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CORREIO DO ESTADO

Editorial desta quarta-feira: "Falta de sensibilidade"

Editorial desta quarta-feira: "Falta de sensibilidade"

Redação

16/09/2015 - 00h00
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Num momento difícil para as finanças da prefeitura, exigir, em troca de apoio, a secretaria que controla as obras pensando no dinheiro que ela movimento não é muito sensato.

A falta de sensibilidade de muitos políticos em momento de crise econômica, como ocorre em Campo Grande, é digna de repúdio. Nem mesmo em um momento em que a dificuldade de arrecadar recursos por meio da cobrança de impostos atinge prefeituras, estados e o governo federal, os pixulequeiros - aqueles supostos representantes da população, eleitos com voto popular, e exigem dinheiro sujo em troca de apoio - deixam de agir.

Em Campo Grande, especificamente, o prefeito Alcides Bernal perdeu nesta semana o apoio da bancada dos três vereadores do Partido dos Trabalhadores e está ainda mais isolado na Câmara de Vereadores, praticamente órfão de pai e mãe, na casa com 29 parlamentares. Entre os motivos da debandada do PT da quase invisível base de apoio de Bernal no Legislativo estava a concessão da Secretaria Municipal de Infraestrutura, Transporte e Habitação (Seintrha), pleiteada pelo partido, e negada por Bernal.

O momento é difícil para as finanças da prefeitura: a administração arrecada (R$ 91 milhões) mal dá para pagar o salário de seus funcionários (R$ 90 milhões) sem sobrar praticamente nada para despesas de custeio e investimento em infraestrutura. Nesta situação, exigir em troca de apoio, a secretaria que controla as obras públicas pensando exclusivamente no dinheiro que ela movimenta não parece muito sensato.

A analogia que pode ser feita à exigência petista é a seguinte: se não é possível, por causa das dificuldades econômicas, usufruir diretamente da “garapa”, que se controle então as canas-de-açúcar para que o próprio partido produza, no caso, o caldo de cana, que conveniente pode ser chamado de pixuleco, cafezinho ou 
como queiram.

Em momentos como este que é possível perceber de maneira mais clara como são as regras do jogo político. Se existe autruísmo, preocupação com o bem estar da população, certamente estes valores vem depois do egoísmo partidário e nas vantagens que pode se tirar dos cargos públicos.

Encontrar uma solução para a crise, resolver o problema de buracos que espalham pela cidade, retomar a coleta de lixo, e voltar a pagar em dia os servidores municipais, parecem não ser as necessidades imediatas de Campo Grande para a bancada do PT na Câmara de Vereadores.

Em uma cidade onde praticamente não há recursos para comprar merenda escolar para crianças nas escolas e centros de educação infantil, fica difícil admitir negociações que envolvem uma secretaria que cuida de toda a infraestrutura em troca de apoio político.

É por causa de exemplos como este, que podemos chegar a conclusão que a crise que o Brasil vive atualmente não é somente de gestão, econômica ou política. É, antes de tudo isso, uma crise de valores, ou da falta deles.

Com os princípios e a moral dos nossos representantes totalmente corrompidos, fica difícil pensar em uma solução para o momento grave.

Editorial

As propriedades estão mais produtivas

O campo não é mais o mesmo, e os discursos sobre ele também precisam evoluir: o País mudou, e a política de acesso à terra precisa acompanhar essa mudança

20/05/2025 07h15

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Nas últimas décadas, o Brasil rural passou por uma revolução silenciosa, mas de impacto gigantesco: a produtividade no campo atingiu patamares históricos. Tecnologias de ponta, mecanização intensiva, biotecnologia e novas cadeias de produção tornaram obsoletos alguns dos argumentos mais repetidos por movimentos sociais, como o dos sem-terra, na década de 1990. Naquela época, a improdutividade era o principal combustível para as ocupações de fazendas. Propriedades que estavam “paradas” eram alvos legítimos – pelo menos no discurso – para fazer pressão por reforma agrária.

Hoje, o cenário é outro. As propriedades que não produzem são exceções. Com a valorização das commodities agrícolas e o crescimento da demanda mundial por alimentos, praticamente qualquer hectare de terra fértil se tornou economicamente viável. Não só para plantar soja ou criar gado, como no passado. Há uma nova geografia agrícola que inclui culturas como trigo, sorgo, eucalipto e mandioca e atividades como a suinocultura e a avicultura industrial. O campo virou negócio – e um bom negócio.

Essa transformação reduziu drasticamente a margem para que movimentos sociais reivindiquem terras sob o argumento de que estão ociosas ou improdutivas. Mesmo a retenção de grandes áreas para especulação imobiliária, que já foi um problema relevante, praticamente desapareceu. Quem tem terra, explora. E quem explora, gera emprego, paga impostos e movimenta a economia, além de, em muitos casos, estabelecer parcerias com a comunidade local e contribuir com infraestrutura e serviços.

Reportagem desta edição mostra um exemplo claro dessa nova realidade: uma fazenda extremamente produtiva, com papel fundamental na recuperação judicial de uma grande empresa, que, ainda assim, entrou na mira do movimento dos sem-terra. Trata-se de uma propriedade que cumpre sua função social com excelência, mas que, paradoxalmente, está sendo tratada como se fosse uma terra abandonada ou sem utilidade social. Isso revela um descompasso entre a retórica de alguns movimentos e a realidade do campo brasileiro.

Não se trata aqui de negar a importância histórica da reforma agrária ou o direito de grupos sociais de reivindicar melhores condições de vida. Mas é preciso reconhecer que o País mudou e que a política de acesso à terra precisa acompanhar essa mudança. Se o governo federal ainda pretende investir em reforma agrária, esse projeto precisa ser repensado, ganhar nova roupagem. É hora de se falar em uma “reforma agrária 2.0”.

Esse novo modelo não pode se basear apenas na distribuição de terras, mas deve envolver acesso a crédito, assistência técnica, logística, mercado e, acima de tudo, integração com a economia moderna do agronegócio. Não faz sentido redistribuir terras se os beneficiários não tiverem condições reais de transformá-las em unidades produtivas e sustentáveis. O fracasso de muitos assentamentos passados prova isso.

Por fim, é preciso retomar o verdadeiro significado do termo “função social”. Produzir alimentos, empregar pessoas, cuidar do meio ambiente e investir na comunidade também são atos sociais. A palavra “social” não pode ser sequestrada por discursos ideológicos. O campo brasileiro não é mais o mesmo, e os discursos sobre ele também precisam evoluir.

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ARTIGOS

Hábito de leitura no Brasil: como mudar o panorama atual?

17/05/2025 07h45

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A criação do hábito de leitura é um dos pilares essenciais para o desenvolvimento humano, especialmente durante a infância, já que estimula a imaginação, a empatia e o pensamento crítico. No entanto, com o avanço da tecnologia, essa prática tão importante vem sendo cada vez mais negligenciada, especialmente no Brasil.

De acordo com a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada pelo Instituto Pró-Livro, 53% dos brasileiros não leram livros em 2024, o que representa uma queda de quase 7 milhões de leitores em relação a 2019. Além disso, 73% da população não completou sequer uma leitura no mesmo ano.

Esses dados alarmantes reforçam uma urgência: o incentivo à formação de leitores desde a primeira infância, pois estamos perdendo leitores para as telas antes mesmo de se consolidar o processo de alfabetização. E essa responsabilidade deve ser compartilhada pelas escolas, pelas famílias e por toda a sociedade. Isso porque, o contato com a leitura é fundamental para o desenvolvimento social, emocional e pedagógico das crianças.

De concentração a percepção de si mesmo: crianças que têm contato frequente com os livros desenvolvem maior capacidade de concentração e foco. A leitura contínua estimula ainda o cérebro a manter a atenção por períodos mais longos, favorecendo também a memória de trabalho e a autorregulação, uma habilidade essencial para lidar com emoções como estresse e ansiedade.

Além disso, o envolvimento com diferentes tipos de texto fortalece habilidades cognitivas como observação, análise, síntese e interpretação. Crianças leitoras geralmente demonstram maior sensibilidade aos detalhes, melhor compreensão de contextos e mais agilidade na construção de inferências, competências fundamentais para a resolução de problemas e tomada de decisões ao longo da vida.

Já do ponto de vista emocional e social, a leitura também contribui significativamente para o desenvolvimento da empatia, da criatividade e da linguagem oral e escrita. Ao mergulhar em histórias, é possível se colocar no lugar do outro, ampliar o repertório cultural e construir sentidos sobre o mundo e sobre si mesmos. Por isso, o hábito de leitura deve ser cultivado não apenas como uma estratégia pedagógica, mas como um direito fundamental da infância.

Os desafios do mundo moderno: a presença constante da tecnologia incentivou o uso excessivo de telas, muitas vezes em detrimento de interações presenciais e experiências sensoriais. Essa exposição prolongada a dispositivos eletrônicos pode comprometer o desenvolvimento da atenção, da linguagem e da imaginação, todas capacidades essenciais para a formação de leitores.

Diante desse cenário, fomentar o gosto pela leitura torna-se ainda mais crucial. Promover uma relação afetiva e significativa com os livros ajuda a equilibrar os estímulos imediatos das telas com a profundidade e a concentração que a leitura exige e proporciona, sendo essa uma missão para as escolas e também para as famílias.

Inspiração e exemplo: os educadores devem atuar como mediadores e inspiradores, proporcionando ambientes acolhedores que incentivem a leitura por prazer. Isso pode se dar por meio de atividades como rodas de leitura, compartilhamento de histórias e projetos literários interdisciplinares. Já os familiares, precisam reservar um tempo para ler em voz alta, demonstrar interesse pelas histórias e limitar o uso de telas, especialmente antes de dormir.

Em suma, a formação de leitores e o cultivo do hábito de leitura são fundamentais para o desenvolvimento pleno de crianças e jovens. Afinal, esse é o caminho mais promissor para formar cidadãos críticos, sensíveis e preparados para transformar o mundo com ética, imaginação e esperança.

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