O crescente número de apreensões de drogas, embora seja comemorado pelas forças policiais, também demonstra a extensão do problema.
O Brasil é o oásis do narcotráfico. O País faz fronteira com os três principais fornecedores de cocaína e maconha, com cerca de 17 mil quilômetros de fronteira seca, que representa tarefa de fiscalização hercúlea para as forças de segurança. Aqui, também, é alternativa para o preparo, sem fiscalização do material final para o consumo, onde se encontram os insumos necessários para o refino. Há, ainda, vários casos em que os criminosos mais procurados do mundo se esconderam por anos, mantendo o controle da distribuição da droga. O leque de vantagens para o crime organizado torna a missão de repressão cada vez mais difícil.
O crescente número de apreensões de drogas, embora seja comemorado pelas forças policiais, também demonstra a extensão do problema: de janeiro a junho deste ano, a Polícia Rodoviária Federal em MS interceptou carregamentos que alcançaram o total de 103,7 toneladas de drogas. Em quatro anos, foram 432 toneladas. Os resultados colocam Mato Grosso do Sul como o estado com 48% das apreensões feitas no País. Se, por um lado mostra o trabalho de investigação feita pela polícia, por outro, mostra que isso pode ser somente a ponta do iceberg.
Há um ano, a região de fronteira entre Paraguai e Brasil está no centro da disputa pelo narcotráfico. O assassinato de Jorge Rafaat Toumani, em junho de 2016, representou capítulo do embate entre facções criminosas que desejam controlar a produção e distribuição de droga. De lá para cá, cidades nos dois lados - Pedro Juan Caballero e Ponta Porã - foram palcos de execuções bárbaras e, a maioria, sem autores identificados. O poder bélico demonstrado nessas ações é evidência do quanto o narcotráfico avançou. Rafaat foi morto com armamento militar .50, desenvolvido nos Estados Unidos para neutralizar ataques aéreos e destruir carros blindados nas guerras do Afeganistão e Iraque.
O tráfico de drogas movimenta valores astronômicos, conforme levantamento feito pela Consultoria Legislativa da Câmara de Deputados, em 2016. Naquele período, a cifra chegou a R$ 15,5 bilhões no Brasil. O combate esbarra em interesses financeiros que vão além do traficante que domina a distribuição em um morro; seria ingenuidade achar o contrário.
A dificuldade das forças de segurança também está na falta de aparelhamento, de organização dos setores de inteligência e de participação mais efetiva de outros entes, como as Forças Armadas, citando apenas alguns elementos que poderiam contribuir para trabalho mais efetivo. Há, ainda, a questão social. O ex-secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, disse, reiteradas vezes, que as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) eram apenas parte do projeto, que deveria incluir, posteriormente, o desenvolvimento de ações sociais, envolvendo educação, saúde e cultura. “É a entrada da polícia para permitir depois a entrada da cidadania”, disse, em entrevista, no último dia de trabalho à frente da secretaria. Enquanto as ações não forem integradas e o aspecto social não for incluído como prioridade, a sensação que se tem é de eternamente enxugar gelo.