Artigos e Opinião

EDITORIAL

Abundância de maus exemplos e frustrações

Se as privatizações fossem realmente tudo aquilo que alardeiam, não teríamos, em um curto espaço de tempo, tantos maus exemplos e tantas frustrações coletivas

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Depois de quase duas décadas cobrando pedágio pela passagem na ponte sobre o Rio Paraguai, na BR-262, unicamente em troca da manutenção da estrutura de 1,2 quilômetro, a empresa que mantinha o caça-níquel no meio do Pantanal devolveu, em setembro de 2023, a ponte literalmente caindo aos pedaços. Durante mais de um ano e meio, o tráfego ficou em meia pista e até agora a reforma não foi feita.

Na BR-163 ocorreu situação parecida. Faz 11 anos que os usuários pagam pedágio e as benefeitorias são mínimas, possivelmente menores do que se a estrada tivesse ficado sob os cuidados do poder público. No começo deste mês, finalmente, foi assinado um novo contrato, e o compromisso é de que as promessas de 203 km de duplicação e 150 km de terceira faixa saiam do papel.

Isso, porém, ainda é esperança. Por enquanto, o que existe, de fato, é a frustração diante das promessas descumpridas. 

No setor de saneamento básico, a empresa que firmou parceria público-privada com a Sanesul deveria ter investido R$ 454 milhões desde maio de 2021 até agora em redes de coleta e estações de tratamento de esgoto. Porém, o que se vê é a estatal Sanesul se endividando e fazendo os investimentos prometidos pela iniciativa privada.

Em Campo Grande, os investimentos privados em saneamento até que ocorreram. Em troca, contudo, os consumidores pagam a mais cara tarifa de água e esgoto entre todas as capitais brasileiras. O consórcio do transporte coletivo, embora opere no azul, exige da prefeitura da Capital quase R$ 400 milhões na Justiça, sob a alegação de que o lucro deveria ser maior. 

Na área de saúde, está surgindo agora o mais recente capítulo da novela de seguidas frustrações da chamada terceirização ou privatização de serviços públicos. Em 2016, o governo do Estado assinou contrato com o Instituto Gerir para administrar o Hospital Regional de Ponta Porã.

Três anos depois, alegando que os serviços estavam instatisfatórios, rompeu e assinou com o Instituto Acqua. Agora, sob a alegação de que este instituto foi reprovado pelo Tribunal de Contas do Estado da Paraíba (TCE-PB), o governo de MS, mais uma vez, rompeu o contrato e assinou emergencialmente com outra ONG.

A proposta original previa que o Acqua ficasse por até 20 anos no hospital, o que, em tese, garantiria estabilidade no atendimento de um setor fundamental.

E, a não ser que ocorram mudanças na legislação ou que o TCE-PB mude de ideia, daqui a dois anos, o Estado também terá que romper com o Acqua em Três Lagoas, onde outro hospital foi repassado à instituição, que diz não ter fins lucrativos, mas recebe repasses bilionários e briga com unhas e dentes para conseguir mais e mais contratos pelo País. 

Nesta mesma esteira, apesar dos sucessivos contratempos com os hospitais do interior, ainda neste ano, o governo de MS promete terceirizar a administração do Hospital Regional de Campo Grande, em um negócio que terá validade por 30 anos e garantirá repasse inicial de R$ 158 milhões por ano à ONG que vencer a disputa na Bolsa de Valores de São Paulo (B3). 

Se as privatizações, ou seja lá qual o nome que se queira dar a elas, fossem realmente tudo aquilo que seus defensores prometem e alardeiam, não teríamos, em um curto espaço de tempo, tantos maus exemplos e tantas frustrações coletivas. Ou será que elas são firmadas para atender a interesses que a gente não consegue entender?

EDITORIAL

Risco sem seguro ameaça o agronegócio

O mais contraditório é que a contratação de seguro beneficiaria diretamente o produtor. Com menor risco envolvido, o acesso ao crédito seria mais barato

08/12/2025 07h15

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O dado revelado nesta edição – a queda na proporção de produtores rurais que contratam seguro agrícola em todo o País – é um alerta que não pode ser ignorado. Em um setor cada vez mais exposto a eventos climáticos extremos, instabilidade de mercado e riscos operacionais crescentes, reduzir a própria proteção é caminhar na contramão do bom senso e das melhores práticas internacionais.

Em Mato Grosso do Sul, pelo menos, o número de apólices aumentou.  A agricultura brasileira se tornou um dos pilares da economia nacional justamente porque incorporou tecnologia, gestão e previsibilidade.

Mas, quando o tema é seguro rural, o retrocesso é evidente. E esse movimento nacional não afeta apenas o campo: acaba transferindo à sociedade e ao Estado a missão de funcionar como uma espécie de seguradora informal do agronegócio.

A lógica é simples. Quando a adesão ao seguro diminui, aumenta a insegurança, tanto financeira quanto produtiva. E, na falta de uma rede formal de proteção, cresce a pressão política e econômica – para que o poder público intervenha.

O histórico recente confirma: secas, enchentes e quebras de safra frequentemente resultam em socorros governamentais, renegociações, descontos, novos subsídios e linhas emergenciais. O recado implícito é de que, mesmo sem contratar seguro, boa parte do setor espera que alguém absorva o impacto das perdas.

Porém, essa dependência crescente não é sustentável, e tampouco justa com o conjunto da sociedade que financia sucessivos aportes públicos.

O mais contraditório é que a contratação de seguro beneficiaria diretamente o produtor. Com menor risco envolvido, o acesso ao crédito seria mais barato, mais rápido e menos burocrático – com ou sem subsídio. O sistema financeiro precifica risco, e risco mitigado significa juros menores.

Ainda assim, muitos agricultores optam pelo caminho mais arriscado: produzir sem cobertura e, diante da quebra, recorrer à recuperação judicial. Esse recurso, que deveria ser uma medida excepcional, virou estratégia recorrente em algumas regiões.

Mas é realmente o remédio adequado? Tudo indica que não. A recuperação judicial não resolve falhas de gestão, não substitui planejamento financeiro e tem elevado custo operacional. Além disso, desgasta relações com bancos, fornecedores e parceiros.

E esse último ponto é decisivo. As instituições financeiras mostram disposição cada vez menor de participar de operações em que o prejuízo parece inevitável. Com o avanço das recuperações judiciais, cresce a resistência ao crédito rural sem garantias sólidas.

Isso deve redefinir o perfil do produtor rural do presente: será necessário planejar melhor, manter mais capital de giro, menos dependência de socorros e menos aposta na blindagem patrimonial – o bem que geralmente fica protegido nos processos de recuperação.

O agronegócio brasileiro tem força, capacidade técnica e protagonismo mundial. Mas, para manter esse lugar, precisa incorporar definitivamente uma cultura de gestão de risco. Sem isso, os avanços conquistados podem ficar reféns da imprevisibilidade que a própria modernização deveria ter superado.

ARTIGOS

Como estimular a leitura na era da inteligência artificial

Crianças que leem todos os dias não apenas têm um desempenho melhor em testes, mas também desenvolvem um vocabulário mais amplo, maior conhecimento geral e a capacidade de pensar de forma crítica

06/12/2025 07h45

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Formar novos leitores é uma tarefa cheia de desafios. Esse tema se torna mais difícil por conta das transformações tecnológicas, em que o acesso à informação é instantâneo e ilimitado. Infelizmente, essa facilidade em se obter informações não se traduziu em aumento do hábito da leitura.

Um estudo do Ministério da Saúde, publicado em 2023, mostrou que no Brasil 24% das crianças com até 5 anos não têm livro infantil ou de figuras em casa.

Pais e professores têm diferentes influências nesse processo. Os pais devem incentivar a leitura em casa desde cedo. Já o professor auxilia o aluno a desenvolver habilidades para que se torne um leitor.

Crianças que leem todos os dias não apenas têm um desempenho melhor em testes, mas também desenvolvem um vocabulário mais amplo, maior conhecimento geral e a capacidade de pensar de forma crítica.

A leitura é uma das habilidades que mais desenvolve o cérebro, porque ela é um processo de decodificação. É muito importante entender que o nosso cérebro não nasceu para aprender a ler e escrever.

Então, quando a gente faz esse processo de neuroplasticidade, abrem-se portas para se estruturar habilidades que são valiosas para outras questões do desenvolvimento, como, por exemplo, o vocabulário.

A leitura possibilita ter autonomia e conhecimentos em relação ao mundo. A escrita possibilita produzir conhecimento.

A queda no hábito traz um impacto cognitivo significativo, tanto em crianças quanto em adolescentes, porque limita todo o potencial, tanto em termos de neuroplasticidade quanto em termos de vocabulário, de expressão e de protagonismo do conhecimento.

Para torná-la mais prazerosa e acessível a estudantes com dislexia, TDAH ou outros transtornos, as estratégias têm que estar pautadas em um bom processo de alfabetização.

Habilidades como o conhecimento alfabético, a consciência fonológica, a nomeação automática rápida, o vocabulário, a compreensão oral e a memória fonológica se desenvolvem antes ou durante as fases iniciais da alfabetização.

Esses conceitos são essenciais, porque são habilidades que preparam e solidificam o processo de alfabetização e compreensão de leitura. E, no caso dos transtornos, isso precisa ser melhor trabalhado.

Esse hábito pode e deve ser resgatado em larga escala, começando por nós adultos. As crianças aprendem com o que elas veem, com o exemplo.

É muito importante mostrar pela nossa atitude, pela nossa valorização por menos tela e por mais tempo no livro, até porque o nosso cérebro é extremamente plástico, mas o cérebro depende de um ambiente que cultive essa prioridade.

Além disso, indico que busquem por temas de interesse da criança para que o hábito se torne mais atrativo e cativante. Compartilhe as histórias que gostava na infância, isso fortalece o vínculo. Visite livrarias e deixe-os escolher o exemplar que os atraiam. A leitura é um presente que pode e deve ser compartilhado de geração em geração.

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