Artigos e Opinião

OPINIÃO

Augusto Lima da Silveira e Rodrigo Berté:"O poder de barrar crimes ambientais a partir das nossas es

Coordenador do curso superior de Saneamento Ambiental da Uninter e Pós-doutor em Educação e Ciências Ambientais

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Todas as atividades humanas são responsáveis por modificar o meio ambiente, gerar resíduos e causar impactos. Com o desenvolvimento industrial e a inserção de materiais sintéticos, o problema do descarte aumenta vertiginosamente por meio dos diversos processos produtivos. À medida que caminhamos para uma realidade tecnológica, criamos, por outro lado, problemas que ainda não somos capazes de resolver.

Extrair recursos naturais, utilizá-los como matérias-primas, produzir bens de consumo e ofertar serviços são as atividades humanas necessárias para que as nossas demandas diárias como alimentação, abrigo e transporte sejam atendidas. Pensemos, por exemplo, em nossos inseparáveis smartphones. Para chegarem até as nossas mãos, demandaram muitos processos físicos e químicos, transformando o minério e o petróleo, disponíveis na natureza, nesse equipamento multitarefas. É muito raro que alguém se pergunte em quais condições essas transformações ocorreram, fortalecendo o senso comum de que os nossos bens já “nasceram” nas prateleiras das lojas e supermercados. Quando não temos a real consciência de quais foram as condições produtivas que geraram os nossos bens, favorecemos o consumismo e dificultamos ainda mais a solução para o problema dos resíduos.

Retomando o exemplo do smartphone, o principal processo produtivo para a fabricação dos componentes é a mineração, uma das atividades potencialmente poluidoras, de acordo com a Resolução nº 001, de 23 de janeiro de 1986, do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que estabelece as diretrizes para as avaliações de impactos ambientais. Portanto, quando você segura um aparelho desses em suas mãos, deve ter a consciência de que ele produziu rejeitos de mineração estocados nas mais variadas condições no Brasil e no mundo. Outra questão importante e que na maioria das vezes nem refletimos a respeito refere-se às condições nas quais os trabalhadores estão submetidos para fabricar componentes que darão origem aos equipamentos que compramos. Apesar de a legislação relativa à segurança dos trabalhadores ter se desenvolvido muito, a realidade é que ainda há muitas pessoas expostas a componentes químicos tóxicos, afetando a saúde e a qualidade de vida. A situação é ainda mais dramática quando consideramos que trabalhar nestas condições é a única forma de prover uma vida digna para a família.

Infelizmente, quando compramos um produto, compramos também degradação ambiental, contaminação de trabalhadores, diminuição da qualidade de vida. Pensar na questão ambiental envolve esses e muitos outros aspectos, que estão ocultos quando apenas compramos bens e serviços sem pensar no que está envolvido. Neste contexto está o nosso poder transformador, ou seja, a partir da busca por informações sobre os produtos e os serviços, cobrar das empresas quais ações elas desenvolvem para minimizar os impactos que causam. É preciso entender que os recursos naturais também são nossos e somente quando assumirmos as nossas responsabilidades como os donos é que grande parte dos danos ambientais da atualidade será minimizada.

Todo esse contexto que discutimos até aqui ficou bastante evidente em razão do rompimento da barragem de rejeitos na cidade de Brumadinho (MG). Danos ambientais, sociais e econômicos dessa natureza devem nos levar a profundas reflexões sobre a nossa atual forma de vida, ou o que de fato necessitamos para ter uma vida feliz e saudável. Precisamos pagar com vidas a nossa compra do equipamento da moda? De quem é a responsabilidade quando há contaminação ambiental, em recursos que pertencem a toda a humanidade? Estamos dispostos a beber uma água contaminada, respirar um ar poluído e ter alimentos impregnados com substâncias cancerígenas em nome de um pseudodesenvolvimento, insistentemente difundido como a única alternativa por grandes corporações que visam somente à lucratividade?

O poder de transformação está em nossas escolhas de consumo, sejamos então consumidores críticos, fiscalizando a conduta de empreendimentos poluidores e usando uma ferramenta importante na diminuição dos crimes ambientais: não consumir de empresas que não estejam engajadas com as questões ambientais. Não há mais como admitir que, em nome de lucros imediatos, os cuidados com o meio ambiente, com aspectos sociais e de saúde sejam negligenciados.

ARTIGOS

O papel da IA no bem-estar moderno

21/03/2025 07h45

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Os últimos anos foram marcados por transformações em várias esferas da sociedade, e um dos conceitos que mais mudou e ganhou novos significados foi o de bem-estar. Se antes ele era relacionado principalmente com a saúde mental e física, hoje em dia já abrange diversos outros fatores, como qualidade de vida, equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, segurança e experiências personalizadas.

Esse cenário levou ao crescimento da economia do bem-estar, que, segundo dados do Global Wellness Institute (GWI), alcançou US$ 6,3 trilhões em 2023, montante 25% maior do que o valor avaliado em 2019 (US$ 4,9 trilhões). Para 2028, a expectativa é que o setor chegue a US$ 8,9 trilhões, o que reforça como essa pauta já é uma forte tendência.

Porém, vale destacar que os avanços nesse mercado foram possíveis, entre outros fatores, por conta da evolução da tecnologia, que ampliou o acesso a soluções inovadoras, otimizou processos e possibilitou a personalização do bem-estar de acordo com as necessidades individuais. Nesse contexto, a inteligência artificial (IA) tem desempenhado um papel fundamental, contribuindo ainda mais para que o bem-estar seja mais acessível e flexível.

Temos diversos exemplos que comprovam como as soluções inovadoras trazidas pela popularização da IA impactam diretamente o autocuidado e a forma como interagimos com o mundo: no setor da saúde, startups brasileiras como a Pipo Saúde utilizam a tecnologia para oferecer suporte a diagnósticos e otimizar o atendimento médico, permitindo que milhões de pessoas tenham acesso a serviços de saúde de forma mais eficiente. O bem-estar emocional também foi impulsionado com soluções como a da Vittude, uma plataforma que conecta pacientes a psicólogos por meio de IA, democratizando o acesso a cuidados mentais.

No que diz respeito ao bem-estar corporativo, ferramentas desenvolvidas por empresas como a Gupy ajudam organizações a monitorar o nível de satisfação dos funcionários e sugerem ações para melhorar o ambiente de trabalho, reduzindo o estresse e, consequentemente, aumentando a produtividade.

Outro exemplo do impacto positivo da IA no bem-estar moderno está na personalização do entretenimento, com plataformas como Spotify e Netflix, que usam IA para sugerir conteúdos que correspondem aos interesses do usuário, e do aprendizado, com ferramentas como o Duolingo, que usam IA para personalizar o ensino, tornando essa jornada mais eficaz e menos desgastante para os estudantes.

Acredito que essa tendência de sofisticação das tecnologias baseadas em IA vai tornar a busca pelo bem-estar completo ainda mais fácil. Desde aplicativos que monitoram padrões de sono e alimentação a assistentes virtuais que ajudam a gerenciar tarefas cotidianas, é fato que a tecnologia seguirá transformando a forma como cuidamos do nosso corpo, mente e relações.

Porém, não podemos esquecer que o segredo para o uso eficaz da IA nesse contexto inclui necessariamente o desenvolvimento ético dessas tecnologias, para que sejam seguras, inclusivas e realmente focadas no bem-estar humano.

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ARTIGOS

Financiamento rural e a reforma tributária

21/03/2025 07h15

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Os Fiagros são os Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais. Criados em 2021, são ativos de investimento do agronegócio, seja de natureza imobiliária rural, seja de atividades relacionadas ao setor. O Fiagro acabou se tornando uma fonte alternativa de financiamento para o produtor rural, de modo a não depender exclusivamente dos bancos e do Plano Safra.

Entretanto, em janeiro deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a Lei Complementar nº 214/2025, que regulamenta a reforma tributária, mas vetou trechos que previam a isenção de tributos para os Fiagros e para os Fundos de Investimento Imobiliário (FIIs). Esses trechos isentariam tais fundos da Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) e do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS).

A justificativa do governo para o veto foi a ausência de autorização constitucional para que esses fundos não fossem considerados contribuintes do IBS e da CBS. Isso pode impactar diretamente o crédito para os produtores rurais. É uma insensatez e ilógico o que o presidente fez.

Os Fiagros são fundos em que as pessoas podem investir e que funcionam como fontes de financiamento para o agronegócio. No mundo inteiro, os fundos já são mais representativos do que os bancos. Esse tipo de fundo tem crescido bastante, pois permite também que investidores urbanos participem do setor agroindustrial, aproveitando o potencial do agronegócio brasileiro.

O Brasil conta com cinco grandes bancos e cooperativas de crédito, além de seis linhas de crédito disponíveis para o agronegócio. Há também o Plano Safra, que atende apenas uma pequena parte da produção. Dessa forma, os agricultores ficam nas mãos desses bancos e frequentemente enfrentam desafios para a concessão de crédito, tornando-se dependentes das instituições financeiras, que impõem taxas, garantias e burocracias muitas vezes incompatíveis com a realidade do setor.

Prova maior da importância de financiamentos alternativos é a notícia da suspensão do Plano Safra. O Tesouro Nacional decidiu suspender novas contratações dessas linhas de financiamento 2024-2025. A medida vale a partir de 21 de fevereiro. O governo, sempre correndo para remediar em vez de prevenir, editou a MP nº 1.289/2025, liberando 4,17 bilhões para conter a pressão do segmento. Ainda assim, é insuficiente para o que o setor demanda de fomento. 

Os fundos representam um novo universo, uma nova possibilidade de financiamento com juros menores, pois, muitas vezes, esse capital vem do exterior. Os investidores estrangeiros não estão acostumados com os juros elevados do Brasil e, portanto, taxas mais baixas já são atrativas para eles. O Fiagro é exatamente isso: uma fonte de financiamento. Além de financiar o campo, atualmente beneficia cerca de 600 mil investidores.

No momento, o Fiagro só paga imposto se houver mais de 100 cotistas no fundo, não sendo tributado pelo Imposto de Renda. Caso tenha menos de 100 cotistas, há a incidência de 15% de Imposto de Renda, cobrado apenas no momento do resgate do resultado pelo cotista. Além disso, o Fundo não paga PIS, Cofins ou ISS. Contudo, com esse veto presidencial, os Fiagros passarão a pagar os tributos previstos na reforma tributária, especificamente o IBS e a CBS. Isso significa uma alíquota de até 28,5%, o que inviabilizará completamente esses fundos.

É importante lembrar que a logística no Brasil é muito cara, os produtores gastam muito com transporte, e os custos trabalhistas e tributários são elevados. Agora, o governo tenta transferir mais essa responsabilidade para o produtor. Vale ressaltar, mais uma vez, que quanto mais difícil for a vida do produtor, mais difícil será a vida do consumidor, que verá o impacto nos preços dos produtos agropecuários nas prateleiras dos supermercados.

A nossa expectativa é que a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) manifeste firmemente sua discordância com o veto e atue no Congresso para derrubá-lo. A tributação desses fundos compromete a competitividade do setor, aumenta os custos para os produtores, reduz a oferta de crédito no agronegócio e, por consequência, eleva os preços dos alimentos para o consumidor final.

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