Artigos e Opinião

OPINIÃO

André Bode Marcos: "Saddam Hussein, Bin Laden e as fake news"

Especialista em História do Brasil e Gestão Escolar

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Vivemos uma enxurrada de notícias e informações que, em alguns casos, são mentiras ou fake news, como se diz modernamente. Com a popularização das redes sociais e dos aplicativos de troca de informações via celular cada vez mais utilizados, a possibilidade de informações falsas e mentirosas cresce exponencialmente. Eleições são vencidas ou perdidas, carreiras artísticas e esportivas são comprometidas e até profissionais experientes do meio jornalístico e intelectual são alvos nessa rede. Mas se você pensa que essas situações são frutos da internet e da modernidade, engana-se. Historicamente, algumas fake news geraram extrema confusão para as pessoas das mais variadas épocas e sociedades.

Um exemplo aconteceu em 2003, durante a Segunda Guerra do Golfo. Os Estados Unidos acusaram o Iraque de possuir armas de destruição em massa, com o intuito de obter a autorização da ONU para invadi-lo. Mas de onde surgiu essa ideia?

Nos anos 1980, o ditador Saddam Hussein utilizou armas químicas na guerra contra o Irã e também para combater os curdos em seu próprio país. Mas quem teria fornecido essas armas, uma vez que o Iraque não tinha tecnologia para produzi-las? Nos anos 1990, com a Primeira Guerra do Golfo, o presidente George Bush, não conseguiu seu objetivo principal: derrubar o ditador Saddam Hussein do poder. Após os atentados de 11 de setembro de 2001, George W. Bush desencadeou uma intensa campanha para a guerra total contra o terror. Mas como associar o Iraque a Osama Bin Laden? Sob qual justificativa esse país seria invadido?

A imprensa estadunidense e inglesa diariamente “bombardeavam” a população com notícias sobre a capacidade do Iraque de construir armas químicas e até nucleares que um dia poderiam atingir o Ocidente. Na época, inclusive, foi apresentada uma animação que “provava” a existência de bases que fabricavam essas armas. Fato é que os inspetores da ONU nunca encontraram esses arsenais em suas inspeções no Iraque. Mesmo sem provas concretas, os Estados Unidos invadiram o Iraque e Saddam foi deposto e executado logo em seguida. E armas de destruição em massa?

As fake news não são de hoje – e até as mais inocentes e despretensiosas podem ser muito perigosas, pois a maioria das pessoas apenas aceita como verdadeiro e reproduze o que vê sem contestar ou confirmar. Mas neste mundo moderno, com as facilidades das redes sociais, como evitar que um parente receba pelo WhatsApp uma informação e a repasse no grupo da família como verdade absoluta? Veja alguns conselhos:

1) Não repasse alertas. Existem sites especializados e boletins confiáveis que divulgam alertas e denúncias sobre vírus, ameaças e vulnerabilidades de segurança.

2) Faça uma análise crítica do que receber. Tenha a curiosidade de entrar em buscadores e pesquisar sobre a suposta ameaça no “alerta” recebido. Se for mentira, rapidamente você encontrará várias páginas denunciando o falso alerta.

3) Por último, o e-mail, WhatsApp, Twitter, redes sociais pessoais não são meios confiáveis, nem tampouco adequados, de divulgação em massa. Lembre-se que estas informações no mundo digital ganham uma proporção incomodativamente maior, mais promíscua e, muitas vezes, criminosa.

ARTIGOS

Guerra em Gaza e a gestão de riscos políticos

05/10/2024 07h45

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O cenário de negócios internacionais está se tornando cada vez mais desafiador, refletindo-se na vulnerabilidade das operações logísticas, especialmente com o avanço da multipolaridade nas relações entre nações e o aumento de tensões e conflitos ao redor do mundo. No dia 7 de outubro, o confronto de Israel na Faixa de Gaza completa um ano, marcado por intensos combates que não só agravaram a crise humanitária na região, como também elevaram o risco de um conflito mais amplo no Oriente Médio, envolvendo outros países e potências.

Além das consequências humanitárias e políticas, o conflito impactou diretamente o comércio e a logística globais. Após o início das hostilidades, os Houthis – milícia que controla a maior parte do Iêmen e apoia a causa palestina – praticamente fecharam o Mar Vermelho para embarcações associadas a Israel e seus aliados. Até agora, mais de 70 ataques a navios nessa região foram registrados. A gigante dinamarquesa A. P. Moller-Maersk (Maersk) relatou que a interrupção no transporte de contêineres pelo Mar Vermelho afeta não só as rotas comerciais entre o Extremo Oriente e a Europa, mas também sua rede como um todo. Os ataques e o bloqueio ao estreito de Babelmândebe prolongaram o tempo de viagem e elevaram as tarifas de frete.

Outros efeitos econômicos também são visíveis: ao norte de Israel, mais de 200 mil pessoas tiveram de abandonar suas casas em função dos confrontos com o Hezbollah. A recente escalada das hostilidades entre o grupo libanês e Israel tomou proporções graves nos últimos dias, levando, inclusive, à entrada direta do Irã no conflito, escalada iniciada com uma operação no Líbano que detonou milhares de pagers fabricados na Hungria sob licença de uma empresa tailandesa e distribuídos localmente.

Nesse contexto, os impactos nas operações internacionais são notáveis, afetando principalmente as economias da Europa, dos EUA e de Israel. Os custos logísticos foram drasticamente elevados. Somente em setembro, as seguradoras mais que dobraram o valor do prêmio para cargas que cruzam o Mar Vermelho, subindo de 0,7% para 2% do valor transportado. Seguradoras menores, por sua vez, estão se recusando a assegurar cargas na rota ameaçada pelos Houthis.

Empresas da indústria de alta tecnologia com operações que passam por Israel, como a de semicondutores, também sentiram os efeitos do conflito. O principal porto israelense em Eilat está inoperante desde novembro, após os primeiros ataques no Mar Vermelho, enquanto grande parte da indústria local está paralisada, resultando em suspensões de entregas, cancelamentos contratuais e atrasos.

Dessa forma, a gestão de riscos políticos se torna um pilar estratégico essencial para empresas no cenário global. O trágico exemplo de Gaza pode se repetir em outras regiões, com impactos ainda maiores: tensões crescentes no Mar do Sul da China entre chineses e americanos, a escalada da guerra na Ucrânia, os conflitos na Península Coreana e no Mar do Japão, instabilidades na África Setentrional e Subsaariana e a disputa entre Venezuela e Guiana por Essequibo. Essas são apenas algumas ameaças que requerem atenção.

Medir os riscos com precisão também é complicado, em razão da dificuldade de prever eventos raros e entender suas intenções políticas. Ademais, empresas tendem a não revisar suas análises de riscos após o primeiro investimento, o que as deixa desatualizadas em um ambiente de rápida mudança. Por fim, comunicar os riscos é igualmente desafiador em função de diferentes perspectivas e interpretações que podem levar a decisões divergentes e a uma má compreensão.

Em razão da complexidade das cadeias globais, seja para um mercado local que vende queijo italiano, seja para uma montadora que opera uma rede logística global, é crucial estabelecer um sistema de gestão de riscos políticos. Esse sistema deve ser capaz de entender o contexto do negócio, analisar claramente os riscos envolvidos, mitigar adequadamente esses riscos com abordagens adequadas e estar pronto para responder a eventos que impactem o negócio.

Com a guerra de Israel em Gaza completando um ano, novos riscos emergem e os já existentes são ampliados. Qual será o impacto no preço do petróleo caso o Estreito de Ormuz seja fechado pelos iranianos? Decisões arbitrárias contra empresas israelenses ou que mantenham negócios com Israel são uma possibilidade? Poderão os EUA se envolverem em um conflito direto com o Hezbollah ou o Irã, gerando uma alta histórica no dólar? O fornecimento de fertilizantes israelenses ao Brasil pode ser interrompido com o agravamento da crise?

Ainda que ninguém espere que as empresas tenham respostas prontas para essas questões, o que se espera é que estejam preparadas para lidar com os riscos políticos e que, além desse contexto, saibam fazer seus próprios questionamentos sobre a cadeia em que estão inseridas. Seja para uma greve de colaboradores em uma planta local, seja para uma guerra em outro hemisfério, não é mais possível deixar de lado a gestão dos riscos políticos.

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ARTIGOS

Caminhos da vida

05/10/2024 07h15

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Muitos são os caminhos que se oferecem com o objetivo de alcançar logo o que propõem. Mesmo que não sejam aparentemente de grande valor, alguém assim os considera. Não importam as exigências. O que importa é o significado.

Para alguém poderá ser um simples objeto de uso pessoal. Para outro, poderá ser algo valendo altas somas, grandes propriedades e ricas jazidas de ouro. Para outros ainda, poderá não passar de um simples cartão, contendo, porém, a descrição de um diploma de grande valor. Seja qual for, sempre haverá alguém atribuindo um valor precioso.

Aos olhares comuns poderá continuar um simples papel ou uma pedra qualquer, mas, para quem souber do seu significado, terá sempre em mãos algo extraordinário. Saberá zelar pela sua validade, pelo seu poder e seu valor.

Esse relato nos leva agora a refletir, não sobre uma pedra nem sobre um papel, mas nos leva a olhar tantos seres humanos portadores de uma esperança tantas vezes ferida pela dor, pelo sofrimento e pelo abandono. Esperança esmagada, triturada pela fome, pela doença e pela exploração.

Se para o mundo é considerada feliz a pessoa bem-sucedida, materialmente rica, plena de saúde, ocupando altos cargos, viajando o mundo, homenageada em todos os lugares por onde passar, diante de Deus poderá ser muito diferente. Diante Dele, as honras serão reservadas aos corações pobres de espírito, desapegados de si e tudo fazendo pelo bem dos necessitados.

Se para o mundo são considerados felizes os que governam as nações, enriquecendo à custa da exploração dos mais empobrecidos, para Deus serão felizes os que souberem governar e administrar os bens terrenos com honestidade e retidão de consciência. 

Se para o mundo são admiradas as pessoas possuidoras de muitas riquezas e de muitas regalias, para Deus serão abençoadas por saberem fazer de suas riquezas a maneira nobre de auxiliar os necessitados, abrigar os peregrinos, consolar os doentes, dar abrigo aos desabrigados e transmitir esperança aos desanimados.

Se para o mundo a felicidade consistiria em se aproveitar dos mais fracos para subir na vida, tanto na vida social quanto na vida financeira ou na vida política, para Deus será feliz todo aquele e toda aquela que colocar seus dons a serviço do bem comum. Não querer para si, mas servir ao irmão.

Assim eram os primeiros cristãos. No livro dos Atos dos Apóstolos (4, 4-16), vemos o quanto se amavam, o tanto que queriam bem. Ninguém considerava seu o que ganhasse. Tudo colocavam aos pés dos Apóstolos. E esses distribuíam entre os mais pobres. E entre eles não haviam necessitados.

Se esses exemplos passassem em nossas casas e fizessem acontecer essa partilha de bens, a vida seria uma constante festa. Nela, cada qual procuraria ser mais justo, mais solidário e mais fraterno. Seguramente as necessidades se converteriam em solidariedade.

Se a humanidade fosse realmente humana, não haveria necessidade de campanhas contra a fome, campanha de vacinação, campanha para recuperar habitações e hospitais. O povo se sentiria solidário.

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