A cautela e a precisão são requisitos de uma boa investigação. A abertura de um inquérito deve ir além da mera presunção, sem algum fato inicial, de que algo está errado.
Se existe algo que não deve ser banalizado em qualquer democracia, são as investigações. É possível afirmar que, em qualquer regime democrático, praticamente todas as investigações são necessárias, e isso não é nenhum exagero. Ocorre que, ao mesmo tempo, o risco de não se verificar práticas que tipifiquem uma conduta criminal, ou mesmo infração da legislação civil, é sempre grande em qualquer apuração.
Por causa de duas forças extremamente atuantes nas duas pontas das investigações: a impunidade, e a consequente sede por punição, todo o processo investigatório tem sido relativizado a cada ano no Brasil. Em muitos casos, os fatos parecem perder a importância em meio a uma avalanche de opiniões pré-concebidas sobre vários assuntos.
O espaço para o contraditório no país tem sido cada vez menor, e com isso, o pré-julgamento avança na mesma velocidade que as efêmeras punições - alguma injustas - decorrentes da pressa em se culpar algo ou alguém.
É por isso que aqueles que trabalham diariamente com investigação são sempre muito cautelosos. Esperam a hora certa de agir, e quando isso ocorre, estão de posse de várias provas, informações irrefutáveis, muitas delas provadas cientificamente e outras devidamente evidenciadas. Por isso boas investigações são conduzidas por quem é treinado para tal. Com frequência vemos bons trabalhos conduzidos pelas forças policiais, federais ou estaduais.
Quando o objetivo da investigação não é cessar o suposto dano que o descumprimento à lei vem causando, mas sim promover os responsáveis pelas investigações, ela pode começar errada. Inquéritos não admitem comportamento afoito.
Nesta edição mostramos que, no mesmo dia, deputados e vereadores tentaram criar, mas não conseguiram, uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar supostas irregularidades cometidas pela Energisa. Se esta investigação são necessárias? Não sabemos ainda, porque de suas formulações, faltaram justamente a especificidade de fatos para que o inquérito tenha início.
Acusações mal feitas podem ser revertidas contra os que levantam a voz. A leviandade não perdoa, nunca. Vejamos o caso recente em que o jogador de futebol Neymar foi acusado de ter estuprado uma mulher em quarto de hotel, em Paris. A acusadora não conseguiu comprovar as evidências iniciais. O inquérito terminou de forma favorável ao jogador. Investigação é, e sempre deverá ser, coisa séria.