Artigos e Opinião

OPINIÃO

Cezar Benevides: "Homens públicos mato-grossenses"

Professor aposentado da UFMS

Redação

02/06/2017 - 01h00
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Existem homens públicos dignos aqui e alhures? Certamente, muitos. Vou me restringir a mencionar apenas um já falecido e outro aposentado, para evitar constrangimentos e eventuais ciumadas. E o faço com o sentimento vivo de pertencimento, como simples observador da rica história de Mato Grosso e de Mato Grosso do Sul, mas também da história do Brasil neste conturbado tempo presente.

É, aliás, uma sensação incrível a de ter bons amigos em várias cidades favoritas e de me sentir ligado a uns e a outros por laços de estreita afeição espiritual e intelectual. Em João Pessoa, Londrina, Curitiba, Aquidauana, Campo Grande, Cuiabá, Rio de Janeiro e São Paulo, essas relações de amizade estão todas associadas nas memórias que estou redigindo e publicando pela editora paranaense Estúdio-Texto.

Foi interessante reencontrar agora, na antiga capital do estado de Mato Grosso, os amigos professor Aecim e senhora Celita Tocantins, em companhia do ilustre professor Fernando de Tadeu de Miranda Borges, digno pró-reitor de Cultura da Universidade Federal de Mato Grosso, em Cuiabá. O distinto casal manteve longa amizade com o ex-governador José Fragelli e senhora Lourdes Alves Ribeiro. A propósito desse encontro, recebi da Europa o seguinte e-mail assinado pelo meu amigo Nelson Fragelli:

“Caríssimo professor Cezar. Sem dúvida, o casal Tocantins representa um tesouro da amizade dos velhos tempos, quando havia sincero apreço por pessoas de valor. Conheci o pai de Dona Celita. A casa dele, no Porto, permanece em minha memória como uma das visões encantadas da infância”.

Magnífico depoimento. Apesar da idade avançada, o professor Aecim Tocantins continua tendo uma compreensão humana lúcida e profunda. Quais foram os pontos culminantes de sua trajetória de honrado homem público mato-grossense, contador e auditor de elevada competência e probidade? Um deles foi a sua controversa nomeação para o cargo de Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Mato Grosso.

Ele me revelou que o governador José Fragelli fez a indicação do seu nome à Assembleia Legislativa, como estava previsto na legislação. Toda a bancada estadual se reuniu e escolheu outro candidato. Em seguida, marcou audiência com o governador para solicitar que retirasse a sugestão que fizera. Fui vizinho do casal Fragelli em Aquidauana e sempre notei que ele era firme em todas as circunstâncias. Assim não me surpreendi com a reação que tivera diante de todos os deputados presentes na reunião. 

Segundo as palavras do professor Aecim, o governador teria afirmado que era natural a intenção dos parlamentares de proteger um dos seus membros e pediu que eles rejeitassem o nome por ele indicado. Contudo, esclareceu, que enquanto fosse governador a referida vaga não seria preenchida.

O que ele disse repercutiu em todo o Estado e representou um golpe mortal para a bancada estadual. Uma a uma, estão se apagando nas minhas lembranças as luzes daquela casa hospitaleira da Rua Marechal Mallet 101, que representara papel tão relevante na história social da Marcha para Oeste. Enquanto as últimas luzes de meus olhos fatigados não se extinguirem, continuo me deslocando entre as queridas cidades que mencionei, afirmando aos amigos que, nesta fase de minha existência, os últimos livros que posso ler são as palavras ditas por criaturas humanas inesquecíveis que tenho encontrado ao longo desta caminhada.

ARTIGOS

O poder e as narrativas

04/01/2025 07h45

Arquivo

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Anos atrás escrevi um pequeno livro intitulado “Uma Breve Teoria do Poder”. Hoje está na quarta edição, veiculado pela Editora Resistência Cultural, que se notabilizou pela primorosa apresentação gráfica de suas edições. As edições anteriores foram prefaciadas por dois saudosos amigos: Ney Prado, confrade e ex-presidente da Academia Internacional de Direito e Economia, e Antonio Paim, confrade da Academia Brasileira de Filosofia. A atual tem como prefaciador o ex-presidente da República e confrade da Academia Brasileira de Direito Constitucional, Michel Temer.

Chamo-a de “Breve Teoria” por dedicar-me mais à figura do detentor do poder, muito embora mencione as diversas correntes filosóficas que analisaram a ânsia de governar, através da história.

Chamar um estudo de breve é comum. Já é mais complicado chamar uma teoria de breve. As teorias ou são teorias ou não são. Nenhuma teoria é breve ou longa, mas apenas teoria. Ocorre que, como me dediquei fundamentalmente à figura do detentor do poder, e não a todos os aspectos do poder, decidi, contra a lógica, chamá-la de “Breve Teoria”.

Desenvolvi no opúsculo a “Teoria da Sobrevivência”. Quem almeja o poder, luta, por todos os meios, para consegui-lo e, como a história demonstra, quase sempre sem ética e sem escrúpulos. Não sem razão, Lord Acton dizia, no século 19, que “o poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente”.

Ocorre que, no momento que o poder é alcançado, quem o detém luta para mantê-lo por meio da construção de narrativas, cada vez tornando-se menos ético e mais engenhoso, até ser afastado. As narrativas são sempre de mais fácil construção nas ditaduras, mas são comuns nas democracias e tendem a crescer quando elas começam a morrer.

A característica maior da narrativa é transformar uma mentira em uma verdade e torná-la para o povo um fato inconteste, ora valorizando fatos irrelevantes, ora, com criatividade, forjando fatos como, aliás, Hitler conseguiu com a juventude alemã com a célebre frase: “O amanhã pertence a nós”.

Nas democracias, a luta pelo poder é mais controlada, pois as oposições desfazem narrativas e os Poderes Judiciários neutros permitem que correções de rumo ocorram. Mesmo assim, as campanhas para conquistar o poder são destinadas não a debater ideias, mas literalmente destruir os adversários. Quando Levitsky e Ziblatti escreveram “Como as Democracias Morrem”, embora com um viés nitidamente a favor do partido democrata, desventraram que as mais estáveis democracias do mundo também correm risco.

O certo é que, através da história, os que lutam pelo poder e os que querem mantê-lo, à luz da teoria da sobrevivência, necessitam de narrativas, e não da verdade dos fatos, manipulando-as à sua maneira e semelhança, com interpretações “pro domo sua” das leis, reescrevendo-as e impondo-as, quanto mais força tem sobre os órgãos públicos, mesmo nas democracias, e reduzindo a única arma válida em uma democracia, que é a palavra, a sua expressão menor, quando não a suprimindo.

É que, infelizmente, há uma escassez monumental de estadistas no mundo e um espantoso excesso de políticos cujo único objetivo é ter o poder e, quando atingem seu objetivo, terminam servindo-se mais do que servindo ao povo, pois servir ao povo é apenas um efeito colateral, e não obrigatoriamente necessário.

Os ciclos históricos demonstram, todavia, que, quando, pela teoria da sobrevivência, os limites do razoável são superados, as reações fazem-se notar, não havendo “sobrevivência permanente no poder”. As verdades, no tempo, aparecem, e, perante a história, as narrativas desaparecem e surge “a realidade nua dos fatos”.

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ARTIGOS

Caminhos da vida

04/01/2025 07h15

Arquivo

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Novo ano. Novos caminhos. Novos sonhos. Novas esperanças. Com certeza serão muitas as pessoas olhando pela porta desse novo ano com uma maneira nova de olhar. Estarão mais cautelosas ao planejar e ao decidir em seus negócios e em seus projetos.

Esperemos que as lições do ano que findou sirvam de ponto de referência para os novos projetos, até mesmo para os caminhos dos sentimentos do coração e das forças da fé. Pois tudo o que acontecer será para o crescimento dos relacionamentos e das partilhas dos bens e da comunhão de vidas.

Esses sentimentos e essas atitudes serão sempre motivos no crescimento pessoal e comunitário das obras e das opções pela vida e pela fé. A palavra deus será a luz para quem se encontra na busca e será alimento seguro para quem se puser a caminho da felicidade. Mostra que, enquanto houver sonhos, haverá esperança. 

Assim acontecerá ao chegar até nós a palavra do escritor sagrado. Assim será a maneira de Deus se revelar ao mundo. Os seres humanos têm sua maneira. Deus também tem seus momentos e suas maneiras. Não haverá comparação. Haverá isso sempre, maneiras próprias e muito pessoais quando fala aos seres humanos.

Assim ele se revela em uma de suas cartas (Ef. 4, 30-45): “Não entristeçam o Espírito Santo de Deus. Toda a amargura, toda a irritação sejam desterradas do meio de vocês. Afeiçoem-se do bem e do amor. Sempre que houver razões de queixa de uns pelos outros, perdoem-se, assim como Deus sempre perdoa. Vivam na concórdia e na harmonia”.

E o autor sagrado continua dizendo: “Evitem o mal. Amem o bem. Principalmente eliminem entre vocês toda a discórdia e todas as ofensas. Edifiquem a misericórdia e o perdão. Progridam na caridade a exemplo de Jesus Cristo que em tudo nos amou e sempre se entregou como oferta sagrada e perfeita”.

O exemplo permanece e permanecerá sempre vivo e edificante. Nada guardou para si. Tudo sacrificou por amor e pelo resgate de tantos prisioneiros da maldade desse mundo. Em tudo deixou sua marca de doador do bem e da graça. E tudo na gratuidade.

As portas do novo ano estão se abrindo em nossa frente. A esperança de dias melhores, não apenas diferentes, deverá alimentar a esperança, o bem, marcar o pensar e o agir de cada ser humano. E que em tudo possa se orgulhar de ter o rumo correto em seu viver e em seu agir iluminado pela fé em Deus.

Entramos no caminho do otimismo. Nele, não haverá espaço para os pessimistas. Não haverá também para os medrosos, os inseguros e para os descrentes. Não haverá lugar ainda aos vingativos e para quem guarda mágoas ou invejas. Para esses, permanecerá um vazio do tamanho de sua fragilidade em acreditar.

É preciso acreditar no Deus misericórdia, no Deus bondade e no Deus generosidade. É preciso acreditar no Deus que acredita em todos. Mesmo os que não creem nele. Ele os ama e neles confia pelo simples motivo de ter um coração bom e uma alma generosa.

Ano novo. Alma renovada. Espírito novo. Sentimentos renovados. Em tudo manter a pureza no ser, o correto no agir. E Deus nos abençoe.

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