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CORREIO DO ESTADO

Confira o editorial desta quinta-feira: "Entraves e tropeços"

Confira o editorial desta quinta-feira: "Entraves e tropeços"

Redação

20/07/2017 - 03h00
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Seja pelas dificuldades, seja por falhas no planejamento, dificilmente a prefeitura da Capital terá tempo hábil de mudar o cenário.

Campo Grande vive, há anos, em suspense. A cidade é prejudicada pelo cenário nacional de crise econômica, porém, houve agravante de administrações desastrosas que a levaram para o buraco. O que se conseguiu fazer até agora são ensaios de melhorias. Pelo caminho, há entraves burocráticos, licitações duvidosas e poucos recursos. Passados sete meses, a gestão de Marcos Trad continua lutando contra os dissabores herdados e o desafio de equilibrar o caixa, que corre o risco de perder importante repasse proveniente do rateio do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).

A discussão sobre o índice de rateio ainda está em andamento, agora, com auditoria do Executivo municipal nas notas relacionadas a 350 empresas que seriam as responsáveis pela queda do porcentual para 2018, que passaria de 21% para 18%. Se a redução for ratificada pela Secretaria Estadual de Fazenda (Sefaz), significará prejuízo de R$ 54 milhões/ano. A gestão ainda administra a “herança maldita” das gestões Bernal/Olarte: deficit de R$ 31,7 milhões e dívida com prestadores de serviços e terceirizados de R$ 180 milhões. Há, também, a folha mensal de R$ 100 milhões e, até o fim do ano, o pesadelo recorrente, o pagamento do 13º dos servidores.

Além das contas, alguns serviços foram travados por terem sido conduzidos de forma suspeita pela antiga gestão: a instalação das lâmpadas de LED foi suspensa pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE), que descobriu indícios de irregularidades na compra dos itens. A liberação foi feita após questionável acordo envolvendo a Justiça, que determinou o cancelamento do contrato entre a prefeitura da Capital e a empresa responsável à época, Solar Engenharia.

Agora, a dificuldade está em viabilizar o serviço, o que pode ser feito com as empresas que trabalham na manutenção da iluminação pública, via abertura de nova licitação ou, ainda, por meio da própria Secretaria de Infraestrutura. Por enquanto, nada definido. O Executivo também corre contra o tempo para encerrar definitivamente o contrato com a Seleta e a Omep, que terceirizavam pessoal para Centros de Educação Infantil e escolas. Trad considerou a determinação judicial precipitada, pois obriga o Executivo a deixar setores deficientes com a demissão de 4,5 mil pessoas.

São exemplos de como a administração patina em dívidas e tropeça em obstáculos jurídicos, questionamentos diários do Ministério Público Estadual e falta de recursos. Nesse mesmo espaço, em abril, na análise dos 100 dias da nova gestão, foi dito que ainda não havia uma identidade formada e, até o momento, baseava-se em serviço de tapa-buracos. Pouco mudou desde então. Até o recapeamento executado pelo Exército, em contrato firmado em fevereiro, passa por percalços, impondo ritmo lento e obrigando a mudança do cronograma. Seja pelas dificuldades, seja por falhas no planejamento, dificilmente a prefeitura da Capital terá tempo hábil de mudar o cenário. Por enquanto, desdobra-se para arrumar a casa e chegar até o fim do ano sem acumular mais dívidas e, principalmente, manter a folha de pagamento em dia. É desafio que lida, também, com a paciência da população.

 

ARTIGOS

Poderá existir anistia aos atentados de 8 de janeiro?

29/11/2024 07h45

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O almirante ateniense Trasíbulo (440 a.C.) derrotou os 30 tiranos trazendo um exército inicial de 60 homens de Tebas e, depois da vitória, fez os atenienses que estavam divididos se reconciliarem.

A ele é atribuído o nascimento ou significado da palavra anistia (amnesia), dada aos atenienses ao editar lei concedendo o perdão àqueles que cometeram delitos, em nome do fortalecimento da paz.

A concessão de perdão ao longo da história sempre nos revela a existência de tensões sociais sobre as quais o perdão incidirá, resolvendo-as ou evitando-as.

No Brasil, são causas extintivas da punibilidade segundo a ordem penal: a) a morte do agente; b) a anistia, a graça e o indulto; c) a abolição do crime; d) a prescrição, a decadência ou a preempção; e) a renúncia ou o perdão, entre outros.

Fala-se que haveria uma disposição do Congresso Nacional de anistiar diversos fatos punidos recentemente pelo Supremo Tribunal Federal (STF), alguns deles, supõe-se, teriam, na visão do mesmo STF, atentado contra a ordem constitucional ou o Estado Democrático.

Caso de fato o Congresso decida praticar a anistia nesse último caso, certamente haverá reação de alguns partidos políticos que baterão às portas do STF indicando a proibição de anistia para aqueles que atentaram contra o regime democrático.

Novo contencioso se criará, porquanto há os que veem nos atentados de 8 de janeiro um movimento ordenado, um tipo de vandalismo, visando sobretudo a destruição do patrimônio público nacional, mas não propriamente um golpe de estado ou contra as instituições. Já há outros que enxergam no ocorrido um verdadeiro golpe em sentido mais amplo da palavra.

Quem está com a razão? E mais: qual a solução que melhor atende ao interesse social? A anistia ou a punição dos infratores à ordem jurídica?

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ARTIGOS

Reforma do Imposto de Renda e o pacote fiscal: impactos para o contribuinte e as contas públicas

29/11/2024 07h30

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A proposta de reforma do Imposto de Renda (IR), peça central do pacote fiscal do governo, chega em um cenário de incertezas econômicas. No dia do anúncio, o dólar atingiu R$ 5,91, o maior valor nominal da história, evidenciando as preocupações do mercado com o equilíbrio fiscal. A reforma busca isentar quem ganha até R$ 5.000 por mês e introduzir alíquotas progressivas para rendas acima de R$ 50.000, marcando uma tentativa de ajustar a tributação à realidade socioeconômica e reforçar a credibilidade do governo junto ao mercado.

Impactos e benefícios: a ampliação da faixa de isenção beneficia diretamente cerca de 26 milhões de brasileiros, reduzindo a carga tributária para outros milhões. Atualmente, quem ganha até R$ 2.824 está isento, e a proposta dobra essa faixa. Para rendas entre R$ 5.000 e R$ 7.500, um abatimento parcial foi proposto para minimizar o impacto.

Apesar do alívio, a renúncia fiscal projetada é significativa, variando entre R$ 35 bilhões e R$ 45 bilhões anuais, conforme estimativas da Receita Federal e de entidades como a Unafisco. O desafio está em garantir que os mecanismos compensatórios sejam suficientes para evitar desequilíbrios no orçamento público.

Compensação tributária: o governo propõe uma taxação progressiva para quem ganha acima de R$ 50.000 mensais, com alíquotas que variam entre 5% e 10%. As rendas isentas, como dividendos, serão incluídas no cálculo, aumentando a base de contribuição. Embora apenas 100 mil pessoas sejam impactadas por essas alíquotas mais altas, essa estratégia visa compensar a perda de arrecadação gerada pela isenção. Contudo, há riscos: a concentração da compensação em um grupo pequeno pode limitar os ganhos fiscais, enquanto a complexidade do sistema aumenta a necessidade de fiscalização eficiente.

Conexão com o pacote fiscal: a reforma do IR é uma das ações do pacote fiscal que pretende reduzir R$ 70 bilhões em despesas até 2026. Medidas como contenção de salários no funcionalismo e ajustes previdenciários complementam a estratégia para sinalizar compromisso com a sustentabilidade fiscal. Entretanto, o contraste entre uma isenção tributária de grande impacto e o discurso de austeridade pode gerar tensões. A eficácia dessas mudanças depende do crescimento econômico e da eficiência na execução administrativa.

Desafios operacionais: a transição para o novo sistema requer atenção para evitar distorções. Rendas ligeiramente acima de R$ 5.000 podem enfrentar aumentos abruptos de carga tributária caso o abatimento não seja suficiente, desestimulando avanços econômicos em faixas limítrofes. Além disso, incluir rendas atualmente isentas, como dividendos, demanda estratégias claras para evitar evasão fiscal e resistências de setores econômicos.

Considerações finais: a reforma do IR, inserida em um pacote fiscal estratégico, combina esforços para corrigir distorções tributárias e assegurar a sustentabilidade das contas públicas. No entanto, sua implementação carrega incertezas e desafios significativos. A renúncia de R$ 35 bilhões a R$ 45 bilhões anuais e a dependência de um pequeno grupo de contribuintes para compensar essa perda tornam a proposta especialmente sensível à eficácia da administração tributária e à capacidade de fiscalização.

Além disso, ajustes precisos serão necessários para evitar impactos desproporcionais em faixas de renda próximas à nova isenção, o que exige o aperfeiçoamento dos mecanismos de abatimento. A inclusão de rendas anteriormente isentas no cálculo das alíquotas progressivas para os mais ricos, embora bem fundamentada, pode ampliar a complexidade do sistema e gerar resistências, destacando a necessidade de clareza nas regulamentações e de um acompanhamento contínuo.

A conexão com o pacote fiscal mais amplo também ressalta a importância de articular essas mudanças com outras medidas de contenção de gastos e estímulo econômico. O sucesso da reforma dependerá da harmonia entre a arrecadação prevista, os cortes propostos e o desempenho da economia. Falhas de execução ou desvios no planejamento podem comprometer tanto o impacto fiscal quanto os objetivos de justiça tributária.

Portanto, a reforma deve ser tratada como parte de um processo contínuo, que exigirá monitoramento constante e ajustes com base nos resultados. O próximo cenário econômico será crucial para determinar se as medidas anunciadas conseguirão alinhar sustentabilidade fiscal, redistribuição de renda e competitividade econômica de forma eficiente.

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