Artigos e Opinião

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"Bom dia, Dr. Wilson", artigo de Sylvia Cesco

"Bom dia, Dr. Wilson", artigo de Sylvia Cesco

Redação

15/06/2017 - 07h30
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Dia 21 de junho, Dr. Wilson Barbosa Martins, nosso eterno Governador, completa 100 anos. Homem bom, homem justo, homem ético. De quando em vez tenho notícias dele pela sua filha, minha amiga Thaís.

Gostaria muito de ir visitá-lo, mas optei por guardar sua imagem caminhando com seu porte altivo, pleno de saúde, sorriso largo, passando pelo corredor da Governadoria, cumprimentando, gentil, a cada um dos funcionários. Sobre ele, poderia escrever muitas coisas.

Porém decidi  revelar um fato  porque que dele nunca ninguém tomou conhecimento já que o mantive em segredo por constrangimento.  Era um dia  muito chuvoso e às 9 h eu tinha que estar no seu Gabinete para assinatura de convênios. Costumo ser muito pontual em meus compromissos e ainda mais nos oficiais.

No entanto, naquela manhã de águas de março fechando o verão algo aconteceu com meu carro e acabei tendo que pegar um táxi, o que já demorou um tanto. Comecei a ficar preocupada. Quem trabalhou no governo do Dr. Wilson sabe da sua costumeira pontualidade, uma característica que revela muito sobre o compromisso, o respeito e a responsabilidade em administrar aquilo que se tem de mais precioso na vida das pessoas: o Tempo.

Evidentemente que muitas vezes ocorrem situações que escapam ao nosso controle. Pois foi bem isso que aconteceu comigo e acabei chegando com atraso.

Esbaforida e me equilibrando nuns saltos altos, carregando uma imensa bolsa grande e uma sombrinha florida, tentava achar o dinheiro para pagar o taxi, o que aconteceu depois de alguns minutos que me pareceram séculos.

Quando finalmente pisei dentro do prédio da Governadoria, no andar de baixo, todos já tinham subido para o Gabinete.

Quem me conhece sabe que nunca fui uma mulher de gestos comedidos. Sou larga, espaçosa, ancha, espontânea, informal. Mas aquela ocasião  pedia formalidade, claro. Afinal, era uma reunião com a mais alta autoridade do nosso Poder Executivo, além de estarem presentes outras do Poder Judiciário e Legislativo.

Era preciso subir as escadas com sobriedade, elegância e sem pressa. E foi aí que “meu barco se perdeu”, como canta Jorge Aragão. Sobre o belo piso vitrificado da entrada do prédio, o vento tinha soprado todas as águas possíveis vindas lá de fora. E eu me esborrachei com tudo, voando bolsa para um lado, sombrinha para outro.

O guarda, única testemunha, entre surpreso, espantado, preocupado, não sabia se ria ou se me ajudava. Depois de alguns minutos impávido, optou pela segunda alternativa. E  nesse imbróglio de tentar me ajudar, quase foi também ao chão e ficamos os dois tentando nos equilibrar num balé esquisito e sem graça.

Cabisbaixa e muda, cheguei finalmente à sala onde a solenidade já havia começado, tentando não chamar a atenção. Dr. Wilson, a uns metros de mim, deu-me uma olhada serena e paternal, quase adivinhando que deveria ter acontecido algum problema, talvez pelo fato de perceber meu rosto lívido e meu sorriso murcho.

Fiquei lá no meu canto, tentando esconder as costas da minha roupa totalmente molhada. Mal ouvi os discursos, rezando para tudo acabar logo. Quando pressenti o término da cerimônia, fui saindo de mansinho, meio de lado, e sequer cumprimentei nosso Governador.

Faço-o hoje, vinte anos depois: “Bom Dia, Dr. Wilson. Desculpe o atraso. Mas é que eu caí de madura”. Pinhé a lhe bicar os cantos do lombo.

*professora, escritora. E-mail: sylviacesco@hotmail.

ARTIGOS

O poder e as narrativas

04/01/2025 07h45

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Anos atrás escrevi um pequeno livro intitulado “Uma Breve Teoria do Poder”. Hoje está na quarta edição, veiculado pela Editora Resistência Cultural, que se notabilizou pela primorosa apresentação gráfica de suas edições. As edições anteriores foram prefaciadas por dois saudosos amigos: Ney Prado, confrade e ex-presidente da Academia Internacional de Direito e Economia, e Antonio Paim, confrade da Academia Brasileira de Filosofia. A atual tem como prefaciador o ex-presidente da República e confrade da Academia Brasileira de Direito Constitucional, Michel Temer.

Chamo-a de “Breve Teoria” por dedicar-me mais à figura do detentor do poder, muito embora mencione as diversas correntes filosóficas que analisaram a ânsia de governar, através da história.

Chamar um estudo de breve é comum. Já é mais complicado chamar uma teoria de breve. As teorias ou são teorias ou não são. Nenhuma teoria é breve ou longa, mas apenas teoria. Ocorre que, como me dediquei fundamentalmente à figura do detentor do poder, e não a todos os aspectos do poder, decidi, contra a lógica, chamá-la de “Breve Teoria”.

Desenvolvi no opúsculo a “Teoria da Sobrevivência”. Quem almeja o poder, luta, por todos os meios, para consegui-lo e, como a história demonstra, quase sempre sem ética e sem escrúpulos. Não sem razão, Lord Acton dizia, no século 19, que “o poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente”.

Ocorre que, no momento que o poder é alcançado, quem o detém luta para mantê-lo por meio da construção de narrativas, cada vez tornando-se menos ético e mais engenhoso, até ser afastado. As narrativas são sempre de mais fácil construção nas ditaduras, mas são comuns nas democracias e tendem a crescer quando elas começam a morrer.

A característica maior da narrativa é transformar uma mentira em uma verdade e torná-la para o povo um fato inconteste, ora valorizando fatos irrelevantes, ora, com criatividade, forjando fatos como, aliás, Hitler conseguiu com a juventude alemã com a célebre frase: “O amanhã pertence a nós”.

Nas democracias, a luta pelo poder é mais controlada, pois as oposições desfazem narrativas e os Poderes Judiciários neutros permitem que correções de rumo ocorram. Mesmo assim, as campanhas para conquistar o poder são destinadas não a debater ideias, mas literalmente destruir os adversários. Quando Levitsky e Ziblatti escreveram “Como as Democracias Morrem”, embora com um viés nitidamente a favor do partido democrata, desventraram que as mais estáveis democracias do mundo também correm risco.

O certo é que, através da história, os que lutam pelo poder e os que querem mantê-lo, à luz da teoria da sobrevivência, necessitam de narrativas, e não da verdade dos fatos, manipulando-as à sua maneira e semelhança, com interpretações “pro domo sua” das leis, reescrevendo-as e impondo-as, quanto mais força tem sobre os órgãos públicos, mesmo nas democracias, e reduzindo a única arma válida em uma democracia, que é a palavra, a sua expressão menor, quando não a suprimindo.

É que, infelizmente, há uma escassez monumental de estadistas no mundo e um espantoso excesso de políticos cujo único objetivo é ter o poder e, quando atingem seu objetivo, terminam servindo-se mais do que servindo ao povo, pois servir ao povo é apenas um efeito colateral, e não obrigatoriamente necessário.

Os ciclos históricos demonstram, todavia, que, quando, pela teoria da sobrevivência, os limites do razoável são superados, as reações fazem-se notar, não havendo “sobrevivência permanente no poder”. As verdades, no tempo, aparecem, e, perante a história, as narrativas desaparecem e surge “a realidade nua dos fatos”.

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ARTIGOS

Caminhos da vida

04/01/2025 07h15

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Novo ano. Novos caminhos. Novos sonhos. Novas esperanças. Com certeza serão muitas as pessoas olhando pela porta desse novo ano com uma maneira nova de olhar. Estarão mais cautelosas ao planejar e ao decidir em seus negócios e em seus projetos.

Esperemos que as lições do ano que findou sirvam de ponto de referência para os novos projetos, até mesmo para os caminhos dos sentimentos do coração e das forças da fé. Pois tudo o que acontecer será para o crescimento dos relacionamentos e das partilhas dos bens e da comunhão de vidas.

Esses sentimentos e essas atitudes serão sempre motivos no crescimento pessoal e comunitário das obras e das opções pela vida e pela fé. A palavra deus será a luz para quem se encontra na busca e será alimento seguro para quem se puser a caminho da felicidade. Mostra que, enquanto houver sonhos, haverá esperança. 

Assim acontecerá ao chegar até nós a palavra do escritor sagrado. Assim será a maneira de Deus se revelar ao mundo. Os seres humanos têm sua maneira. Deus também tem seus momentos e suas maneiras. Não haverá comparação. Haverá isso sempre, maneiras próprias e muito pessoais quando fala aos seres humanos.

Assim ele se revela em uma de suas cartas (Ef. 4, 30-45): “Não entristeçam o Espírito Santo de Deus. Toda a amargura, toda a irritação sejam desterradas do meio de vocês. Afeiçoem-se do bem e do amor. Sempre que houver razões de queixa de uns pelos outros, perdoem-se, assim como Deus sempre perdoa. Vivam na concórdia e na harmonia”.

E o autor sagrado continua dizendo: “Evitem o mal. Amem o bem. Principalmente eliminem entre vocês toda a discórdia e todas as ofensas. Edifiquem a misericórdia e o perdão. Progridam na caridade a exemplo de Jesus Cristo que em tudo nos amou e sempre se entregou como oferta sagrada e perfeita”.

O exemplo permanece e permanecerá sempre vivo e edificante. Nada guardou para si. Tudo sacrificou por amor e pelo resgate de tantos prisioneiros da maldade desse mundo. Em tudo deixou sua marca de doador do bem e da graça. E tudo na gratuidade.

As portas do novo ano estão se abrindo em nossa frente. A esperança de dias melhores, não apenas diferentes, deverá alimentar a esperança, o bem, marcar o pensar e o agir de cada ser humano. E que em tudo possa se orgulhar de ter o rumo correto em seu viver e em seu agir iluminado pela fé em Deus.

Entramos no caminho do otimismo. Nele, não haverá espaço para os pessimistas. Não haverá também para os medrosos, os inseguros e para os descrentes. Não haverá lugar ainda aos vingativos e para quem guarda mágoas ou invejas. Para esses, permanecerá um vazio do tamanho de sua fragilidade em acreditar.

É preciso acreditar no Deus misericórdia, no Deus bondade e no Deus generosidade. É preciso acreditar no Deus que acredita em todos. Mesmo os que não creem nele. Ele os ama e neles confia pelo simples motivo de ter um coração bom e uma alma generosa.

Ano novo. Alma renovada. Espírito novo. Sentimentos renovados. Em tudo manter a pureza no ser, o correto no agir. E Deus nos abençoe.

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