Seja pelas dificuldades, seja por falhas no planejamento, dificilmente a prefeitura da Capital terá tempo hábil de mudar o cenário.
Campo Grande vive, há anos, em suspense. A cidade é prejudicada pelo cenário nacional de crise econômica, porém, houve agravante de administrações desastrosas que a levaram para o buraco. O que se conseguiu fazer até agora são ensaios de melhorias. Pelo caminho, há entraves burocráticos, licitações duvidosas e poucos recursos. Passados sete meses, a gestão de Marcos Trad continua lutando contra os dissabores herdados e o desafio de equilibrar o caixa, que corre o risco de perder importante repasse proveniente do rateio do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).
A discussão sobre o índice de rateio ainda está em andamento, agora, com auditoria do Executivo municipal nas notas relacionadas a 350 empresas que seriam as responsáveis pela queda do porcentual para 2018, que passaria de 21% para 18%. Se a redução for ratificada pela Secretaria Estadual de Fazenda (Sefaz), significará prejuízo de R$ 54 milhões/ano. A gestão ainda administra a “herança maldita” das gestões Bernal/Olarte: deficit de R$ 31,7 milhões e dívida com prestadores de serviços e terceirizados de R$ 180 milhões. Há, também, a folha mensal de R$ 100 milhões e, até o fim do ano, o pesadelo recorrente, o pagamento do 13º dos servidores.
Além das contas, alguns serviços foram travados por terem sido conduzidos de forma suspeita pela antiga gestão: a instalação das lâmpadas de LED foi suspensa pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE), que descobriu indícios de irregularidades na compra dos itens. A liberação foi feita após questionável acordo envolvendo a Justiça, que determinou o cancelamento do contrato entre a prefeitura da Capital e a empresa responsável à época, Solar Engenharia.
Agora, a dificuldade está em viabilizar o serviço, o que pode ser feito com as empresas que trabalham na manutenção da iluminação pública, via abertura de nova licitação ou, ainda, por meio da própria Secretaria de Infraestrutura. Por enquanto, nada definido. O Executivo também corre contra o tempo para encerrar definitivamente o contrato com a Seleta e a Omep, que terceirizavam pessoal para Centros de Educação Infantil e escolas. Trad considerou a determinação judicial precipitada, pois obriga o Executivo a deixar setores deficientes com a demissão de 4,5 mil pessoas.
São exemplos de como a administração patina em dívidas e tropeça em obstáculos jurídicos, questionamentos diários do Ministério Público Estadual e falta de recursos. Nesse mesmo espaço, em abril, na análise dos 100 dias da nova gestão, foi dito que ainda não havia uma identidade formada e, até o momento, baseava-se em serviço de tapa-buracos. Pouco mudou desde então. Até o recapeamento executado pelo Exército, em contrato firmado em fevereiro, passa por percalços, impondo ritmo lento e obrigando a mudança do cronograma. Seja pelas dificuldades, seja por falhas no planejamento, dificilmente a prefeitura da Capital terá tempo hábil de mudar o cenário. Por enquanto, desdobra-se para arrumar a casa e chegar até o fim do ano sem acumular mais dívidas e, principalmente, manter a folha de pagamento em dia. É desafio que lida, também, com a paciência da população.