Num momento difícil para as finanças da prefeitura, exigir, em troca de apoio, a secretaria que controla as obras pensando no dinheiro que ela movimento não é muito sensato.
A falta de sensibilidade de muitos políticos em momento de crise econômica, como ocorre em Campo Grande, é digna de repúdio. Nem mesmo em um momento em que a dificuldade de arrecadar recursos por meio da cobrança de impostos atinge prefeituras, estados e o governo federal, os pixulequeiros - aqueles supostos representantes da população, eleitos com voto popular, e exigem dinheiro sujo em troca de apoio - deixam de agir.
Em Campo Grande, especificamente, o prefeito Alcides Bernal perdeu nesta semana o apoio da bancada dos três vereadores do Partido dos Trabalhadores e está ainda mais isolado na Câmara de Vereadores, praticamente órfão de pai e mãe, na casa com 29 parlamentares. Entre os motivos da debandada do PT da quase invisível base de apoio de Bernal no Legislativo estava a concessão da Secretaria Municipal de Infraestrutura, Transporte e Habitação (Seintrha), pleiteada pelo partido, e negada por Bernal.
O momento é difícil para as finanças da prefeitura: a administração arrecada (R$ 91 milhões) mal dá para pagar o salário de seus funcionários (R$ 90 milhões) sem sobrar praticamente nada para despesas de custeio e investimento em infraestrutura. Nesta situação, exigir em troca de apoio, a secretaria que controla as obras públicas pensando exclusivamente no dinheiro que ela movimenta não parece muito sensato.
A analogia que pode ser feita à exigência petista é a seguinte: se não é possível, por causa das dificuldades econômicas, usufruir diretamente da “garapa”, que se controle então as canas-de-açúcar para que o próprio partido produza, no caso, o caldo de cana, que conveniente pode ser chamado de pixuleco, cafezinho ou
como queiram.
Em momentos como este que é possível perceber de maneira mais clara como são as regras do jogo político. Se existe autruísmo, preocupação com o bem estar da população, certamente estes valores vem depois do egoísmo partidário e nas vantagens que pode se tirar dos cargos públicos.
Encontrar uma solução para a crise, resolver o problema de buracos que espalham pela cidade, retomar a coleta de lixo, e voltar a pagar em dia os servidores municipais, parecem não ser as necessidades imediatas de Campo Grande para a bancada do PT na Câmara de Vereadores.
Em uma cidade onde praticamente não há recursos para comprar merenda escolar para crianças nas escolas e centros de educação infantil, fica difícil admitir negociações que envolvem uma secretaria que cuida de toda a infraestrutura em troca de apoio político.
É por causa de exemplos como este, que podemos chegar a conclusão que a crise que o Brasil vive atualmente não é somente de gestão, econômica ou política. É, antes de tudo isso, uma crise de valores, ou da falta deles.
Com os princípios e a moral dos nossos representantes totalmente corrompidos, fica difícil pensar em uma solução para o momento grave.