Artigos e Opinião

CORREIO DO ESTADO

Editorial desta quinta-feira: "Mais dinheiro, mais cautela"

Editorial desta quinta-feira: "Mais dinheiro, mais cautela"

Redação

24/09/2015 - 00h00
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É preciso, neste momento, muita cautela com esse alívio financeiro nas contas do governo, proporcionado pelo uso das contas judiciais e aumento de impostos

Já é certo que as leis complementares estadual e federal que autorizam o uso de até 70% do valor depositado judicialmente, pelo governo do Estado, vão trazer alívio de caixa em momento de crise econômica, em que há dificuldade de redução de gastos no setor público, e mais problema ainda em aumentar receita. 

Veio em momento oportuno o uso de R$ 160 milhões mensais do total de R$ 1,419 bilhão depositados nas contas únicas dos tribunais estaduais e federais, pela administração de Mato Grosso do Sul, para pagar juros da dívida pública com a União, capitalização do sistema de previdência Estadual e para pagamentos de precatórios judiciais de pequeno valor. Libera a equipe de Reinaldo Azambuja para usar os recursos oriundos da arrecadação mensal, que teriam de ser utilizados nestas obrigações, em outras ações do governo do Estado, como garantia de pagamento de 13º salário aos seus servidores e investimento em setores estratégicos, como o de infraestrutura. 

Simultaneamente a este alívio financeiro de fim de ano, proporcionado por lei complementar federal de iniciativa do senador José Serra (PSDB-SP) e sancionada no mês passado, pela presidente Dilma Rousseff (PT), o governador Reinaldo Azambuja poderá ter, em breve, outro reforço de caixa, em meio à dificuldade para se arrecadar: o aumento de impostos sobre produtos considerados supérfluos, sobre heranças e sobre automóveis. Esta proposta, que onera ainda mais o contribuinte, está tramitando na Assembleia Legislativa.

Essa feliz coincidência para o governo do Estado, que trará mais dinheiro para os gestores, deverá significar mais responsabilidade por parte deles. A aplicação desses recursos, que vêm em boa hora, deve ser muito responsável, transparente e acompanhada com rigor, por todos os organismos da sociedade civil. 

Boas escolhas dos governantes, neste momento de crise, significarão mais força para enfrentar, num futuro próximo, situações difíceis que poderão vir pela frente. É preciso, agora, muita cautela com esse alívio financeiro proporcionado pelo uso das contas judiciais e aumento de impostos. Apenas resolver problemas e desafios de curto prazo significará simplesmente adiar o enfrentamento da crise. 

Os investimentos, se existirem, terão de ser bem planejados, sejam eles em infraestrutura, incentivo à produção, ou estruturação do serviço público. Com a máquina pública mais eficiente, sobrará mais dinheiro para o governo do Estado facilitar a vida de seus cidadãos.

O governo e o Poder Judiciário também deverão ter o cuidado de não criar problemas futuros, com os possíveis efeitos colaterais dessas medidas. O uso dos recursos das contas judiciais não poderá prejudicar as partes dos processos em andamento. Sobre o aumento de impostos, seria interessante que eles, se de fato se elevarem, sejam depois reduzidos, quando a situação melhorar. 

Editorial

A farra das diárias e o municipalismo

O que se espera de um líder municipalista é coerência, e não a exploração de brechas que permitam benefícios pessoais camuflados sob a justificativa do interesse público

10/05/2025 07h15

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A reportagem em destaque nesta edição traz à tona uma reflexão necessária e incômoda: os prefeitos de Mato Grosso do Sul parecem não estar aprendendo nada. Em meio a discursos inflamados sobre ética, responsabilidade fiscal e compromisso com os municípios, o que se vê, na prática, são episódios que contradizem completamente essa retórica. A suspeita de uso indevido de diárias envolvendo o ex-prefeito de Nioaque, que também presidiu por anos a Associação dos Municípios de Mato Grosso do Sul (Assomasul), é mais um capítulo vergonhoso nesse cenário.

A Assomasul, como o nome já indica, representa os interesses dos municípios. Seu presidente deveria ser um defensor do municipalismo na essência: proximidade com o cidadão, zelo pelos recursos públicos, valorização da transparência e busca constante por eficiência na gestão. O que se apresenta, no entanto, é uma conduta que pode comprometer a imagem de toda a causa municipalista, tão alardeada nos últimos anos como a solução para muitos dos males da administração pública.

E o que dizer da questão das diárias? O Ministério Público apura a suspeita de que o ex-prefeito, enquanto presidente da Assomasul, tenha recebido diárias tanto da Prefeitura de Nioaque quanto da associação para cobrir os mesmos compromissos. Se confirmadas as irregularidades, não se trata apenas de um erro técnico, mas de uma prática que pode configurar má-fé com o uso do dinheiro público – justamente aquele recurso que, segundo o discurso dominante, está sempre em falta.

É lamentável, sobretudo, que essa conduta venha de alguém que, enquanto representante dos municípios, muitas vezes foi a Brasília (DF) em nome do “interesse coletivo”, pedindo mais repasses e reclamando da escassez de verbas. Afinal, se falta dinheiro, para onde está indo o que já se tem? O que se espera de um líder municipalista é coerência, e não a exploração de brechas que permitam benefícios pessoais camuflados sob a justificativa do interesse público.

Nos últimos anos, o que mais se ouviu foram queixas das prefeituras sobre a insuficiência de recursos. A narrativa da “crise permanente” se tornou corriqueira, quase automática. No entanto, situações como a revelada pela investigação do Ministério Público lançam dúvidas legítimas sobre a real aplicação dos recursos e sobre a lisura de muitos dos que ocupam cargos de responsabilidade.

É preciso que a população esteja atenta. A vigilância da sociedade é uma ferramenta poderosa de controle. Os eleitores devem estar conscientes de que o voto não encerra o dever cívico, mas o inaugura. Da mesma forma, os órgãos de fiscalização e controle precisam atuar com firmeza e independência, para coibir abusos e garantir que o dinheiro público não continue sendo tratado como propriedade privada de poucos.

Este ocorrido, como tantos outros, merece apuração rigorosa e, se for o caso, punição exemplar.

Acompanharemos os desdobramentos com atenção e compromisso. A luta pelo municipalismo sério e transparente não pode ser sequestrada por quem confunde representação pública com benefício pessoal.

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ARTIGOS

Entre a solidão e os likes

09/05/2025 07h45

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A série britânica “Adolescência”, de grande repercussão mundial, expõe de maneira crua e impactante os desafios enfrentados pelos jovens na era digital, especialmente no que diz respeito à influência das redes sociais e à vulnerabilidade emocional dos meninos e meninas. A trajetória de Jamie Miller, um inseguro garoto de 13 anos, acusado de assassinato, que se isola e se torna suscetível a discursos extremistas, revela o perigo do abandono silencioso e da solidão, compensados pelas ilusões virtuais da internet. Embora seus pais não sejam retratados como violentos ou negligentes, a falta de percepção sobre sua angústia abriu espaços para que se afastasse da realidade sem que ninguém diagnosticasse a gravidade da situação.

Diante dessa narrativa, é inevitável refletirmos sobre o papel da escola e da família na formação dos jovens e na prevenção de episódios trágicos. A primeira, enquanto espaço de desenvolvimento social e intelectual, precisa ir além da mera transmissão de conteúdos acadêmicos. É imprescindível que os educadores estejam atentos aos sinais de isolamento, sofrimento psicológico e mudanças comportamentais. Estratégias como rodas de conversa, ensino de pensamento crítico e projetos que abordem o uso responsável da internet podem ser ferramentas valiosas na construção de um ambiente mais seguro para os estudantes.

Além disso, o bullying, um fator central na trama de “Adolescência”, precisa ser enfrentado com seriedade dentro das instituições de ensino. A humilhação e a exclusão vivenciadas por Jamie na escola são experiências comuns a muitos jovens na vida real. Se não forem adequadamente remediadas, podem desencadear sentimentos de revolta e raiva e até mesmo ações extremas. Criar um espaço no qual o respeito mútuo e a empatia sejam valores praticados no cotidiano contribui muito para evitar que adolescentes sintam-se desamparados e busquem refúgio em ideologias e sentimentos nocivos, como a misoginia, o machismo, a discriminação e o rancor.

No entanto, a escola não pode agir sozinha. A família precisa ser um pilar na formação emocional dos adolescentes, mantendo um diálogo aberto e honesto sobre os desafios dessa fase da vida. A série evidencia como os pais de Jamie, apesar de bem-intencionados, não perceberam sua gradual desconexão. Esse afastamento pode ocorrer em qualquer núcleo familiar, independentemente de sua estrutura. Com a influência crescente da internet, é necessário estar muito atento ao que consome o tempo e a mente dos filhos, orientando-os sobre os perigos do mundo digital, sem recorrer a medidas meramente repressivas. Educar pelo exemplo também é fundamental.

A responsabilidade de ensinar e proteger os jovens é compartilhada entre escola e família. Quando ambos os ambientes falham em oferecer suporte emocional e orientação adequada, abre-se um vazio perigoso, que costuma ser preenchido por influências externas condutoras a caminhos destrutivos.

“Adolescência” narra um drama familiar e nos alerta para a necessidade urgente de fortalecermos os laços que ligam os jovens ao mundo físico de seus espaços de convivência. É somente por meio do acolhimento, do diálogo e da educação que poderemos evitar que histórias como a de Jamie se multipliquem. Nesse propósito, a escola é crucial. As instituições de ensino que levam essas questões a sério, com responsabilidade e compromisso, contribuem muito para prevenir o isolamento e reconectar meninos e meninas à realidade.

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