Um sistema que promete monitorar em tempo real toda a fronteira brasileira não pode ser visto como um gasto e alvo de contingenciamento; deve ser tratado como um investimento.
Lá se vão sete anos desde que o Sistema de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron) foi lançado pelo Exército Brasileiro. Em 2012, era concebido um projeto que prometia proporcionar às Forças Armadas e às forças de segurança pública o monitoramento constante da extensa fronteira brasileira. O investimento previsto inicialmente era de R$ 12 bilhões, como o leitor poderá conferir em reportagem publicada adiante, mas uma quantia bem inferior à programada foi investida até agora.
O quase abandono do Sisfron é um dos exemplos da falta de prioridade e de continuísmo das ações do governo federal, independentemente da sigla partidária. Em tese, o Sistema de Monitoramento de Fronteiras deveria ser a ação governamental menos prejudicada pelo contingenciamento. Vejamos: foi lançada pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT), com pleno apoio dos militares de alta patente do Exército Brasileiro e da Força Aérea Brasileira. Um dos exemplos desta adesão é que boa parte dos generais e coronéis envolvidos na implantação do projeto feito por eles hoje integra ou apoia o atual governo.
O mesmo raciocínio se aplica ao ex-presidente Michel Temer (MDB). Enquanto era vice-presidente da República, veio várias vezes a Dourados, onde funciona o programa piloto do Sisfron, e reuniu-se com militares, declarando amplo apoio à iniciativa. No caso de Jair Bolsonaro (PSL), o atual presidente, é natural que ele também apoie a implantação de um projeto elaborado e executado pelo Exército Brasileiro. Enfim, como podemos perceber, apoio – pelo menos o verbal – não é problema para o Sisfron.
O problema mesmo é a falta de dinheiro para a iniciativa. E aqui é possível fazer uma pergunta: será que faltam recursos para o projeto ou o que não existe mesmo é prioridade? Monitorar a fronteira com qualidade e tecnologia é algo importantíssimo para o Brasil, em primeiro lugar, porque contribui para a manutenção da soberania, e em segundo, porque seria uma ferramenta revolucionária no combate à criminalidade nas fronteiras.
Nesta semana, por exemplo, mostramos que traficantes de cocaína assumiram rota que anteriormente era usada para escoar maconha na região sul do Estado. Não temos dúvida alguma que o monitoramento do Sisfron contribuiria bastante para que a Polícia Federal impedisse a entrada de armas e drogas em território brasileiro, sobretudo em uma região de fronteira seca, como em Mato Grosso do Sul.
O Sisfron não pode ser visto como um gasto, mas, sim, como um investimento muitíssimo necessário, sobretudo em uma época em que o deslocamento de pessoas e mercadorias é extremamente facilitado.