É chocante descobrir elementos cada vez mais contundentes da precariedade em serviços que deveriam ser considerados essenciais.
Até quando os órgãos de segurança vão se fiar nodestino ou em algum poder superior, acreditando que são forças suficientes contra as grandes tragédias, a maioria, evitáveis? É chocante descobrir elementos cada vez mais contundentes da precariedade em serviços que deveriam ser considerados essenciais. Na edição de ontem do Correio do Estado, o alerta à população: a única autoescada do Corpo de Bombeiros em Campo Grande, utilizada em incêndio em lugares elevados foi desativada, “fora de combate” depois de quase quatro décadas de uso.
O equipamento, popularmente conhecido como escada Magirus, por causa da fabricante alemã, foi comprado na década de 1970. Desde então, passou por manutenção, sempre sendo a única opção para uso no combate a incêndio, principalmente em edificações. A autoescada de 30 metros, equivalente a prédio de 10 andares, era adequada para cidade ainda em desenvolvimento, mas hoje, incompatível com os empreendimentos que começaram a ser erguidos. Este, aliás, é outro capítulo da irresponsabilidade dos poderes públicos, que permitiram a construção de prédio com 35 andares no centro da Capital, podendo comprometer a segurança dos futuros moradores e do entorno. A fiscalização parece seguir critérios diferenciados para os grandes empresários. Aliado à precariedade existente, é um barril de pólvora de consequências desastrosas.
A desativação foi oficializada há dois anos; porém, há décadas já era de conhecimento de todas as administrações que passaram pelo governo de MS a necessidade de compra de equipamento mais moderno, que atendesse a realidade de uma Capital. É inaceitável que ação só tenha sido tomada em 2017, com a abertura de licitação em janeiro. O procedimento, aliás, está na mira do Tribunal de Contas do Estado e do Ministério Público do Estado (MPE). Também é de se estranhar a recusa de dispositivos acessários que seriam extremamente úteis no combate a incêndios. É o caso do projeto do vereador Chiquinho Telles, que determina a instalação de sprinkler (chuveiros automáticos) em prédios públicos e residenciais em Campo Grande.
Em abril deste ano, a proposta foi debatida com a Associação Comercial e o Corpo de Bombeiros, sendo rechaçada por ambos. As justificativas foram, pasmem, a crise que o País atravessa e o consequente custo da instalação e a existência de lei estadual sobre o assunto. Se há o temor de obrigatoriedade, fica evidente que nem todos seguem a legislação, uma prova da insegurança a que a população está sujeita.
Ingredientes para uma potencial tragédia não faltam: precariedade nos equipamentos, desmazelo das autoridades públicas com a modernização do sistema de combate ao incêndio e irresponsabilidade de setores importantes, como varejo, indústrias e construtoras, que deveriam primar pela segurança como investimento primordial na garantia da segurança. A economia feita até agora pode ser desastrosa no futuro, saindo muito mais caro para todos os envolvidos. Que a cidade jamais seja palco de exemplos trágicos, servindo de lição para que outros evitem os erros, tão evidentes, mas tão ignorados.