A atualidade dos debates históricos sobre a Guerra da Tríplice Aliança é inesgotável. Afinal, “o conhecimento histórico é sempre provisório, seletivo, incompleto e ilimitado”, como ensinou E.P. Thompson. Poucos são, infelizmente, os pesquisadores que se dedicam a estudá-la com seriedade e determinação. Neste momento, estou relendo dois estudos interessantes: Maldita Guerra de Francisco Doratioto (São Paulo: Companhia das Letras, 2002) e Aspectos Logísticos da Guerra do Paraguai do Cel. Nylson Reis Boiteux (Campo Grande/MS: Life Editora, 2015).
O fato principal é que o Paraguai invadiu Mato Grosso e, então, iniciou o conflito com o Brasil, a Argentina e o Uruguai.
Quando atuava como professor de Metodologias da História, participei de um Congresso Internacional nomesmo grupo de estudos do notável historiador Leslie Bethell, da Universidade de Londres, defensor da tese de que a contribuição dos bancos britânicos para a Tríplice Aliança fora insignificante. Surgiram muitos contrapontos, mas continuo considerando muito respeitável o estudo de Bethell.
Por outro lado, nunca tive razões para duvidar da digna liderança do Duque de Caxias, que foi também um excelente administrador e um verdadeiro pacifista antes, durante e depois do conflito. Quando realizei pesquisas no Arquivo do Exército, no Rio de Janeiro, incentivado pelos saudosos Coronéis Macedo, venerável diretor da Biblioteca do Exército, e Araripe, instrutor da Escola de Guerra Naval, verifiquei que Caxias governara, com muita competência, o Maranhão um ano e dois meses; o Rio Grande do Sul, pela primeira vez, três anos e três meses; da segunda um ano e um mês. Em cinco anos e alguns meses, evitou a fragmentação da unidade nacional, a multiplicação dos ódios regionais e, principalmente, a perda de nosso respeito no exterior. Foi um verdadeiro estadista.
É impossível compreender a Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai sem verificar que uma das principais motivações foi o acesso soberano ao mar. A falsa ideia de que a ambição desenfreada dos capitalistas ingleses, interessados em nossas riquezas, provocou a guerra nunca me convenceu. Afirmar que os líderes dos países envolvidos, salvo o imperador Pedro II, não tiveram culpa pelas atrocidades minimiza a irresponsabilidade de alguns dirigentes latino-americanos que nunca quiseram responder pelas suas decisões. Parece inegável que as libras esterlinas compraram consciências de políticos corruptos, mas não declararam a guerra, deixando milhares de cadáveres jogados nas margens dos rios da bacia do Prata. Em qualquer época, a estabilização das relações diplomáticas exige visão de futuro. O diálogo é sempre mais benéfico do que a guerra.
Continua sendo recomendável que o General Villas Boas, Comandante do Exército, contemple todos os dias, em seu gabinete em Brasília, o magnífico quadro a óleo do Duque de Caxias, pintado pelo Coronel e amigo paraibano Estigarribia, que comandou o curso de cavalaria na saudosa Academia Militar de Agulhas Negras em 1976 e 1977 e reside atualmente em Porto Alegre. Tive a honra de frequentar a sua casa na vila militar e merecer a amizade de sua distinta família. Caxias continua sendo um bom exemplo a ser seguido.