Artigos e Opinião

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Antonio Carlos Siufi Hindo: "Discrição"

Promotor de Justiça aposentado

Redação

24/08/2017 - 02h00
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As declarações prestadas pelo eminente desembargador Thompson Flores, presidente do Tribunal Federal de Recursos da 4ª Região, com sede na cidade de Porto Alegre, sustentando ser tecnicamente “irrepreensível” a sentença prolatada pelo juiz Sérgio Moro, que condenou o ex-presidente Lula à pena de nove anos e seis meses de reclusão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, não se coadunam com a sua nobre função de julgar.

 A palavra “irrepreensível”, colocada pelo ínclito desembargador, indica, em qualquer dicionário da língua portuguesa, algo perfeito. Essa interpretação resulta equivocada. Ela não guarda nenhuma consonância com a nossa realidade na área jurídica. Juiz não é Deus. Ele é um ser humano como qualquer outro. As suas decisões podem ser passíveis de reforma. A hermenêutica jurídica dá o respaldo necessário para outros julgadores prolatarem outras decisões sobre o mesmo caso. Daí a cautela nas declarações.

O ofício de magistrado resulta inconfundível. Ele é o retrato fiel do sacerdócio. A sua decisão vai ter reflexos profundos na vida do cidadão. Por isso, as suas ações precisam ser discretas no ato sublime de julgar. Quando as suas ações marcham em direção oposta, resultam surpreendentes e provocativas. As ações discretas de qualquer pessoa costumam ganhar a preferência da nossa população. 

No campo da Justiça, ela sobressai. Ela evita os transtornos que podem provocar desconfiança, comprometendo a força da própria autoridade judicante. O desembargador pode ter os motivos fundados para exarar a sua opinião. A opinião é dele. É o seu direito de exteriorizar o seu pensamento e este precisa ser respeitado. Mas não é essa a interpretação do povo nas ruas. Ela aponta para a indignação. Qualquer enquete de opinião pública séria respaldará esse entendimento.

As palavras marcam as pessoas. As opiniões e os elogios, aliados às outras tantas considerações sobre o processo e as partes litigantes, precisam ser exteriorizados nos autos do processo. É assim que determina a nossa legislação processual. É dentro do processo que precisam surgir os despachos e as decisões judiciais. Tudo precisa ser fundamentado. Os dispositivos legais regularmente apontados. Fora desse contexto, qualquer tipo de comportamento desqualifica a Justiça. A sua rápida, séria e honesta distribuição foi o compromisso que o Estado assumiu com o seu cidadão. 

Os juízes são os seus instrumentos qualificados na aplicação da lei. A sua preparação técnica, aliada à conduta moral ilibada, aponta para essa direção. As outras instituições que os auxiliam na salutar distribuição da Justiça formatam o quadro consagrado pelo Estado Democrático de Direito. Aqui repousa o seu alicerce inexpugnável. As conversas sem nenhum sentido prático só concorrem para aumentar a desesperança na Justiça. Tem sentido esse espírito de revolta. Os noticiários transmitem todos os dias essa incerteza e insegurança quanto às divergências das decisões judiciais.

O caso do médico que molestou algumas centenas de mulheres em seu consultório é a prova mais inequívoca dessas interpretações. Decisões judiciais conflitantes não são bem recebidas pelo cidadão. Outras decisões em que os juízes desafiam entre si a força da sua autoridade só provocam mal-estar na sociedade. É uma realidade muito triste de se constatar. O bom senso indica isso. A insegurança jurídica é o pior de todos os caos. 

Quando, então, os juízes emitem suas opiniões a respeito de processos em que podem atuar, o tormento é ainda mais grave. Juiz falante produz decisões temerárias. O sabichão é a fotografia explícita da arrogância e da soberbia. A regra vale para todos os operadores do Direito. Todos são soldados da Justiça. O juiz precisa julgar os processos segundo os ditames da sua consciência. Nada mais. Essa conduta depende de cada um. O bom senso é o grande aliado a esposar esse entendimento. A Justiça, boa e eficaz, precisa muito disso. O jurisdicionado, sobretudo.

ARTIGOS

O poder e as narrativas

04/01/2025 07h45

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Anos atrás escrevi um pequeno livro intitulado “Uma Breve Teoria do Poder”. Hoje está na quarta edição, veiculado pela Editora Resistência Cultural, que se notabilizou pela primorosa apresentação gráfica de suas edições. As edições anteriores foram prefaciadas por dois saudosos amigos: Ney Prado, confrade e ex-presidente da Academia Internacional de Direito e Economia, e Antonio Paim, confrade da Academia Brasileira de Filosofia. A atual tem como prefaciador o ex-presidente da República e confrade da Academia Brasileira de Direito Constitucional, Michel Temer.

Chamo-a de “Breve Teoria” por dedicar-me mais à figura do detentor do poder, muito embora mencione as diversas correntes filosóficas que analisaram a ânsia de governar, através da história.

Chamar um estudo de breve é comum. Já é mais complicado chamar uma teoria de breve. As teorias ou são teorias ou não são. Nenhuma teoria é breve ou longa, mas apenas teoria. Ocorre que, como me dediquei fundamentalmente à figura do detentor do poder, e não a todos os aspectos do poder, decidi, contra a lógica, chamá-la de “Breve Teoria”.

Desenvolvi no opúsculo a “Teoria da Sobrevivência”. Quem almeja o poder, luta, por todos os meios, para consegui-lo e, como a história demonstra, quase sempre sem ética e sem escrúpulos. Não sem razão, Lord Acton dizia, no século 19, que “o poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente”.

Ocorre que, no momento que o poder é alcançado, quem o detém luta para mantê-lo por meio da construção de narrativas, cada vez tornando-se menos ético e mais engenhoso, até ser afastado. As narrativas são sempre de mais fácil construção nas ditaduras, mas são comuns nas democracias e tendem a crescer quando elas começam a morrer.

A característica maior da narrativa é transformar uma mentira em uma verdade e torná-la para o povo um fato inconteste, ora valorizando fatos irrelevantes, ora, com criatividade, forjando fatos como, aliás, Hitler conseguiu com a juventude alemã com a célebre frase: “O amanhã pertence a nós”.

Nas democracias, a luta pelo poder é mais controlada, pois as oposições desfazem narrativas e os Poderes Judiciários neutros permitem que correções de rumo ocorram. Mesmo assim, as campanhas para conquistar o poder são destinadas não a debater ideias, mas literalmente destruir os adversários. Quando Levitsky e Ziblatti escreveram “Como as Democracias Morrem”, embora com um viés nitidamente a favor do partido democrata, desventraram que as mais estáveis democracias do mundo também correm risco.

O certo é que, através da história, os que lutam pelo poder e os que querem mantê-lo, à luz da teoria da sobrevivência, necessitam de narrativas, e não da verdade dos fatos, manipulando-as à sua maneira e semelhança, com interpretações “pro domo sua” das leis, reescrevendo-as e impondo-as, quanto mais força tem sobre os órgãos públicos, mesmo nas democracias, e reduzindo a única arma válida em uma democracia, que é a palavra, a sua expressão menor, quando não a suprimindo.

É que, infelizmente, há uma escassez monumental de estadistas no mundo e um espantoso excesso de políticos cujo único objetivo é ter o poder e, quando atingem seu objetivo, terminam servindo-se mais do que servindo ao povo, pois servir ao povo é apenas um efeito colateral, e não obrigatoriamente necessário.

Os ciclos históricos demonstram, todavia, que, quando, pela teoria da sobrevivência, os limites do razoável são superados, as reações fazem-se notar, não havendo “sobrevivência permanente no poder”. As verdades, no tempo, aparecem, e, perante a história, as narrativas desaparecem e surge “a realidade nua dos fatos”.

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Caminhos da vida

04/01/2025 07h15

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Novo ano. Novos caminhos. Novos sonhos. Novas esperanças. Com certeza serão muitas as pessoas olhando pela porta desse novo ano com uma maneira nova de olhar. Estarão mais cautelosas ao planejar e ao decidir em seus negócios e em seus projetos.

Esperemos que as lições do ano que findou sirvam de ponto de referência para os novos projetos, até mesmo para os caminhos dos sentimentos do coração e das forças da fé. Pois tudo o que acontecer será para o crescimento dos relacionamentos e das partilhas dos bens e da comunhão de vidas.

Esses sentimentos e essas atitudes serão sempre motivos no crescimento pessoal e comunitário das obras e das opções pela vida e pela fé. A palavra deus será a luz para quem se encontra na busca e será alimento seguro para quem se puser a caminho da felicidade. Mostra que, enquanto houver sonhos, haverá esperança. 

Assim acontecerá ao chegar até nós a palavra do escritor sagrado. Assim será a maneira de Deus se revelar ao mundo. Os seres humanos têm sua maneira. Deus também tem seus momentos e suas maneiras. Não haverá comparação. Haverá isso sempre, maneiras próprias e muito pessoais quando fala aos seres humanos.

Assim ele se revela em uma de suas cartas (Ef. 4, 30-45): “Não entristeçam o Espírito Santo de Deus. Toda a amargura, toda a irritação sejam desterradas do meio de vocês. Afeiçoem-se do bem e do amor. Sempre que houver razões de queixa de uns pelos outros, perdoem-se, assim como Deus sempre perdoa. Vivam na concórdia e na harmonia”.

E o autor sagrado continua dizendo: “Evitem o mal. Amem o bem. Principalmente eliminem entre vocês toda a discórdia e todas as ofensas. Edifiquem a misericórdia e o perdão. Progridam na caridade a exemplo de Jesus Cristo que em tudo nos amou e sempre se entregou como oferta sagrada e perfeita”.

O exemplo permanece e permanecerá sempre vivo e edificante. Nada guardou para si. Tudo sacrificou por amor e pelo resgate de tantos prisioneiros da maldade desse mundo. Em tudo deixou sua marca de doador do bem e da graça. E tudo na gratuidade.

As portas do novo ano estão se abrindo em nossa frente. A esperança de dias melhores, não apenas diferentes, deverá alimentar a esperança, o bem, marcar o pensar e o agir de cada ser humano. E que em tudo possa se orgulhar de ter o rumo correto em seu viver e em seu agir iluminado pela fé em Deus.

Entramos no caminho do otimismo. Nele, não haverá espaço para os pessimistas. Não haverá também para os medrosos, os inseguros e para os descrentes. Não haverá lugar ainda aos vingativos e para quem guarda mágoas ou invejas. Para esses, permanecerá um vazio do tamanho de sua fragilidade em acreditar.

É preciso acreditar no Deus misericórdia, no Deus bondade e no Deus generosidade. É preciso acreditar no Deus que acredita em todos. Mesmo os que não creem nele. Ele os ama e neles confia pelo simples motivo de ter um coração bom e uma alma generosa.

Ano novo. Alma renovada. Espírito novo. Sentimentos renovados. Em tudo manter a pureza no ser, o correto no agir. E Deus nos abençoe.

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