Os professores estão adoecendo, mas o que parece é que muitos deles não desejam os tratamentos de curto prazo, só remédios de efeito mais lento, no longo prazo.
Há quem diga – e não são poucos – que o melhor e mais consistente caminho para transformar a sociedade é por meio da educação. Também são muitos os que diagnosticam a sociedade atual como “doente”. As avaliações vão dos cientistas até os cidadãos do cotidiano, que constatam o que percebem – impressão que também costumamos chamar de senso comum.
De fato, há algo errado, até porque as constatações são de pessoas de todos as faixas etárias, níveis de escolaridade e classe social. Há um problema a ser resolvido. É preciso atacar a causa de um mal que deixa muitos ansiosos, deprimidos, em pânico e sem referências. A pista para a origem deste problema que respinga em toda a população certamente está nas rápidas transformações sociais, fenômeno que empresta o nome que lhe convém: perda de valores ou, segundo afirmação de uns ou de alguns, desequilíbrio. Enfim, independentemente do nome atribuído, os maus deste século atuam nas mentes e nos corpos das pessoas.
Nesta edição, publicamos um leantamento minucioso que mostra que o total de professores afastados seria suficiente para fazer com que algumas dezenas de escolas funcionem – somente com eles. Uma parte significativa destes docentes que estão em casa e que poderiam estar na sala de aula foi diagnosticada com doenças psiquiatricas, como depressão, síndromes do pânico e de burnout, além de outros transtornos.
Um paradoxo curioso deste fenômeno, que afasta milhares de docentes das escolas e gera gastos altíssimos para o poder público, é que o fato que ocasiona estes afastamentos são justamente os problemas sociais que poderiam ser transformados no longo prazo, por meio da educação, cujos principais agentes são eles: os professores.
Diante desta constatação, fica o questionamento: por que os professores também não começam a se transformar? O primeiro passo, certamente, seria modificar o ambiente de trabalho deles. Ao contrário de outrora, boa parte dos estudantes tem dificuldades de encontrar os valores que normalmente eram aprendidos em casa, como respeito e disciplina, por exemplo. Sem que estes valores estejam presentes nos alunos, o trabalho dos professores fica muitíssimo mais difícil.
É preciso que os educadores estejam abertos a discutir melhorias de curto prazo na educação, e não somente estratégias de longo prazo. O governo federal, por exemplo, tem dado início a um processo de militarização de algumas escolas. Alguns professores e entidades sindicais criticam a experiência piloto, mas, publicamente, pouco propõem em termos de soluções para um curto prazo. Um fato já tem sido constatado em alguns estados onde a experiência tem sido feita: com os policiais nos corredores das escolas, a qualidade do ensino melhorou: há mais respeito e disciplina no ambiente. Os professores estão adoecendo, mas o que parece é que muitos deles não desejam o tratamento no curto prazo.