A operação desencadeada pela Polícia Federal ontem poderia ter prestado serviço, informando à população a participação de quantos e quais partidos. Mas, isso não foi feito.
O período de campanha eleitoral é de disputa acirrada que, nos últimos anos, ganhou novo elemento, usado para disseminar informações, mas, também, arma de artilharia pesada: as redes sociais. A internet dominou, em vários momentos, debates acalorados e pertinentes entre eleitores, mas vários perfis foram montados apenas com intuito de desmoralizar e atacar candidatos. A operação desencadeada pela Polícia Federal ontem, a Face to Fake, poderia ter prestado serviço, informando à população a participação de quantos e quais partidos. Mas, isso não foi feito.
As apurações começaram depois que o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) recebeu várias denúncias de candidatos que sofreram vários ataques, principalmente pelo Facebook. Ontem, foram cumpridos 18 mandados de busca e apreensão, em Campo Grande e Dourados, com recolhimento de computadores em vários endereços. A estratégia descoberta no esquema não era amadora, já que havia contratação de pessoal para administrar os perfis falsos. Os contratados recebiam de R$ 4 a R$ 6 mil, valores pagos por empresas caseiras e de pequeno porte, aberta somente para contratação destes “funcionários”. Em caso de condenação, os envolvidos poderão ser condenados pelos crimes de calúnia, difamação e injúria eleitoral, com penas de 2 a 4 anos.
A Polícia Federal informou que identificou 95 perfis e comunidades que eram criados por pessoas contratadas para atacar, principalmente, os candidatos ao governo. Porém, em entrevista coletiva, os delegados disseram que os nomes dos investigados não seriam divulgados, nem os locais em que os mandados foram cumpridos, para que as investigações não fossem prejudicadas.
A adoção dessa estratégia protege os criminosos e chega a ser contrassenso do que foi feito até agora em outras ações da mesma Polícia Federal. O exemplo mais recente em Mato Grosso do Sul é a Operação Lama Asfáltica que, no dia em que foi deflagrada, em junho, vários endereços foram divulgados. Em entrevista à impresa, o nome de empreiteiros e empresas foram citados à exaustão e os suspostas esquemas relatados, até com valores. Não é plausível que se use dois pesos e duas medidas para operações desencadeadas pelo mesmo órgão. Em âmbito nacional, a Operação Lava Jato, foi amplamente divulgada pela PF e pelo Ministério Público Federal (MPF), sem poupar nomes de deputados, empreiteiros e altos dirigentes das construtoras. Por meio da ação policial é que a população teve amplo conhecimento das falcatruas e esquemas de corrupção comandados pela cúpula do PT e foi o estopim para as manifestações que tomaram conta do País este ano.
A opção de não se divulgar mais detalhes, tida como alternativa para que os trabalhos não sejam prejudicados, acaba funcionando como escudo das pessoas participantes do esquema, anteriormente, nas eleições, protegidas anteriormente pelo anonimato nas redes sociais. A abertura de dados poderia ser benéfica até para a própria ação d a PF, que poderia receber mais informações e elementos que garantiriam robustez ao inquérito.