Não existe gratidão maior do que a reverência que prestamos aos nossos mortos. O dia 2 de novembro está reservado em nosso calendário civil para o exercício pleno dessa homenagem. O mundo inteiro reverencia seus mortos. Os egípcios construíram suas pirâmides gigantescas para guardarem os restos mortais de seus faraós. Quéops, Quéfren e Miquerinos foram os seus maiores. A Europa de Lisboa a Moscou sepulta os seus mortos em cemitérios que são verdadeiros cartões-postais. Roteiro obrigatório para os turistas. Uma bonita herança cultural.
Trata-se de um compromisso firmado com a consciência dos seus governantes e com a chancela dos seus cidadãos. Evidência singular do respeito. Semana passada, os franceses sepultaram Jacques Chirac. Seus restos mortais descansam em um cemitério que é uma verdadeira obra de arte. Em todos os cantos da Europa temos esse exemplo. As cafeterias, as floriculturas, os restaurantes, as apresentações literárias e artísticas são as suas grandes atrações. As crianças têm no seu calendário escolar anual as visitas regulares nesses campos santos. O objetivo principal é conhecer a história dos construtores da Pátria. Forma elegante e preciosa de cultivar a cidadania. Com esses gestos, simples se molda o caráter e define a personalidade dos cidadãos.
A reverência aos mortos é secular. São os verdadeiros construtores dos nossos rincões. Não almejamos nada desse luxo e desse requinte. Seria uma utopia acreditar nessa possibilidade. Pretendemos apenas um espaço limpo e digno para reverenciarmos nossos mortos. Os nossos cemitérios públicos, com raríssimas exceções, retratam um quadro de absoluto horror. Trata-se da mais pura verdade. O tema é delicado, angustiante e desafiador. Não podemos dele fugir. A nossa omissão, afrontará a nossa consciência e deixará vulnerável o nosso propósito altruísta. Os cemitérios administrados pela iniciativa marcham em outra direção. Oferecem mais dignidade e respeito aos mortos. Não era para ser assim. As classes sociais aliada à força econômica das pessoas falecidas não podem diferenciá-los. Nem mesmo os sarcófagos que são construídos podem ter esse condão. Todos são absolutamente iguais.
Não levam nada da vida terrena. Essa é a grande reflexão que oferecemos aos gestores públicos. A força desse propósito precisa alcançar a nossa população. Ela tem o seu grau de responsabilidade. A nossa opinião tem o caráter construtivo. As evidências dos descasos nos campos santos, esparramados em todos os quadrantes do nosso Estado evidencia esse desastre. Estão à vista de todos. Todos os dias. Sepulcros violados, bens saqueados, restos mortais ultrajados, ossadas expostas, sanitários fétidos, imundos e nojentos. O matagal fecha esse triste espetáculo. Esse quadro aviltante não tem o seu epílogo nesse retrato amargo. Outras cenas estarrecedoras mostram o descaso com os nossos campos santos públicos. Seus umbrais são violados pelas ações insanas de drogados, prostitutas e cafajestes. De todas as espécies. Não temem a Deus. Agem dessas forma criminosa por absoluta falta de segurança nesses prédios públicos. As nossas famílias precisam ser as grandes aliadas do Poder Público nessa grande batalha. Trata-se de uma batalha gigantesca e meritória. Vale apenas a união de esforços. O objetivo é sagrado. Levar a dignidade para aqueles que não tem mais como reagir, gritar, suplicar. O poder público pode muito. Mas não pode tudo.
As famílias precisam entender esse indicativo como uma grande verdade dogmática. Os motivos são sobejamente fortes para serem abraçados. Em cada sepulcro esta os restos mortais daqueles que nos legaram exemplos preciosos. São perenes. Não morrem nunca. Não brotaram apenas dos nossos letrados, dos nossos heróis, dos nossos homens públicos. Brotaram também da inteligência do homem comum do povo. Nossa herança nessa área resultou tormentosa, traumática e indigna. Tiradentes, o líder máximo da nacionalidade brasileira, não teve direito à sepultura. Seu corpo foi esquartejado, salgado e dependurados nos postes de luz da antiga Vila Rica. Sua família declarada infame até a quarta geração.
Algo abominável, estarrecedor. Esse triste exemplo, precisa ser uma página virada da nossa história. Temos que olhar para frente. A morada dos nossos mortos precisa ter outra direção. A direção do bom senso, do respeito e da segurança. Realizando esses propósitos salutares os nossos gestores públicos marcarão um tento nobre e elevado. Legitimarão o exercício e a força da sua autoridade, conquistarão a chancela das famílias. Evidenciarão o lado sensível e humano para o enfrentamento do tormentoso tema. Todos sairão ganhando. As cidades, sobretudo, pelo exemplo de civilidade. As famílias, em especial. Os gestores públicos como os grandes generais a comandarem a grande batalha.