Os congressistas brasileiros travaram uma batalha parlamentar notável para aprovar a instituição do Divórcio em nosso País. A luta foi titânica. Ao se promulgar a Emenda Constitucional Nº. 09, de 29 de junho de 1.977, de autoria do ilustre senador pelo Rio de Janeiro, Nelson Carneiro, subscrita pelo senador Acioly Filho e mais 158 parlamentares à época dos fatos, parecia que as duas mãos pesadas de Deus desabariam sobre todos os casais brasileiros que romperam a relação conjugal mandando-os para o fogo do inferno. Tornaram-se malditos, discriminados, expulsos da sua convivência espiritual e não puderam mais receber um dos sacramentos referendados pela Igreja Católica, a comunhão. Um absurdo, algo inacreditável para o vivente, à época, que estaria prestes a romper um novo milênio e iniciar um novo século.
Foi assim que se manifestaram os segmentos mais retrógrados da instituição secular porque não dava aos seus fiéis a liberdade de pensamento e também porque se achava sabedora da verdade, e não aceitavam outros pensadores nem mesmo a força da ciência. Mas dessa luta dramática resultou vencedor o bom senso. Claro, nenhum casamento legitimamente constituído e as uniões conjugais que também possuem a tutela da lei deveriam falecer por manifestação de seus protagonistas principais, os cônjuges, se algo substancialmente forte não ocorresse no curso da sua duração.
Quando isso acontece, a união conjugal desaparece. Já não tem mais sentido uma união de “ fachada “ apenas para satisfazer as exigências sociais, com graves consequências para a prole. A coragem para tomar um novo rumo não pode ser em nenhuma circunstancia motivo para o constrangimento; para a humilhação; para a discriminação e o desrespeito. Os divorciados não são o retrato do satanás. Nada disso. Eles são rigorosamente iguais aos demais que resultaram felizes em seus casamentos. Não existem entre eles diferenças nos sentimentos, nas emoções, nas paixões, no altruísmo, na solidariedade e, na grandeza de seus propósitos. Em razão disso o Papa Francisco em mais um de seus belos pronunciamentos voltou a encantar o mundo cristão ao sustentar que os divorciados que voltam a se casar “ seguem fazendo parte da Igreja “ e não devem ser tratados como excomungados.
Na verdade, o líder máximo da Igreja Católica em todo o mundo não inventou nenhuma concepção ou mesmo entendimento diferente daquela comungada pela camada mais altruísta da população mundial. Afinal, a quem interessa a família fragmentada, machucada pelas trocas de insultos, de acusações mórbidas, de sevícias e maus tratos entre os seus cônjuges ? Não interessa a ninguém com certeza. Nem à própria família, nem à moral, tampouco às religiões, muito menos aos bons costumes. Ao Estado, em última instancia é que não vai haver nenhum interesse. Na parábola do Bom Samaritano, Jesus ensinou que não devemos ser alheios aos sofrimentos dos nossos irmãos, mas assumir com caridade e respeito suas necessidades. Essa parábola é maravilhosa e enriquecedora porque o Cristo, se associa a todos que passam pela provação do sofrimento, que são discriminados e que podem e devem muito bem ser incluídos aí os divorciados que também foram protagonistas de momentos de dor e de angustia. A vinda de Francisco para chefiar a Igreja Católica foi salutar para a vida da humanidade nessa quadra de tormentos, de dores e de angustias que constantemente rondam os lares pelo mundo inteiro. Nesses seus sábios pronunciamentos constatamos esculpidos em seus sentimentos mais elevados o desejo de mostrar para todos nós que precisamos ter vida para viver, mas sobretudo, que temos que ser partícipes da sociedade com o nosso pensamento sempre voltado para servir o nosso semelhante.