Não gosto de dramatizar nossas inferioridades históricas. Foi assim, com surpresa, que li a entrevista do ex-chanceler Celso Amorim, na qual afirmou o seguinte: “Bolsonaro chega a dizer que está apaixonado por Trump!” (Revista Veja, edição 2.651, ano 52-37, 11/09/2019, p. 14). Fiquei com a impressão de que ressaltou um suposto sentimento de inferioridade para esconder sua própria rejeição à alternância de poder ocorrida em nosso país, de forma legítima, no fim de 2018.
Não é a primeira vez que temos uma aproximação familiar com o presidente dos Estados Unidos da América. Exatamente há um século, Epitácio Pessoa estivera em Washington como convidado oficial e, ao mesmo tempo, na condição de amigo íntimo do presidente Wilson. Membros das duas famílias viajaram juntos para Nova York, o que chamou atenção da imprensa internacional da época.
Agora os tempos são outros. Não quero comparar Epitácio Pessoa com Bolsonaro, com quem convivi durante dois anos como contemporâneos na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman). Seria otimismo demais esperar que o presidente Bolsonaro mantivesse a política externa em vigor nos últimos trinta anos. Não penso que o Brasil virou pária. Talvez conviesse ao ilustre diplomata aceitar o que realmente somos e reconhecer que ele próprio é o passado que não quer passar.
Gostaria que tivesse realizado, na condição de respeitável intelectual, uma análise sobre o 11 de setembro. Sempre vem à mente a triste lembrança dos trágicos atentados ocorridos nos Estados Unidos em 2001. Manifestei minha solidariedade, naquela época, ao povo norte-americano e teria agido da mesma forma se qualquer outra cidade do Oriente Médio, por exemplo, sofresse agressões inomináveis por parte de terroristas ocidentais.
Fiz orações para que as autoridades norte-americanas revogassem a Lei da Vingança e buscassem uma alternativa pacificadora para o conflito. Não foi o que ocorreu. Elas ultrapassaram, em matéria de violência, todos os atos que haviam condenado. Logo que invadiram o Iraque, destruíram as principais instituições culturais de Bagdá. O vandalismo teria sido tão violento e alcançara tanta repercussão nos Estados Unidos que alguns dos saqueadores tiveram de devolver os objetos roubados do Museu Nacional do Iraque. Muitos foram os protestos e era sobre essa tragédia que o ilustre Celso Amorim deveria se manifestar nesta edição semanal de Veja. O jovem chanceler atual, Ernesto Araújo, não pode ser julgado antecipadamente porque acabou de ocupar a cadeira que o seu detrator monopolizou por vários anos.