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CORREIO DO ESTADO

Confira o editorial desta terça-feira: "Em defesa da legalidade"

Confira o editorial desta terça-feira: "Em defesa da legalidade"

Redação

06/06/2017 - 03h00
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Não há argumentos que possam se sobrepor às provas apresentadas. Se houve uso de dinheiro ilícito na campanha, a punição deve ocorrer.

Os brasileiros estão, novamente, diante de semana histórica e decisiva quanto ao futuro do Brasil. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) começa hoje o julgamento de ações que pedem a cassação da chapa Dilma-Temer por abuso de poder político e econômico nas eleições de 2014. A instabilidade é inevitável com a possível troca de comando do País em tão pouco tempo, quase um ano depois da cassação de Dilma Rousseff. Impactos econômicos, paralisação das reformas analisadas pelo Congresso e até mesmo guerra de acusações contra integrantes do Judiciário e Ministério Público surgem em uma tentativa de contrapor as acusações. Nada que deva comprometer o trabalho dos ministros do TSE, que terão de se pautar com base na legalidade.

As ações foram protocoladas há dois anos e meio. Por mais que novos pedidos de vista possam ser feitos, há de se considerar que já houve tempo para analisar os fatos apresentados e até mesmo as novas provas anexadas ao caso. As protelações só aumentariam esse momento de tensão, apenas empurrando o problema ou até inviabilizando os efeitos do possível resultado da cassação, dependendo do tempo para esse desfecho. O momento político é particularmente tenso e até mesmo o presidente teria pressa no julgamento, temendo que sua situação complique-se ainda mais.

Essa insegurança tem justificativa. Nas últimas semanas, vieram à tona graves suspeitas envolvendo Temer com explosiva delação dos donos da JBS, Wesley e Joesley Batista. O presidente tornou-se alvo de investigação no Supremo Tribunal Federal (STF) por corrupção passiva, obstrução à investigação de organização criminosa e participação em organização criminosa. Ainda, a prisão do ex-deputado federal Rodrigo Rocha Loures é encarada como grave ameaça. Ele é quem teria agendado a polêmica conversa entre Temer e Joesley Batista no Palácio Jaburu. Ex-assessor de Temer, de sua confiança, ficou conhecido por receber mala carregada com R$ 500 mil em propina da JBS. É o novo “homem-bomba” do Planalto, caso o poder de fogo de suas revelações não perca efeito antes.

Essas denúncias somam-se a outras revelações já comprometedoras feitas pelo empreiteiro Marcelo Odebrecht e pelo casal João Santana e Mônica Moura, responsável pelo marketing da campanha presidencial em 2014. O desgaste político a Temer tem sido inevitável. Além da reação popular – com manifestos que, infelizmente, terminaram em depredação de patrimônio público –, ele enfrenta debandada de sua base aliada. Algo que pode inviabilizar suas pretensões de aprovar as reformas trabalhista e econômica, defendidas por sua equipe como a salvação para tirar o País da grave recessão econômica.

Não há argumentos que possam se sobrepor às provas apresentadas. Se houve uso de dinheiro ilícito na campanha, a punição deve ocorrer. O que está em jogo não é a instabilidade econômica, mas, sim, a confiança no cumprimento das leis e no significado da Justiça. O cenário atual, inclusive, demonstra que a incerteza permanecerá, independentemente dos resultados. O que corrobora ainda mais com a necessidade de decisão coerente, que não deixe margens à sensação de impunidade.  
 

ARTIGOS

Poderá existir anistia aos atentados de 8 de janeiro?

29/11/2024 07h45

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O almirante ateniense Trasíbulo (440 a.C.) derrotou os 30 tiranos trazendo um exército inicial de 60 homens de Tebas e, depois da vitória, fez os atenienses que estavam divididos se reconciliarem.

A ele é atribuído o nascimento ou significado da palavra anistia (amnesia), dada aos atenienses ao editar lei concedendo o perdão àqueles que cometeram delitos, em nome do fortalecimento da paz.

A concessão de perdão ao longo da história sempre nos revela a existência de tensões sociais sobre as quais o perdão incidirá, resolvendo-as ou evitando-as.

No Brasil, são causas extintivas da punibilidade segundo a ordem penal: a) a morte do agente; b) a anistia, a graça e o indulto; c) a abolição do crime; d) a prescrição, a decadência ou a preempção; e) a renúncia ou o perdão, entre outros.

Fala-se que haveria uma disposição do Congresso Nacional de anistiar diversos fatos punidos recentemente pelo Supremo Tribunal Federal (STF), alguns deles, supõe-se, teriam, na visão do mesmo STF, atentado contra a ordem constitucional ou o Estado Democrático.

Caso de fato o Congresso decida praticar a anistia nesse último caso, certamente haverá reação de alguns partidos políticos que baterão às portas do STF indicando a proibição de anistia para aqueles que atentaram contra o regime democrático.

Novo contencioso se criará, porquanto há os que veem nos atentados de 8 de janeiro um movimento ordenado, um tipo de vandalismo, visando sobretudo a destruição do patrimônio público nacional, mas não propriamente um golpe de estado ou contra as instituições. Já há outros que enxergam no ocorrido um verdadeiro golpe em sentido mais amplo da palavra.

Quem está com a razão? E mais: qual a solução que melhor atende ao interesse social? A anistia ou a punição dos infratores à ordem jurídica?

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ARTIGOS

Reforma do Imposto de Renda e o pacote fiscal: impactos para o contribuinte e as contas públicas

29/11/2024 07h30

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A proposta de reforma do Imposto de Renda (IR), peça central do pacote fiscal do governo, chega em um cenário de incertezas econômicas. No dia do anúncio, o dólar atingiu R$ 5,91, o maior valor nominal da história, evidenciando as preocupações do mercado com o equilíbrio fiscal. A reforma busca isentar quem ganha até R$ 5.000 por mês e introduzir alíquotas progressivas para rendas acima de R$ 50.000, marcando uma tentativa de ajustar a tributação à realidade socioeconômica e reforçar a credibilidade do governo junto ao mercado.

Impactos e benefícios: a ampliação da faixa de isenção beneficia diretamente cerca de 26 milhões de brasileiros, reduzindo a carga tributária para outros milhões. Atualmente, quem ganha até R$ 2.824 está isento, e a proposta dobra essa faixa. Para rendas entre R$ 5.000 e R$ 7.500, um abatimento parcial foi proposto para minimizar o impacto.

Apesar do alívio, a renúncia fiscal projetada é significativa, variando entre R$ 35 bilhões e R$ 45 bilhões anuais, conforme estimativas da Receita Federal e de entidades como a Unafisco. O desafio está em garantir que os mecanismos compensatórios sejam suficientes para evitar desequilíbrios no orçamento público.

Compensação tributária: o governo propõe uma taxação progressiva para quem ganha acima de R$ 50.000 mensais, com alíquotas que variam entre 5% e 10%. As rendas isentas, como dividendos, serão incluídas no cálculo, aumentando a base de contribuição. Embora apenas 100 mil pessoas sejam impactadas por essas alíquotas mais altas, essa estratégia visa compensar a perda de arrecadação gerada pela isenção. Contudo, há riscos: a concentração da compensação em um grupo pequeno pode limitar os ganhos fiscais, enquanto a complexidade do sistema aumenta a necessidade de fiscalização eficiente.

Conexão com o pacote fiscal: a reforma do IR é uma das ações do pacote fiscal que pretende reduzir R$ 70 bilhões em despesas até 2026. Medidas como contenção de salários no funcionalismo e ajustes previdenciários complementam a estratégia para sinalizar compromisso com a sustentabilidade fiscal. Entretanto, o contraste entre uma isenção tributária de grande impacto e o discurso de austeridade pode gerar tensões. A eficácia dessas mudanças depende do crescimento econômico e da eficiência na execução administrativa.

Desafios operacionais: a transição para o novo sistema requer atenção para evitar distorções. Rendas ligeiramente acima de R$ 5.000 podem enfrentar aumentos abruptos de carga tributária caso o abatimento não seja suficiente, desestimulando avanços econômicos em faixas limítrofes. Além disso, incluir rendas atualmente isentas, como dividendos, demanda estratégias claras para evitar evasão fiscal e resistências de setores econômicos.

Considerações finais: a reforma do IR, inserida em um pacote fiscal estratégico, combina esforços para corrigir distorções tributárias e assegurar a sustentabilidade das contas públicas. No entanto, sua implementação carrega incertezas e desafios significativos. A renúncia de R$ 35 bilhões a R$ 45 bilhões anuais e a dependência de um pequeno grupo de contribuintes para compensar essa perda tornam a proposta especialmente sensível à eficácia da administração tributária e à capacidade de fiscalização.

Além disso, ajustes precisos serão necessários para evitar impactos desproporcionais em faixas de renda próximas à nova isenção, o que exige o aperfeiçoamento dos mecanismos de abatimento. A inclusão de rendas anteriormente isentas no cálculo das alíquotas progressivas para os mais ricos, embora bem fundamentada, pode ampliar a complexidade do sistema e gerar resistências, destacando a necessidade de clareza nas regulamentações e de um acompanhamento contínuo.

A conexão com o pacote fiscal mais amplo também ressalta a importância de articular essas mudanças com outras medidas de contenção de gastos e estímulo econômico. O sucesso da reforma dependerá da harmonia entre a arrecadação prevista, os cortes propostos e o desempenho da economia. Falhas de execução ou desvios no planejamento podem comprometer tanto o impacto fiscal quanto os objetivos de justiça tributária.

Portanto, a reforma deve ser tratada como parte de um processo contínuo, que exigirá monitoramento constante e ajustes com base nos resultados. O próximo cenário econômico será crucial para determinar se as medidas anunciadas conseguirão alinhar sustentabilidade fiscal, redistribuição de renda e competitividade econômica de forma eficiente.

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