Pagamos mais caro e deixamos oportunidades de emprego e melhoria de renda beneficiarem produtores de outros estados
O potencial de Mato Grosso do Sul para o agronegócio é indiscutível. Tanto que a soja, o milho e a pecuária continuam sendo propulsores de nossa economia, gerando empregos e contribuindo significativamente para a arrecadação estadual. Com a chegada das fábricas de celulose a Três Lagoas, a silvicultura passou a entrar nesse ranking de destaque. Assim, vários produtores apostaram na nova atividade e plantaram eucalipto, acreditando que teriam destino certo para comercializar essa matéria-prima. Hoje, como mostra reportagem do Correio do Estado, são 200 mil hectares de florestas no Estado ainda com futuro indefinido. Essa problemática exemplifica, na prática, as consequências da omissão do Estado na orientação a quem decide iniciar investimentos na área rural.
Obviamente, começar um novo negócio – seja em que meio for – implica em riscos. É preciso planejamento, ter metas definidas, avaliar as despesas e o custo-benefício, além de conhecer o mercado.
Na área rural, há alguns diferenciais. Avaliar clima, solo e, novamente, não se esquecer do mercado consumidor. A Eldorado Brasil – que pertence ao Grupo J&F e que está em processo de venda – arrendou terras próximas num raio de 110 quilômetros de distância da fábrica, no máximo. Com os planos de expansão adiados até a conclusão da nova negociação, corre-se o risco de dificuldades para comercialização de florestas plantadas em municípios mais distantes. Não é recomendável, por exemplo, plantar cana-de-açúcar longe da usina, porque a logística não compensa. Mesmo preceito que deveria ter sido aplicado no caso do eucalipto.
Mato Grosso do Sul dispõe de quantidade invejável de terras, mas esse espaço ainda é pouco aproveitado. Em tempos de recessão econômica, a Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural (Agraer) deveria ampliar sua atuação, colocando técnicos e agrônomos à disposição de produtores que decidam investir em nova atividade. Hoje, pouquíssimo é feito para estimular a agricultura local. MS segue estagnado na produção de frutas, verduras e legumes, com grande dependência de outros estados. Produtos como banana, melão, laranja, abacaxi, batata e maçã percorrem vários quilômetros antes de chegar à mesa dos consumidores sul-mato-grossenses. Assim, pagamos mais caro e deixamos as oportunidades de emprego e melhoria de renda beneficiarem produtores de outros estados.
As atividades agrícolas ficam restritas. Os produtores atropelam-se nas mesmas culturas. Se o mercado não vai bem, quase todos “afundam” juntos. Então, todo o ano, repete-se o enredo de faltar armazéns para o milho safrinha, porque muitos ainda estão lotados com soja, aguardando melhores preços. Neste ano, por exemplo, a produção recorde de milho não pode ser devidamente comemorada porque o valor caiu 54%.
Diversificar a produção poderia trazer benefícios para todos, mas essa escolha precisa ser feita com orientação e avaliando corretamente o potencial do mercado consumidor. O governo do Estado tem de ampliar essa parceria, pois a frustração no campo também refletirá em decepção com a receita dos cofres públicos.