Artigos e Opinião

40 anos de lida e leads

Dia 3 de maio, festa pela divisão de Mato Grosso do Sul

Nesta data, em 1977, o presidente Geisel anunciou sua decisão de criar o "Estado de Campo Grande"

FAUSTO BRITES

05/10/2015 - 10h37
Continue lendo...

­­- Viva Mato Grosso do Sul ! 

Foi com esse grito, seguido de um efusivo abraço, que fui saudado pela vereadora Nelly Bacha, naquele início de noite  na Rua 14 de Julho em frente à loja do Gabura. Acompanhada de alguns amigos, ela estava em plena efervescência das comemorações por um mais avanço na criação do Estado de Mato Grosso do Sul, naquele 3 de maio de 1977, uma terça-feira, e que levou milhares às ruas da cidade.

Campo Grande, naquela tarde, fez um ‘‘feriado’’ improvisado, pois o presidente Ernesto Geisel mandou anunciar que, “depois de vários estudos, o Poder Executivo, concluiu pela conveniência de criar-se um novo estado na região sul de Mato Grosso”. O governador do Estado, José Garcia Neto, havia sido  comunicado horas antes da decisão presidencial. O chefe da Casa Civil do seu governo expediu uma nota onde informou que ele tinha sido informado da divisão quando da viagem do presidente Geisel à Aldeia de Taunay.

Tão logo houve o anúncio da decisão de Geisel teve início uma passeata e o trecho da 14 de Julho, entre a Avenida Afonso Pena e Rua Barão do Rio Branco, passou a receber inúmeras pessoas e, logo, o local estava lotado. As comemorações foram noite a dentro. Os campo-grandenses estavam eufóricos pois, finalmente,  nascia o novo Estado. 

A festa ao ar livre foi regada a cerveja e uísque, e o Correio do Estado, com sua equipe pela cidade registrou a alegria  daquela multidão que não só cantava como, dentre ela, algumas pessoas até dançavam. Comerciantes, comerciários, trabalhadores autônomos,  estudantes, morador de rua, peões de fazenda, enfim, os mais diferentes segmentos de atividades de Campo Grande estavam unidos nesta grande festa, animados por sambas improvisados.

Diante da grande concentração, o Departamento da Polícia Federal expediu nota, divulgada na televisão, para que as pessoas mantivessem calma para evitar acidentes.

Uma das gráficas imprimiu e distribuiu 100 mil folhetos com os dizeres ‘‘Mato Grosso do Sul - Ame-o ou deixe-o” e ‘‘Obrigado Geisel!”. Nos bares, a cerveja se esgotou e um cidadão não pensou duas vezes: deixou o local em sua caminhonete e voltou carregado, passando a distribuir a bebida para quem quisesse, de graça.

O prefeito Marcelo Miranda compareceu e abriu a primeira garrafa de champanhe para o brinde. Horas depois, decretou ponto facultativo e pediu para que, no dia seguinte, as pessoas fizessem seu feriado particular. Do Japão, o seu antecessor, Levy Dias  mandou um telegrama falando de sua satisfação pela criação do novo Estado.

O ex-governador do Mato Grosso, Pedro Pedrossian também ainda naquela noite, divulgou  declaração emocionada sobre a criação do novo Estado. Dizia seu comunicado: ‘‘Neste momento tão histórico, neste momento  tão decisivo, é difícil da gente separar a festa da reflexão’’. Afirmou que ‘‘nós temos que realmente refletir em torno daquilo que representou  o grande Estado de Mato Grosso, no papel desempenhado pelos nossos  amigos, dos nossos irmãos do Norte, mas hoje se verificou o fato, que é realmente um fato histórico, ou seja, a criação do Estado de Mato Grosso do Sul ou Estado de Campo Grande, não importa qual seja a cognominação”.

Pedrossian agradeceu ao presidente Geisel e disse ainda que “poucas pessoas de nossa geração tiveram a oportunidade de apreciar esse espetáculo de alegria do povo’’, afirmando também que ‘‘não é uma simples separação, esteja certo o presidente Geisel que tomou a medida certa’’.

De Cuiabá, Capital do Mato Grosso, o  deputado estadual Ruben Figueieró entrou em contato telefônico com a redação do Correio do Estado para expressar sua satisfação pelo momento histórico.

Algumas pessoas não sabiam os reais motivos daquela festa. Um peão da fazenda, que veio à cidade fazer compras, tinha ouvido que  ‘‘estavam querendo cortar o Estado ao meio’’. 

Outras, mostravam maior conhecimento, como um polidor de carro, de 66 anos, que ficou na calçada observando as pessoas cantar e dançar, mas não menos alegre.‘‘Olha meu filho. O nosso Estado é muito grande, sabe, por isso o presidente resolveu dividir ele para facilitar mais. Era duro demais para o governador cuidar de tudo. Isso aí é política velha, em 1930 houve até um tiroteio em Cuiabá por causa da divisão”, contou ele.

O nome Estado de Campo Grande era uma escolha pessoal do presidente Geisel que foi anunciado quando de sua decisão. Dai o porquê, em sua edição do dia 4 de maio, com a cobertura ampla do momento histórico, o Correio do Estado trouxe, na capa, as seguintes manchetes: ‘‘Campo Grande: O novo Estado”, ‘‘Campo Grande terá  governador próprio já em 78, diz Rangel” (referia-se ao ministro Rangel Reis, do Interior) e ‘‘Estado de Campo Grande é recebido com festa’’. Posteriormente, Geisel decidiu mudar a denominação da nova unidade da federação para Mato Grosso do Sul.

No dia 11 de outubro de 1977, o presidente Geisel assinou a criação de Mato Grosso do Sul, tendo o povo ido às ruas novamente para comemorar. 

Em 1 de janeiro de 1979  tomou posse o primeiro governador Harry Amorim Costa. 

Editorial

Fato e opinião: diferença que sustenta a verdade

Separar fatos de opiniões é mais do que um exercício intelectual, é um passo necessário para preservar a democracia, a informação qualificada e a própria lógica

16/05/2025 07h15

Arquivo

Continue Lendo...

Uma das distinções mais fundamentais no campo do jornalismo – e também na vida em sociedade – é a que separa fato de opinião. O fato é uma informação objetiva, passível de verificação por meio de documentos, registros ou observações. Não depende da visão de quem relata. Já a opinião é uma interpretação subjetiva, vinculada a crenças, sentimentos ou julgamentos individuais. O fato pode ser checado; a opinião, debatida. No entanto, essa diferença essencial parece cada vez mais ignorada.

Vivemos um tempo de confusão cognitiva coletiva, em que muitas pessoas têm dificuldade de identificar o que é constatação e o que é interpretação. Esse problema é agravado por redes sociais, onde os conteúdos circulam sem mediação e sem compromisso com a verdade. Notícias falsas, opiniões disfarçadas de fatos e discursos sem base concreta ganham o mesmo espaço – e o mesmo peso – que análises técnicas e dados verificados.

Por isso, nesta edição, destacamos um fato: desde que a Lei do Pantanal foi sancionada, o desmatamento no bioma caiu. A queda registrada é, inclusive, a maior entre todos os biomas brasileiros. Trata-se de um dado objetivo, apurado por fontes técnicas de monitoramento ambiental. Independentemente da opinião de qualquer grupo político, setor econômico ou indivíduo, o resultado é mensurável: o ritmo de supressão vegetal diminuiu.

É interessante observar que a lei foi aprovada justamente em um contexto de alta no desmatamento, ou seja, ela foi uma reação a uma realidade ambiental crítica. E teve efeito concreto: com regras mais claras, restrições maiores e monitoramento por satélite, ficou mais difícil desmatar. A legislação passou a funcionar como uma barreira efetiva à destruição do bioma, e os números refletem isso.

É claro que há quem discorde da existência da lei, de seu conteúdo ou de sua rigidez. Isso é opinião, e opiniões são bem-vindas – desde que reconhecidas como tal. O que não se pode fazer é negar o efeito que uma norma mais rígida teve sobre o desmatamento. Isso não é mais uma questão de perspectiva, mas de evidência.

A legislação ambiental, como se vê, não é inimiga da produção ou do desenvolvimento. É instrumento de equilíbrio e de ordenamento. E, quando ela funciona, como agora no Pantanal, o resultado positivo é algo que precisa ser reconhecido como fato, não como narrativa.

Separar fatos de opiniões é mais do que um exercício intelectual, é um passo necessário para preservar a democracia, a informação qualificada e a própria lógica. Sem isso, corremos o risco de viver em um país onde qualquer crença pode se impor como verdade – ainda que desmentida pela realidade.

Assine o Correio do Estado

ARTIGOS

Quando a esquerda vai voltar a ter pautas próprias?

14/05/2025 07h45

Arquivo

Continue Lendo...

Agora é essa conversa da camisa da seleção. Minhas redes sociais, cheias de amigos e conhecidos progressistas (dos lulistas aos marinistas, dos saudosistas aos pós-modernos), todos ulularam de satisfação: “Agora eu compro!”; “Vamos pra rua de camisa vermelha da seleção!”; “Quero ver a cara dos patriotas!”.

Gente, que pobreza de ideias é essa? Sou do tempo em que a gente comprava a camisa vermelha na barraquinha da Rua XV, junto com o broche do Henfil com a graúna indignando-se com alguma coisa. Mas na hora da Copa era a amarelinha ou a azul do manto de Nossa Senhora, a padroeira, porque futebol é crença e também é sofrimento.

Quem pautou essa bizarrice de tornar a sagrada camisa do penta em símbolo de passeata política foram os caras do “mito”. Uma tristeza, uma apropriação indébita, uma profanação cultural com o símbolo máximo do nosso futebol, envergada com galhardia por um Pelé, um Garrincha, um Gerson, um Rivelino, Tostão, Sócrates, Falcão, Júnior, Zico. Ah, tantos nomes gloriosos e inesquecíveis. 

A esquerda fica empolgada com essa peraltice da CBF porque perdeu o rumo de sua própria narrativa e vive hoje como a cacatua de uma tia minha, que só sabe repetir as palavras que ela ensina. Muito malandra, minha tia ensina frases para desconcertar as visitas, como “Já não está tarde, comadre?” ou “Ai, que tá na hora da minha novela!”. Essa última, minha tia jura que ela repete, mas nunca ouvi. De qualquer forma, achei genial. Para uma cacatua, não para as forças progressistas do País.

Será que acabaram as pautas? Estaremos mesmo com nossos problemas todos resolvidos e nos resta apenas ficar arengando com os bolsonaristas, respondendo às provocações deles? E olha que isso eles fazem muito bem. Esses dias, teve um vereador em Curitiba (PR)que disse que a Ku Klux Klan era contra as armas para os negros e (eita raciocínio louco esse!), por isso, os negros foram desempoderados. Tudo isso para defender uma homenagem aos CACs. E dá-lhe indignação na internet, mostrando o rostão do vereador, feliz e contente com o marketing indireto. 

O Brasil é um país de democracia deficitária. Tá tudo para ser feito – começando na escola, que deveria ter aulas sobre a Constituição como tem de Matemática. Ninguém tá satisfeito, porque nossa democracia é nota 6. Tá sempre passando raspando. Por isso, quem realmente se importa com ela deveria estar falando dela o tempo todo, sendo didático, lembrando das conquistas tão duramente alcançadas, como a saúde pública, a universidade pública, as políticas de atendimento aos mais pobres.

Mas também deveria estar falando do que falta, do que precisa ser feito, de como é importante garantir cidadania e bem-estar para todos e não só para os 140 mil que quase não pagam imposto. E tem de entender que conflito é da natureza da democracia e, por isso, criticar e ser criticado faz parte do jogo e que não dá para substituir um “mito” por outro, porque até os gregos já largaram mão desse negócio de mito há mais de 2.500 anos e a gente ainda fica nesse rame-rame.

O denuncismo sem proposta é, para dizer o mínimo, chato pra caramba. E há muito tempo os progressistas andam sem propostas visíveis. Sei que nos cursos de pós-graduação, nos fóruns acadêmicos e nas revistas especializadas circula muita ideia boa. Mas aqui no rés do chão, onde vivemos nós, simples mortais, na planície, é só baixaria, de todo lado. E agora tem mais essa história da camisa da seleção. Que tristeza!

Assine o Correio do Estado

NEWSLETTER

Fique sempre bem informado com as notícias mais importantes do MS, do Brasil e do mundo.

Fique Ligado

Para evitar que a nossa resposta seja recebida como SPAM, adicione endereço de

e-mail [email protected] na lista de remetentes confiáveis do seu e-mail (whitelist).