Se empresas desse segmento fecharem as portas, as consequências serão ainda mais danosas à população.
A pecuária brasileira enfrenta período de incertezas e apreensão, em meio à recessão. A situação é agravada pela recente suspensão de compra de carne dos Estados Unidos e o receio de que outros países adotem medida semelhante. Ainda, há grave perigo na estratégia do governador Reinaldo Azambuja em reduzir o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) do boi em pé de 12% para 7% para operações interestaduais.
O objetivo seria, ao menos, conseguir manter a arrecadação diante da dificuldade que produtores rurais estavam encontrando para vender aos frigoríficos da JBS, gigante do setor que deixou de comprar à vista e enfrenta grave instabilidade depois dos escândalos revelados pelos irmãos Joesley e Wesley Batista. Mas, também, é iminente o risco de que esse estímulo dificulte a situação de outras plantas e até mesmo do grupo gigante do setor, que domina 45% dos abates feitos em Mato Grosso do Sul. Assim, se empresas desse segmento, que tem extrema importância na economia estadual, fecharem as portas, as consequências serão ainda mais danosas à população, seja pelo impacto aos cofres públicos ou pelo aumento do desemprego.
O desgaste à imagem de Azambuja pode se tornar ainda maior. Isso porque essa medida já é encarada com um tom de vingança aos irmãos Batista e executivos da empresa que, durante delação premiada, envolveram o nome do governador em esquema de pagamento de propina em troca de incentivos fiscais. O preço desse contra-ataque e das benesses exageradas concedidas à JBS por Azambuja e pelas gestões anteriores (André Puccinelli e José Orcírio Miranda dos Santos, o Zeca do PT) não pode ficar ainda mais alto. Por isso, a cautela é necessária para que não haja prejuízos mais significativos ao mercado da pecuária e a indústria frigorífica, setores que geram centenas de empregos aos sul-mato-grossenses.
Existe, sem dúvida, a preocupação em não permitir queda na receita neste momento em que todos os estados já sentem o peso da recessão, diante do consumo enfraquecido e da retração de investimento. considerando que muitos pecuaristas estavam “segurando” os bois no pasto. Poucos querem correr o risco de vender parcelado à JBS, pois até alguns bancos tem resistido a descontar as notas promissórias. Porém, essa medida momentânea pode ter alto preço futuramente. O frigorífico de Coxim está fechado e a unidade de Ponta Porã em férias coletivas. Já há rumores de que essa planta localizada na fronteira com o Paraguai pode ser fechada. Os planos de ampliação e até mesmo de novas unidades - que resultaram no recente termo de incentivos a na renúncia fiscal pelo Governo de quase R$ 1 bilhão no período de 12 anos - também serão prejudicados. As obras já estavam atrasadas.
A resposta completa incluiria o corte dos incentivos diante da confissão e da constatação de que os termos dos acordos estão sendo descumpridos. A gestão estadual não pode continuar com essa cumplicidade e perdendo receita sem que haja contrapartida de investimentos à população. Por isso, as reações não podem mais ser proteladas. É preciso avaliar alternativas para evitar perdas mais significativas decorrentes do fechamento de frigoríficos. A “represália” à JBS pode ter consequência ainda mais deletéria justamente pelo domínio no mercado local.
É preciso união de esforços para minimizar os prejuízos para produtores, trabalhadores e cofres públicos.