoje nos envergonha. Triste e burro.

O PT, partido fundado pela esquerda brasileira, sempre trouxe para a política o ideal muito louvável da luta para sanar as injustiças sociais. Mas estão ainda presos às idéias marxistas da luta de classes, cujo fracasso tem  sido exaustivamente demonstrado em mais da metade do mundo. Basta ver a  velha Rússia comunista e a de hoje. O mesmo pode ser visto em vários países europeus e asiáticos. Perto de nós podíamos ver a miséria de Cuba e, tristemente na Europa, o fracasso da chamada Alemanha Oriental comunista que conheci pessoalmente. Triste. Vê-se que o marxismo era uma proposta comprovadamente errada para um problema verdadeiro – as injustiças sociais que ainda hoje presentes em grande parte do mundo e entre nós.  Os fundadores do PT acreditavam no marxismo e traziam o falso sonho de que, ganhando as eleições  trariam para nós a solução da nossa pobreza e injustiças sociais. Trouxeram o roubo.
O móvel das vitórias petistas foi a conscientização imoral da elite do partido de que só se ganha eleições com dinheiro, isto é, comprando a opinião da massa votante. A mente petista levou o governo por esses caminhos, tirando dinheiro das empresas estatais, dinheiro nosso. Esse roubo é feito sem nenhum sentimento moral de culpa porque seriam os meios pelos quais acabariam com a miséria e desigualdade social. Esse raciocínio ilusório é absolutamente imoral. O roubo não pode ser admitido por qualquer ação. Roubo pede punição, pede cadeia, nada mais. Felizmente as nossas autoridades estão claramente dispostas a fazer isso, acabar com o roubo patriótico, mesmo porque nunca foram patrióticos, pois serviram mais para encher os bolsos dos desonestos políticos, eles mesmos.

Além disso é preciso lembrar as despesas da administração. Temos hoje 39 ministérios entupidos da gente petista. O governo conta hoje com 616.000 funcionários civis. Essa pode ser a causa maior da recessão em que estamos entrando. Ninguém sabe dizer os nomes dos 39 ministros da Dona Dilma, nem ela, que também não sabe como promoveu esse buraco de mais de 30 bilhões em nosso orçamento, promovendo a recessão. E ainda consegue sorrir diante da TV. 

E agora Mané, onde está a solução? Difícil indicar, mas o principal e iminente caminho é tirar essa gente do governo, essa gente do roubo patriótico e incompetente. Será que vamos ter que esperar as próximas eleições?

editorial

Violência contra a mulher e ações efetivas

Setores nostálgicos da sociedade ainda pregam o retorno a um modelo em que a mulher era silenciada, confinada ao lar e privada de voz pública

13/06/2025 07h00

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O mais recente Mapa da Segurança Pública, divulgado nesta semana pelo Ministério da Justiça, trouxe novamente um dado alarmante: o Estado de Mato Grosso do Sul continua figurando entre os líderes do ranking nacional quando o tema é violência contra a mulher. Trata-se de uma repetição trágica que vem se confirmando ano após ano, sem que haja sinais de uma reversão estrutural. Os números são um reflexo doloroso de uma realidade que exige, com urgência, uma abordagem séria, objetiva e comprometida por parte das autoridades.

O enfrentamento da violência contra a mulher exige mais do que discursos bem-intencionados. Ele exige dados, precisão nas políticas públicas e, sobretudo, vontade política. A primeira e mais óbvia necessidade é garantir que os agressores sejam punidos com rigor. Não por desejo de vingança, mas por um princípio essencial do Direito Penal: a punição eficaz tem função pedagógica e dissuasória. Onde há impunidade, há incentivo ao crime. Onde há resposta firme do Estado, há limites sendo reafirmados.

Mas a efetividade da lei não se mede apenas pela quantidade de anos previstos em uma pena. A lei só é respeitada quando é aplicada de forma real, rápida e visível. Isso requer mais do que papel e tinta — requer fiscalização, presença ostensiva, estrutura e recursos humanos preparados. Tudo isso custa dinheiro. E mais que isso: custa tempo, comprometimento e esforço coordenado entre o Executivo, o Judiciário, os órgãos de segurança e os sistemas de proteção social.

A verdade incômoda é que, sem vontade política clara e corajosa para enfrentar os agressores de mulheres, os números continuarão altos. Não se pode permitir que casos de violência sejam tratados com negligência ou relativismo, como se fossem apenas conflitos domésticos ou “questões privadas”. A omissão do poder público e da sociedade civil, em qualquer nível, é cúmplice da perpetuação da violência.

Além da resposta penal, há um desafio ainda maior: o da transformação cultural. É preciso romper com a cultura da subjugação das mulheres, que ainda encontra espaço em muitos setores da sociedade. Não adianta o Estado fazer campanhas sobre respeito e igualdade se, ao mesmo tempo, líderes religiosos ou comunitários reforçam discursos que colocam a mulher em posição de inferioridade. A sociedade precisa decidir, coletivamente, qual papel deseja dar às mulheres — e essa decisão deve ser baseada em igualdade, dignidade e liberdade.

É verdade que os tempos mudaram, e que hoje há mais autonomia feminina do que em décadas passadas. No entanto, setores nostálgicos da sociedade ainda pregam o retorno a um modelo em que a mulher era silenciada, confinada ao lar e privada de voz pública. Essa nostalgia que não respeita a autonomia da mulher — muitas vezes romantizada como “valores da família” — precisa ser encarada como parte do problema, e não como solução.

Reduzir a violência contra a mulher no Mato Grosso do Sul e no Brasil é possível. Mas isso exigirá ação efetiva, punição exemplar aos agressores, investimento público contínuo e coragem para enfrentar costumes nocivos à diginidade das mulheres ainda presente nas instituições e no cotidiano. Não há caminho mais curto — nem mais necessário.

ARTIGOS

Caetano canta música evangélica e o erro estratégico de setores progressistas

10/06/2025 07h45

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A cena é recorrente nos shows de Caetano Veloso: após sucessos consagrados de seu repertório, o artista entoa a canção “Deus Cuida de Mim”, do pastor Kleber Lucas. A resposta do público, composto em larga medida por admiradores laicos, progressistas e críticos do fundamentalismo religioso, é fria, por vezes, entremeada por vaias.

Muitos entendem essa escolha uma provocação deslocada, uma suposta concessão ao bolsonarismo, dado o histórico apoio evangélico à extrema direita. No entanto, essa leitura é, para dizer o mínimo, apressada e míope. Caetano não cede ao senso comum, mas propõe, pela via da música, uma reflexão profunda sobre escuta, alteridade e a complexidade da experiência religiosa no Brasil.

Reduzir os evangélicos à caricatura do reacionário militante é ignorar a pluralidade real e histórica desse campo e, no atual estado de coisas, incentivar a radicalização de muitos grupos.

Kleber Lucas, pastor batista, negro, progressista e oriundo de comunidade periférica no Rio de Janeiro (RJ), é um exemplo eloquente da riqueza que existe dentro do universo evangélico. Sua trajetória, marcada por pontes entre tradições religiosas, pelo respeito às culturas de matriz africana e pelo compromisso com a justiça social, destoa da retórica de ódio que contaminou setores das igrejas.

Quando Caetano escolhe cantar Kleber, ele o faz com plena consciência: não por ignorância sobre a força do bolsonarismo entre evangélicos, mas justamente para resgatar, em meio ao ruído, vozes que dissonam e que são invisibilizadas. Há, portanto, um erro estratégico e moral no impulso de vaiar Caetano. Rejeitar a canção e a sua proposta é rejeitar o convite a enxergar o outro em sua inteireza, com suas contradições e insurgências internas.

Ao zombar da religiosidade popular, sobretudo quando encarnada em sujeitos negros, pobres e periféricos, setores do campo progressista acabam por reproduzir o elitismo que denunciam e contribuem, inadvertidamente, para o isolamento de milhões de brasileiros.

O abandono simbólico das massas evangélicas, tratadas como um bloco homogêneo e retrógrado, é uma das razões pelas quais a extrema direita tem conseguido monopolizar esse campo. A política, afinal, não se faz só com razão: exige também empatia, imaginação e capacidade de escuta.

Cantar Kleber Lucas em um palco para o público majoritariamente progressista é, da parte de Caetano Veloso, um gesto político potente e perigosamente mal compreendido. Se a esquerda deseja cativar um público maior, precisa deixar de lado o conforto da superioridade moral e compreender, com generosidade e estratégia, a religiosidade do povo.

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