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CORREIO DO ESTADO

Editorial desta quarta-feira: "Perda de tempo"

Editorial desta quarta-feira: "Perda de tempo"

Redação

07/10/2015 - 00h00
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As greves, embora sejam direito constitucional, em momento de crise, não surtem o efeito desejado para os trabalhadores e ainda afetam o atendimento

O direito à greve também é assegurado ao servidor público na Constituição Federal de 1988. Porém, a exemplo de qualquer paralisação, traz série de consequências à população. Em Campo Grande, tivemos recentes exemplos de como a suspensão dos serviços pode ser prejudicial aos usuários do sistema e com pouco efeito para os trabalhadores. A política de corte de gastos do governo federal não dá margem para ampliar índices de reajuste e, por isso, deveria prevalecer o bom senso de algumas categorias.

Um exemplo é a greve dos professores da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), iniciada em junho. Em assembleia, ontem, a paralisação foi mantida, porém, há indicativo do fim da manifestação na próxima semana. O complicador é que existe a intenção de se suspender o calendário do segundo semestre, já que muitos acadêmicos ainda estão terminando as aulas do primeiro semestre, em pleno outubro. A medida não atingiria todos os alunos, já que parte dos profissionais não aderiu ao movimento paradista e alguns cursos continuaram normalmente, a exemplo de Medicina e Ciências da Computação. Para quem tentava se formar ainda este ano, a esperança foi enterrada de vez com essa perspectiva.

Em relação aos servidores técnicos administrativos da UFMS, que estavam em greve desde maio, foi defendido que o movimento só acaba quando o Ministério do Planejamento encaminhar reposição de hora. A categoria pedia 27,3% de salário para compensar as perdas dos últimos cinco anos. A proposta do governo federal permaneceu a mesma: reposição de 5,2% a ser paga em agosto de 2016 e mais 5% em janeiro de 2017. Nessa queda de braço, perderam os acadêmicos e estudantes de pós-graduação, mestrado ou doutorado, que precisavam recorrer a atendimento administrativo e ficaram a ver navios, perdendo prazos. Ontem, foi a vez dos bancários iniciarem a paralisação, ato que até parece fazer parte do calendário anual da categoria. Se perdurar, os efeitos logo serão sentidos pela população, como desabastecimento dos caixas automáticos e dificuldades em transações que exigem atendimento direto.

Em Campo Grande, tivemos dois exemplos de como a greve pode ser prejudicial. Médicos e professores da rede pública fizeram manifestação por reajuste. O índice pedido não foi concedido, já que a prefeitura alegou falta de capacidade financeira para concedê-lo. Foram dados porcentuais abaixo do esperado. É consequência da crise que começou no governo federal e afeta todas as administrações, em todo o País. No caso dos docentes, a paralisação durou três meses e afetou o calendário escolar, com reposição de aulas nos fins de semana e feriados, comprometendo a qualidade do ensino. No sistema de saúde, muitas pessoas ficavam horas nos postos de saúde à espera de atendimento.

O ano ainda reserva muitos dissabores à população, que vem sofrendo com a retração econômica e queda no poder de consumo. As greves, embora sejam direito constitucional, em momento de crise, não surtem o efeito desejado para os trabalhadores e ainda afetam o atendimento. Até agora, mostrou-se perda desmedida de tempo de todos 
os envolvidos.

Editorial

O leito que falta: um problema de todos

O leito que falta hoje pode ser o de qualquer um de nós amanhã. E, nesse ponto, o problema deixa de ser só do outro: é, e sempre foi, um problema de todos

17/05/2025 07h15

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É triste constatar que, em pleno 2025, Mato Grosso do Sul ainda não apresenta projetos consistentes para enfrentar a crescente escassez de leitos hospitalares na rede pública. Mais preocupante do que a ausência de iniciativas é a aparente indiferença de parte dos gestores públicos diante de um problema que, cedo ou tarde, afetará diretamente toda a população, inclusive quem hoje acredita estar protegido por planos de saúde privados.

A raiz da crise é complexa, mas há fatores evidentes e evitáveis. A baixa capacidade de investimento dos entes públicos tem um papel central, sem dúvida, mas não se pode ignorar o impacto desastroso da forma como são utilizadas as emendas parlamentares no orçamento da União. A lógica paroquial, que transforma recursos públicos em moedas de troca para atender interesses eleitorais locais, é corrosiva. Em vez de investimentos estruturantes na saúde, como a abertura de novos leitos hospitalares, o dinheiro é pulverizado em pequenas obras, compra de tratores ou projetos sem descrição clara. Atende-se a poucos, e mal.

Essa fragmentação do Orçamento revela uma distorção grave na nossa democracia representativa: a prioridade deixou de ser o bem público e passou a ser a manutenção de currais eleitorais. Enquanto isso, problemas estruturais se acumulam, sem resposta adequada. A saúde pública sente esse impacto de maneira particularmente dura. A cada novo surto, crise sanitária ou aumento de demanda, o sistema entra em colapso – não por falta de profissionais ou de capacidade técnica, mas por pura ausência de leitos disponíveis.

Campo Grande, a capital do Estado, é um retrato fiel dessa negligência. A reportagem que segue nesta edição revela o que aqueles que dependem do SUS já sabem de cor: há filas para internações, pacientes aguardando vagas em prontos-socorros superlotados e famílias angustiadas com a falta de uma estrutura minimamente adequada. E o pior: mesmo em um cenário tão crítico, as autoridades parecem pouco mobilizadas para reverter a situação.

A lógica do clientelismo que se impôs sobre a política brasileira cobra seu preço. Em vez de técnicos capacitados e compromissados com o planejamento de longo prazo, temos apadrinhados políticos ocupando cargos estratégicos. Em vez de projetos estruturantes, temos soluções paliativas – quando muito. Em vez de visão de Estado, temos cálculos eleitorais. O resultado é a perpetuação de problemas como a falta de leitos hospitalares, que compromete a vida e a dignidade de milhares de cidadãos.

É urgente que o debate sobre emendas parlamentares ganhe centralidade no debate público. O Brasil precisa rever profundamente a forma como distribui e fiscaliza o uso desses recursos. Não se trata de eliminar o instrumento, mas de transformá-lo em ferramenta de desenvolvimento real e equitativo. A saúde deve ser prioridade, e isso precisa estar refletido em cada decisão orçamentária.

É uma pena que, enquanto isso não acontece, o cidadão comum continue enfrentando corredores lotados, espera indefinida e sofrimento evitável. O leito que falta hoje pode ser o de qualquer um de nós amanhã. E, nesse ponto, o problema deixa de ser só do outro: é, e sempre foi, um problema de todos.

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ARTIGOS

Hierarquia em postos de trabalho: lutas e dilemas

16/05/2025 07h45

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As responsabilidades dos postos de trabalho são diversas e complexas e respondem a uma hierarquia estrutural das empresas. Recentemente, fiz mais uma entrevista em uma organização para uma vaga disponível e, mais uma vez, ofereceram-me uma colocação que não tinha nada a ver com a minha formação e experiência profissional. Era um posto de assistente administrativo, para atender, no balcão, as pessoas que necessitam de encaminhamento e orientação. Sendo psicóloga de formação, com pós-graduação em Psicoterapia de Orientação Analítica, encerrando mais uma em transtorno do espectro autista (TEA), e professora de Libras, me assustei com a completa invisibilidade do meu currículo para a empresa.

Para revidar esta proposta, perguntei à pessoa que estava me entrevistando se não havia uma vaga para a área de Psicologia. Percebi que o que eu estava perguntando era irreal para a empresa, porque este posto não é, em geral, ofertado para pessoas com deficiência (PCDs). Ainda que eu sonhe com esse posto, o mercado de trabalho não reserva esse espaço para mim. Existe somente uma compreensão: as organizações só empregam PCDs em razão da Lei de Cotas, artigo 93 da Lei nº 8.213/91, porém, não garantem a inclusão nem minimizam as discriminações.

Ter algum tipo de deficiência não pode anular a capacidade e as habilidades dos profissionais. Como podemos mostrar isso para a sociedade? Como podemos nos empoderar para enfrentarmos essas barreiras?

As dificuldades e os empecilhos da aceitação social da diversidade são marcas que vieram com a escravidão portuguesa, com as propagandas de governos sobre o branqueamento da população e com o apagamento de classes desfavorecidas. Os preconceitos se multiplicaram durante mais de dois séculos, e nos encontramos diante de uma batalha de titãs. Não podemos esmorecer. Temos de nos fortalecer por meio de cursos de formação, da divulgação de textos, de fazer com que as leis sejam cumpridas, criando associações, grupos de trabalho, grupos de estudos, entre outras atividades que possam nos legitimar como grupo social.

Podemos criar projetos e planos de carreira para desmantelar essa cultura empresarial de rejeitar a troca de saberes e conhecimentos na hierarquia dos postos de trabalho. Precisamos também garantir nosso lugar, para que possamos nos desenvolver e conseguir crescer junto com os demais funcionários. Não falo sozinha, pois, sempre que discuto com meus colegas nas redes sociais, vejo que eles e elas também se manifestam nesse sentido de não lhes darem oportunidade de avançar em suas carreiras profissionais.

Apesar de estarmos tão avançados nos meios de comunicação e nas tecnologias da informação, parece que os preconceitos não caminham paralelamente. Pelo contrário, parece que se acentuam. Ainda que aceitemos os tratamentos indevidos pelas empresas, precisamos combater as indiferenças, as humilhações e as dificuldades de relacionamento para alcançarmos vagas de trabalho condizentes com nossa formação e experiência profissional.

Menciono aqui as pessoas com autismo, que podem e devem trabalhar, pois sofrem de uma condição que não pode ser vista como uma deficiência. Trata-se de um transtorno do neurodesenvolvimento do indivíduo que interfere na capacidade de interação social, linguagem, comunicação e comportamento e que pode ser tratado por meio de terapias.

Atualmente, temos muitos diagnósticos de TEA tardios, pois o transtorno inclui uma variedade de características, mas, com acompanhamento especializado, são pessoas e profissionais capacitados para estudar e trabalhar.

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