Não sei se é do conhecimento de vocês que a partir de 2016, isto é, daqui a seis meses, todas as crianças de quatro anos de idade, que nasceram em 2011, terão que ser matriculadas em instituições de ensino, porque a educação básica obrigatória e gratuita, no Brasil, passará a ser de 13 anos (dos quatro aos 17 anos de idade). Pela primeira vez, essa obrigatoriedade incluirá a pré-escola e o Ensino Médio. Consequência da Emenda Constitucional nº 59/2009, que deu o prazo de sete anos para que todos os municípios preparassem suas escolas para receber essa nova faixa etária - (deverá ser implementado progressivamente, até 2016, nos termos do Plano Nacional de Educação, com apoio técnico e financeiro da União). Portando, não será mais opção dos pais matricular suas crianças pequenas, sob penas legais para quem descumprir a lei.
Infelizmente não vejo essa discussão vir à tona no meio dos gestores e educadores. Isso é muito sério! Para os profissionais, como eu, que defendem a infância como o período de desenvolvimento pleno, nos aspectos físico, motor, afetivo e emocional, essa mudança pode se transformar em uma catástrofe. A criança de quatro anos precisa ser acolhida por uma escola preparada, com salas espaçosas, ambientes internos e externos adequados, materiais e professores qualificados para oferecer a esse ser, em formação, a educação infantil, na pré-escola. É na infância que o cérebro humano desenvolve a maioria das ligações entre os neurônios. Até os três anos, 100 bilhões de células cerebrais com as quais a criança nasce, desenvolvem um quatrilhão de ligações! Aos quatro anos a criança já atinge a metade de sua capacidade intelectual.
Não podemos desperdiçar esse período. Não é porque entrou na escola que ela precisa aprender a ler, escrever e contar. Se colocarem livros, lápis e papel na mão delas estarão cometendo um crime, que eu chamo de massacre cerebral. Ao permitir que a criança queime etapas, impedindo que ela viva a sua infância, estaremos todos, coniventes com a oficialização da escolarização precoce. A responsabilidade agora passa a ser dos pais, que precisarão escolher e fiscalizar esse atendimento. A pergunta é: estarão preparados?!
Outra questão, não menos séria, é que se os municípios não deram conta de atender a demanda das crianças de 0 a 3 anos de idade em creches, direito constitucional atrasado há 27 anos, imagine se terão condições orçamentárias para atender toda a demanda das crianças de quatro anos?! Sem esquecer que o governo federal cortou 9 bilhões de reais para a educação e que o país só conseguiu até hoje, atender 23% de crianças em creches, prorrogando, no novo Plano Nacional de Educação (2010-2020), o atendimento de 50% dessa demanda para 2020, já que não conseguiu cumprir a meta estabelecida no Plano Nacional de Educação anterior, que era até 2010! Com isso, o MEC assina o atestado de fracasso e incompetência.
O perigo está em algum prefeito e ou secretário de educação, despreparado ou esperto, usar o espaço da creche (que ainda é opção da família e direito da criança) para atender a essa nova demanda obrigatória, arrumando vagas à custa de excluir as crianças de zero a 3 anos das instituições de educação. Lembro aqui que não pode.
Não pode vestir um santo descobrindo o outro! Cada vez mais os pais precisam estar atentos. Se o ensino é obrigatório para as crianças a partir de 4 anos, é direito constitucional para as de zero a 3 anos. Apenas uma certeza, com a obrigatoriedade de matricular seus filhos de apenas 4 anos de idade, as famílias são chamadas a discutir, acompanhar, avaliar e exigir que os pequenos sejam tratados como crianças e na pré-escola, com tudo que têm direito – parque infantil, brinquedos, tintas e massas coloridas, histórias, músicas, jogos, muita brincadeira e professores qualificados...Exigir uma educação infantil de qualidade, que quase não vemos por aqui!