O excesso de zelo da PGJ desarticula os trabalhos na Câmara e coloca todos no mesmo “balaio de gato”. Indícios ainda não são provas; claro, é preciso continuar com a investigação
Os pedidos de prisão formulados pela Procuradoria-Geral da Justiça (PGJ) caíram como bomba na Câmara de Vereadores. Além da prisão do prefeito afastado, Gilmar Olarte, e do empreiteiro João Amorim, dono da Proteco, também foi solicitado o afastamento de 17 vereadores. O clima na sessão de ontem foi de tensão e até desequilíbrio de alguns parlamentares, que não conseguem disfarçar o nervosismo com a evolução da investigação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). O inquérito apura envolvimento no esquema de venda de votos para cassação do mandato de prefeito de Alcides Bernal.
Embora os desdobramentos lembrem o efeito “arrasa quarteirão” da Operação Lava Jato – que foi comemorado pela população em geral, por prender empresários do alto escalão e políticos que se achavam acima do bem e do mal –, era necessário mais cautela da PGJ no pedido formulado. Afastar 17 vereadores inviabiliza o que já era precário: o trabalho legislativo da Capital. A Câmara de Vereadores já estava com fraco desempenho desde a primeira posse de Alcides Bernal e a montanha-russa não se estabilizou, mesmo com a entrada de Gilmar Olarte. Em agosto, o que já era deficiente tornou-se inoperante com as decisões judiciais que determinaram a saída de Olarte do cargo e que reconduziram Bernal à prefeitutra. E, além disso, o afastamento do vereador Mario Cesar, presidente da Casa de Leis.
Os vereadores já estavam se articulando para eventual medida judicial que determine a saída de Bernal. Neste caso, uma nova eleição da mesa diretora, já que Flávio César, que entrou no lugar de Mario Cesar, disse que não quer assumir a prefeitura. Agora, tudo suspenso. Não se sabe que se quem está aí vai continuar até o fim do mandato. Na eventualidade do afastamento, os suplentes entram. Fica a dúvida sobre que trabalho pode ser feito com corpo legislativo novo a esta altura do campeonato. O excesso de zelo da PGJ desarticula os trabalhos na Câmara e coloca todos no mesmo “balaio de gato”. Indícios ainda não são provas; claro, é preciso continuar com a investigação e reunir tudo o que for possível para separar o joio do trigo.
O desembargador Luiz Carlos Bonassini tem a difícil missão de decidir se afasta todos ou parte do grupo. Para isso, teria de examinar caso a caso, o que demandaria tempo. Porém, é avaliação criteriosa que pode evitar injustiças e ainda permitir que a Câmara de Vereadores exerça sua função, que é servir a população. Os efeitos são desastrosos para a cidade, que está abandonada. A deficitária gestão enfrenta crise econômica sem precedentes e, ainda, amarrada, sem que projetos importantes sejam votados pelos parlamentares, pois as prioridades são outras hoje: cada um tenta salvar o próprio pescoço.
Atualmente, nunca se viu uma Casa de Leis tão desacreditada como esta. Para a população, sucessivos escândalos jogaram na lama todos, independentemente de responsabilidade ou não. Fica difícil crer que os vereadores vão conseguir se reerguer incólumes de tudo o que vem acontecendo. Os efeitos vão ser sentidos por eles nas próximas eleições.