São inúmeros os conceitos que definem o termo humanidade/natureza humana e não há pacificidade no tema até mesmo entre grandes personagens da história, tais como Rousseau, Freud, Aristóteles, Platão, Marx e tantos outros. Aqui, prefiro ficar com a significação mais objetiva que nos dá Aurélio, que estabelece a concepção de humanidade como “(...) 3. Fig. Capacidade de compreensão ou de aceitação em relação aos semelhantes. 4. Fig. Clemência.”
Atualmente, em vista da lastimável situação que ocorre com milhares de almas que cruzam o mar mediterrâneo em direção à Europa na parte ocidental, a idéia que podemos ter do conceito de humanidade, força-nos até a duvidar de que alguns países daquele continente a conhecem. Esses refugiados se constituem, em sua maioria, de africanos, mas muitos se originam da Síria e do Iraque. Que humanidade pode existir, quando alguém ou um governo renega a presença de seres humanos não patrícios seus, apenas pelo fato de se julgar dono absoluto da terra e temer que gente faminta, crianças indefesas, homens e mulheres debilitados, velhos frágeis, venham lhe roubar o emprego, “colocar em risco a sua economia”?
Se nós aceitarmos a ideia de que o homem é resultado de tudo que ele vive, da sua experiência de erros e acertos, então a sua socialização ainda estaria engatinhando, em vista das ações que sofrem esses pobres migrantes lá no mediterrâneo e em outras partes da Europa.
Ainda bem que resta uma esperança e o pouco da sensibilidade humana que temos se curvou, parece, a uma cena marcante, inextinguível da memória, que foi a foto do pequeno Aylan Kurdi, três anos, morto por afogamento, inerte numa praia da Turquia, mais uma das milhares de vítimas da crise migratória. Muitos países que antes endureciam as regras parecem que vão colaborar mais com os refugiados. Tantos já morreram, talvez mais ainda vão morrer, mas o sacrifício do pequeno guerreiro parece que vai abrandar os corações de muitos frios governos europeus. Valeu, pequeno Aylan. Esteja com Deus.
O fluxo migratório sempre existiu no mundo, principalmente, ocasionado pela busca de melhor condição econômica ou perseguição política. Esses também são dois dos motivos que levam, atualmente, essas pessoas a deixarem seus países de origem. A nua verdade é que esses motivos seriam, em tese, os que menos impulsionam agora esses migrantes na grande viagem que os leva ao sofrimento, ao desespero e até a morte de muitos deles. Eles deixam seus países exatamente para fugir da morte, da fome, da perseguição política, da guerra, da crueldade, tortura, prisões arbitrárias. Fogem, por exemplo, do “Boko Haram”, do Estado Islâmico, etc. O mundo conhece esses dois grupos loucos e demoníacos.
A questão econômica não pode jamais ser um empecilho para entrada dos migrantes na Europa ou nas Américas. Se for só isso, convém lembrar o quanto muitos imigrantes fizeram nesses tempos modernos pelos países em que escolheram viver, tanto na ciência, no esporte e até na economia, entre outros segmentos.
Bom mesmo, além da acolhida desses refugiados todos, afinal espaço há, o trabalho advém, a riqueza se constitui, seria também que as grandes potências democráticas todas, se unissem e encontrassem um meio de combater definitivamente e exterminar de vez grupos como o “estado islâmico,” “boko haram”, “al-qaeda”, “talibã” e derrubar regimes de muitos ditadores cruéis da África, o que parece improvável, diante de tantas complicações que isso pode causar, principalmente econômicas. Ah, a economia, de novo! Isso sim, a economia, parece ser um grande entrave para a verdadeira socialização humana. A experiência nos ensina. Que pena!