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CORREIO DO ESTADO

Editorial desta quarta-feira: "Desastre à vista"

Editorial desta quarta-feira: "Desastre à vista"

Redação

30/09/2015 - 00h00
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O excesso de zelo da PGJ desarticula os trabalhos na Câmara e coloca todos no mesmo “balaio de gato”. Indícios ainda não são provas; claro, é preciso continuar com a investigação

Os pedidos de prisão formulados pela Procuradoria-Geral da Justiça (PGJ) caíram como bomba na Câmara de Vereadores. Além da prisão do prefeito afastado, Gilmar Olarte, e do empreiteiro João Amorim, dono da Proteco, também foi solicitado o afastamento de 17 vereadores. O clima na sessão de ontem foi de tensão e até desequilíbrio de alguns parlamentares, que não conseguem disfarçar o nervosismo com a evolução da investigação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). O inquérito apura envolvimento no esquema de venda de votos para cassação do mandato de prefeito de Alcides Bernal.     

Embora os desdobramentos lembrem o efeito “arrasa quarteirão” da Operação Lava Jato – que foi comemorado pela população em geral, por prender empresários do alto escalão e políticos que se achavam acima do bem e do mal –, era necessário mais cautela da PGJ no pedido formulado. Afastar 17 vereadores inviabiliza o que já era precário: o trabalho legislativo da Capital. A Câmara de Vereadores já estava com fraco desempenho desde a primeira posse de Alcides Bernal e a montanha-russa não se estabilizou, mesmo com a entrada de Gilmar Olarte. Em agosto, o que já era deficiente tornou-se inoperante com as decisões judiciais que determinaram a saída de Olarte do cargo e que reconduziram Bernal à prefeitutra. E, além disso, o afastamento do vereador Mario Cesar, presidente da Casa de Leis. 

Os vereadores já estavam se articulando para eventual medida judicial que determine a saída de Bernal. Neste caso, uma nova eleição da mesa diretora, já que Flávio César, que entrou no lugar de Mario Cesar, disse que não quer assumir a prefeitura. Agora, tudo suspenso. Não se sabe que se quem está aí vai continuar até o fim do mandato. Na eventualidade do afastamento, os suplentes entram. Fica a dúvida sobre que trabalho pode ser feito com corpo legislativo novo a esta altura do campeonato. O excesso de zelo da PGJ desarticula os trabalhos na Câmara e coloca todos no mesmo “balaio de gato”. Indícios ainda não são provas; claro, é preciso continuar com a investigação e reunir tudo o que for possível para separar o joio do trigo. 

O desembargador Luiz Carlos Bonassini tem a difícil missão de decidir se afasta todos ou parte do grupo. Para isso, teria de examinar caso a caso, o que demandaria tempo. Porém, é avaliação criteriosa que pode evitar injustiças e ainda permitir que a Câmara de Vereadores exerça sua função, que é servir a população. Os efeitos são desastrosos para a cidade, que está abandonada. A deficitária gestão enfrenta crise econômica sem precedentes e, ainda, amarrada, sem que projetos importantes sejam votados pelos parlamentares, pois as prioridades são outras hoje: cada um tenta salvar o próprio pescoço. 
Atualmente, nunca se viu uma Casa de Leis tão desacreditada como esta. Para a população, sucessivos escândalos jogaram na lama todos,  independentemente de responsabilidade ou não. Fica difícil crer que os vereadores vão conseguir se reerguer incólumes de tudo o que vem acontecendo. Os efeitos vão ser sentidos por eles nas próximas eleições. 

 

Editorial

Quando a esperança pede uma pausa

A história da Malha Oeste não precisa terminar no abandono, mas também não pode continuar sendo contada apenas com promessas

14/05/2025 07h15

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Em certos momentos, parar para ajustar a esperança não é desistir, mas uma escolha prudente diante da realidade. Refrear expectativas é um gesto de maturidade coletiva, sobretudo quando se trata de políticas públicas e infraestrutura. É dessa pausa que falamos quando olhamos para o caso da Malha Oeste, ferrovia que atravessa Mato Grosso do Sul de leste a oeste e que há décadas vive em estado de abandono, sob uma concessão que pouco contribuiu para o desenvolvimento que dela se esperava.

A Rumo, atual concessionária, praticamente sucateou a estrutura da Malha Oeste. A inércia foi tamanha que, agora, o governo tenta encaminhar a relicitação da ferrovia, na tentativa de atrair novos investimentos.

Porém, sejamos francos: o trem das grandes expectativas já passa e está passando. Depois que passar, talvez ele nem volte a apitar na mesma estação. O tempo perdido foi demais. As promessas vazias, numerosas. A hesitação custou caro.

Enquanto se aguardava um plano concreto de revitalização, as empresas que poderiam justificar economicamente a reativação da ferrovia seguiram outro rumo. Literalmente. Projetos logísticos começaram a ser traçados de forma independente, como o leitor verá em outras matérias desta edição. Essa movimentação revela que o setor produtivo já não deposita confiança no futuro da Malha Oeste.

Não se trata apenas de frustração com a concessionária. A situação se agrava porque a mesma empresa que negligenciou a Malha Oeste opera, com rentabilidade e eficiência, uma ferrovia no norte do Estado. E é justamente para essa rota que as gigantes da celulose começam a voltar seus esforços logísticos, seja por trilhos ou por rodovias. O efeito dominó é claro: a Malha Oeste vai ficando para trás, esquecida nas margens da história e da competitividade.

Essa tendência é reforçada por uma conjuntura nacional nada favorável. O investimento público em infraestrutura, que já foi motor de desenvolvimento, hoje é cada vez mais raro. Os recursos mínguam e o governo federal parece mais preocupado em alimentar uma máquina pesada e ineficiente. A prioridade, ao que tudo indica, são as emendas parlamentares paroquiais, moeda de troca política que pouco ou nada contribui para transformar realidades estruturais como a da ferrovia sul-mato-grossense.

É por isso que, ao falarmos da Malha Oeste, talvez o mais honesto seja, sim, pausar. Esperar menos para sofrer menos. Não se trata de desistir de lutar por desenvolvimento ou pela reativação dos trilhos, mas de entender que, sem mudanças estruturais, tanto na forma de concessionar quanto de investir, qualquer nova esperança poderá ser apenas mais um vagão vazio passando em vão.

Cabe à sociedade civil, aos empresários e aos líderes políticos pressionar por modelos viáveis e sustentáveis. A história da Malha Oeste não precisa terminar no abandono, mas também não pode continuar sendo contada apenas com promessas. Nesse momento, a pausa na esperança pode ser o primeiro passo para, quem sabe, reconstruí-la com mais responsabilidade e realismo.

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ARTIGOS

Como a Selic a 14,75% afeta o seu bolso

13/05/2025 07h45

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O Banco Central (BC) apertou o freio na economia: elevou a taxa Selic para 14,75% ao ano, o maior nível em duas décadas. A medida é uma resposta direta à inflação que insiste em pesar no bolso do brasileiro, hoje em 5,48% – bem acima da meta oficial de 3% ao ano. Mas o que isso significa, na prática, para quem está longe dos gabinetes e mais perto do supermercado?

A lógica é simples. Quando os juros sobem, pegar dinheiro emprestado fica mais caro. Com isso, as pessoas compram menos e as empresas ficam com mais dificuldade para investir. A ideia é esfriar a economia e, assim, conter a alta dos preços. É um remédio amargo, mas, segundo a teoria, é necessário para manter a inflação sob controle e preservar o poder de compra.

Além disso, essa alta torna o Brasil mais atraente para investidores internacionais. Com juros mais altos, aplicações em reais se tornam mais lucrativas, o que ajuda a valorizar o real frente ao dólar – algo que também influencia no preço de produtos importados.

Apesar de a medida ser um esforço claro para conter a inflação, há uma pedra no caminho: os gastos do governo. Enquanto o BC tenta conter a circulação de dinheiro, políticas públicas que aumentam os gastos, como benefícios sociais ou estímulos ao consumo, podem ir na direção contrária, criando um conflito entre a política monetária (juros) e a política fiscal (gastos públicos).

Isso é chamado de paradoxo da política econômica. Traduzindo: é como tentar enxugar o chão com a torneira aberta. Se o governo gasta muito sem compensar esse aumento com receitas, a dívida pública cresce, o risco de descontrole fiscal aumenta e a inflação pode voltar com força. Nesse caso, o BC pode ser forçado a manter os juros altos por mais tempo – o que prolonga o aperto, ou a inviabilidade, para todos.

Nem todo mundo consegue “evitar dívidas” ou “planejar melhor”, como tanto se recomenda. Para milhões de brasileiros, o salário acaba antes do fim do mês e o cartão de crédito vira a única saída. Nesse cenário, o aumento da Selic é especialmente cruel.

Seguem dicas: o rotativo do cartão é uma das formas de crédito mais caras do mercado. Com juros altos, a dívida cresce em ritmo acelerado. Quem está no rotativo deve, se possível, buscar alternativas, como um empréstimo com taxas menores, por exemplo, o consignado. Fale com o seu gerente do banco para trocar dívida cara por dívida menos cara.

As compras parceladas aliviam o mês, mas podem virar armadilhas. Em tempos de Selic alta, o parcelamento costuma embutir juros cada vez mais altos. Vale fazer as contas antes de fechar a compra – e evitar parcelar bens de consumo não essenciais. Se a renda já está comprometida, negocie. Muitos bancos estão mais abertos à renegociação, especialmente diante de cenários tão desafiadores. Não hesite em buscar condições melhores para alongar ou reorganizar suas dívidas.

Sempre procure orientação. Há programas de educação financeira gratuitos que podem ajudar a organizar o orçamento e tomar decisões mais conscientes, como os oferecidos pelo BC, por cooperativas de crédito e até na internet, mas é preciso cautela com as ajudas buscadas na rede, já que aparecer pessoas que aproveitam dessa fragilidade para te vender soluções mágicas que, da noite para o dia, prometem “transformar a sua vida financeira”.

Para todos – mesmo quem não está endividado – a nova Selic tem efeitos imediatos:

  • Rotativo do cartão de crédito e cheque especial: os juros ficam ainda mais pesados. Pague o total da fatura. Nem que seja com um outro empréstimo, como disse anteriormente, “menos caro”;
  • Financiamentos e compras a prazo: o custo aumenta. Reavalie o momento e a prioridade;
  • Compras do dia a dia: a inflação ainda está presente. Vale comparar preços, trocar marcas e cortar excessos. Evite compras impulsivas;
  • Investimentos: o momento favorece aplicações conservadoras como Tesouro Selic ou CDBs de liquidez diária, que rendem mais com a Selic alta.

O Banco Central já deixou claro que, se a inflação não ceder, os juros podem subir mais. Mas manter a Selic nas alturas por muito tempo traz seus próprios riscos, como frear demais a economia e afetar o emprego.

O equilíbrio entre segurar os preços e cuidar das contas públicas é delicado – e fundamental para que a economia volte a crescer sem penalizar ainda mais quem já está no limite. Enquanto isso, o brasileiro segue entre o aperto e a esperança. Os pensamentos de ordem continuam sendo os mesmos: lucidez e decisões conscientes.

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