Artigos e Opinião

Cenas

André Luiz Alvez: "Teorema da calvície"

*Escritor, publicitário e ator ([email protected])

Redação

10/09/2015 - 00h00
Continue lendo...

O título dessa crônica tem a ver com a teoria do físico americano John Wheeler, na qual afirma que os buracos negros não têm cabelo. Mas não é disso que quero falar.

Semana passada, a crônica da Theresa Hilcar nos brindou com as atribulações que a escritora enfrenta com os cabelos. Li o texto no deleite do contraponto: sofro do mesmo mal, mas pela ausência.

Eu tinha uma cabeleira enorme, tipo cachopa, que cuidava com carinho. Num dia de muito calor, à beira de uma piscina, contei os passos, fechei os olhos e pulei. Quando voltei à tona, os amigos riam e eu não sabia o porquê, até que um deles, apontando para a minha cabeça, exclamou: você está ficando careca!

Fingi que não liguei, mas assim que se aquietaram, fui até o banheiro e constatei o estrago. Em contato com a água, a cachopa abriu uma cratera bem ao meio e restou um vão claro que tentei ocultar. Daquele dia em diante, eu já sabia que meus cabelos não resistiriam ao tempo. 

Lutei com diversas armas, de bosta de galinha preta a xampu importado, tudo em vão. Aos trinta anos já ostentava a falha nos cabelos, restando o estilo moicano às avessas, que me acompanha até hoje.

O mais estranho é que meu pai não era careca, nem meus irmãos. A teoria do castigo às vezes passa pela minha cabeça; talvez seja carma, a paga de algum pecado terrível. Costumo dizer que não sinto falta dos meus cabelos, mas minto; gostaria, sim, de ter cabelos, só pra poder cortá-los e mudar o visual, me transformar numa espécie de David Bowie pantaneiro, pintar de ruivo, loiro, o escambau, ou apenas para sentir o prazer de entrar numa barbearia e pedir: Jonas, corte americano, por favor! 

Hoje assumi a falha, mas não hesito em comprar chapéus, que depois não uso, porque incomodam e me sinto ridículo. Teve um momento que ameacei usar bandana, que estava na moda, Romário e o cara do Guns N’ Roses a estavam usando; comprei uma azul com detalhes dourados, coloquei na cabeça, me olhei no espelho, e o sentimento de completa aniquilação tomou conta de mim: nunca me senti tão ordinariamente ridículo.

 Certa vez, logo que a calvície surgiu, sofri um grande constrangimento num ônibus, quando passei pela catraca e segui em frente, distraído, até o cobrador me chamar: “Ei careca, você se esqueceu de pegar o troco”; e todo mundo olhou para mim. Senti-me uma espécie de gnomo.

 Recentemente, fiquei sabendo que os japoneses criaram um produto que faz os cabelos renascerem. Estou ao aguardo que logo chegue ao Brasil, mesmo que pulse a dúvida: se depois de tanto tempo irei me acostumar com a cabeleira.

 Talvez, finalmente, eu chegue à conclusão que melhor mesmo é a calvície e, de pronto, tenha em mãos navalha e tesoura. Se nem os buracos negros, que são os buracos negros, não os têm, por que eu, um simples humano, haveria de ter cabelos? 

Certo está um amigo que sofre do mesmo mal e bate no peito, ao afirmar: “Se cabelo fosse bom, não nascia no sovaco”.  É isso, o resto é teoria. 

*Escritor, publicitário 
e ator ([email protected])

ARTIGOS

Melhor idade: um convite para grandes aventuras

03/12/2024 07h45

Arquivo

Continue Lendo...

As pessoas necessitam de um período para reavaliar as escolhas, explorar novos interesses e adquirir experiências inovadoras. O termo sabático, oriundo do hebraico shabat, está relacionado à tradição judaica de descansar a terra a cada seis anos de cultivo ininterrupto. Na terceira idade, um momento de pausa pode ser especial. Não é uma decisão fácil ou imediata, mas sim fruto de um processo de autoconhecimento e de estar disposto a sair da zona de conforto (ou de desconforto), enfrentando medos e desafios. Para que o projeto se torne exitoso, há três palavras fundamentais: antecedência, organização e planejamento.

Compartilho aqui a experiência que tive com meu marido, Paulo, de nosso período de pausa, após eu pedir afastamento do cargo de gestão que exercia há mais de 10 anos. Apesar de gostar imensamente do que fazia, não desvinculava o cansaço e o estresse que sentia a esse trabalho. Essa constatação me fez refletir e ver que era hora de “passar o bastão”, não sem antes praticar o desapego. O que fazer? O mundo tinha aberto as portas e o céu seria o limite!

Quantas possibilidades! Depois de várias “tempestades de ideias”, decidimos viajar por aproximadamente seis meses para a Europa em 2018, guiados por interesses comuns em história, cultura e arte do Velho Mundo.

Iniciamos a jornada pela Inglaterra e tivemos a oportunidade de conhecer e de interagir com pessoas de várias partes do mundo. Todo o roteiro foi em função do desejo de conhecermos as grandes obras de arte, como as contidas no British Museum, na capital inglesa, no Museu do Prado, em Madri, e no Louvre, de Paris, além de patrimônios históricos e culturais da humanidade, em lugares como Portugal e Alemanha. As vivências espirituais foram outro ponto alto do passeio, em espaços como a Sacré-Coeur, de Paris, o Self Realization Fellowship, de Dublin, e o templo de Neasden, em Londres.

Ao término de nossa viagem, voltamos com uma bagagem extraordinária de vivências e de conhecimentos que gostaríamos de passar para outras pessoas. Descobri o prazer de escrever e publiquei dois livros sobre a experiência, e Paulo entrou para o ramo do turismo. Valeu a pena? Muito!

Essa decisão precisa ter uma razão e um propósito, um plano de ação muito bem estruturado, com definição do tempo da pausa, do destino, dos custos e da preparação para o retorno, garantindo que essa experiência se reverta em crescimento pessoal ou profissional. Desperte sua criatividade e explore potencialidades que talvez nunca tenha imaginado, permitindo-se um período de pausa transformador!

Assine o Correio do Estado

ARTIGOS

Recomendações de Herman Benjamin para os juízes

03/12/2024 07h30

Arquivo

Continue Lendo...

Sempre tive uma vontade grande de conhecer pessoalmente o ministro presidente do STJ, Herman Benjamin, paraibano de Catolé do Rocha, e conversar com ele para beber seus vastos conhecimentos jurídicos, filosóficos, teológicos e humanitários tão importantes para sedimentar as suas sentenças e engalanar a cátedra onde sustenta com absoluta competência. Esse sempre foi um dos meus acalentados sonhos.

O ministro está tão próximo da minha cidade Ponta Porã e não pude concretizar essa aspiração em razão da fragilidade da minha saúde. Mas as oportunidades se renovam e quem sabe um pouco mais à frente poderei concretizar esse desiderato precioso. Mas é certo também, em outra vertente, que as suas decisões inseridas nos anais dos tribunais por onde peregrinou e ainda peregrina são sábias e pedagógicas e de valor inigualável. Não são conversas vazias e destituídas de fundamentos esse indicativo lançado pelo articulista. 

São provas robustas e insofismáveis emanadas daqueles que verdadeiramente amam o Direito e ainda consagram a sua vida inteira a serviço da Justiça como instrumento fomentador da paz social. Sim, porque o Direito, embora seja uma ciência abstrata, ele atrai, seduz e nunca chega a satisfazer a inteligência do seu estudioso diante da sua grandeza e do alcance dos seus propósitos.

Desde que nascemos, com o registro de nascimento, até quando morremos, com o atestado de óbito, tudo o que fazemos ou realizamos no curso da nossa peregrinação terrena está regulamentado por normas, regulamentos, portarias, decretos e leis que formam o nosso ordenamento jurídico. Base fundamental para referendar a justa distribuição da Justiça sempre que esse reclamo bater às portas dos juízos, instâncias ou tribunais.

Nessa linha de pensamento e de coexistência pacífica entre o Estado e a sociedade civil organizada surge o Judiciário como instrumento valioso para assentar a paz social, sobretudo quando foi esse o propósito do Estado para chamar para si a responsabilidade de distribuir a Justiça. Como o Estado se trata de um ente abstrato, ele mostra a sua face na pessoa física do juiz como responsável pela aplicação da Justiça. Não pode existir nada mais sublime do que isso. 

Consolidar a paz social com a aplicação da norma jurídica capaz de serenar os ânimos dos que buscam na Justiça o último guardião para a defesa dos seus direitos. E isso se torna mais evidente quando se constata a lisura dos nossos juízes, suas condutas morais, culturais, sociais, éticas e jurídicas no contexto da sociedade em que convive, como expressão maior para conquistar a respeitabilidade dos seus jurisdicionados.

Na primeira entrevista que concedeu, e que está estampada nas páginas amarelas da edição da Veja de setembro/24, disse a cada jovem magistrado com quem se encontra que a ambição da riqueza material ou quem sonha com um emprego glamouroso não deve ser juiz, estará na profissão errada. E sentenciou dizendo que o juiz no exercício da sua função judicante nunca será rico, e quem quer ser rico, não deve fazer concurso para juiz. 

Foi o desabafo diante de tantos tormentos que sacudiram os tribunais estaduais com os afastamentos de desembargadores de seu ofícios judicantes. Mas esse desejo enlouquecido que embrutece o ser humano não reside apenas nos limites do Judiciário. Outras tantas instituições sofrem com esse pesadelo. Nem o papa Francisco com o seu colégio de cardeais rebelde, e de outros tantos padres que se utilizam da sotaina para destruir sonhos justos e santos, vive momentos do seu pontificado sem tormentos. 

Em razão desses ditames, a nossa Carta Constitucional, para evitar essa vontade condenável, reservou aos integrantes do Judiciário as garantias constitucionais da vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de vencimentos como instrumentos robustos para enfrentar os poderosos e vencer os desafios que todos os dias surgem na sua rotina de trabalho.

Parabéns ao nosso Estado, que recebe as mais altas autoridades do Judiciário brasileiro pelo colóquio. Parabéns a nossa sempre linda Campo Grande, terra de José Antônio Pereira, plantador de uma cidade de gente honesta, trabalhadora e que respeita a ordem, a lei e as autoridades constituídas. 

Assine o Correio do Estado

NEWSLETTER

Fique sempre bem informado com as notícias mais importantes do MS, do Brasil e do mundo.

Fique Ligado

Para evitar que a nossa resposta seja recebida como SPAM, adicione endereço de

e-mail [email protected] na lista de remetentes confiáveis do seu e-mail (whitelist).