Tornar a sessão uma rinha de galo ou apresentação de circo não vai trazer benefícios para a cidade, ou agilizar a resolução dos problemas discutidos
Palavras como “baixaria” e “ringue” não deveriam ser usadas para descrever o dia de atividade na Câmara de Vereadores, em Campo Grande. Porém, são os termos mais recorrentes quando relembramos as últimas semanas das sessões na Capital. As manifestações populares podem e devem ser feitas; o protesto é instrumento legítimo de participação e que tem poder de persuasão em caso de clamor, levado em conta pelos parlamentares no momento da votação. Mas não é esse o caso dos manifestantes que comparecem em peso à Casa de Leis, nos últimos tempos. São defensores ou detratores do prefeito Gilmar Olarte, que ocupam o local para promover verdadeiro circo, enquanto votações estão sendo adiadas por causa do bate-boca sem fim.
Na sessão de terça-feira (18), mais um registro infeliz dos protestos. Manifestantes pró-Olarte provocavam os vereadores, e um dos protestantes, insuflado pelo anonimato na multidão, resolveu atingir o vereador Paulo Pedra, gritando “pedófilo”. A acusação é referência ao caso que envolve outros ex-parlamentares em processo sobre exploração sexual. Não era fato político em discussão ou que tivesse qualquer referência aos projetos em debate na Câmara. O parlamentar, enfurecido, partiu para cima do manifestante, líder comunitário que integrava o grupo de apoio a Olarte, e a briga começou. A confusão acabou com intervenção de outros colegas de Pedra e dos guardas municipais. O homem, agredido, registrou boletim de ocorrência contra Pedra.
Se é assim que os debates vão ser feitos a partir de agora, fica o questionamento em relação à praticidade das discussões e os benefícios para votação dos projetos. Com exceção dos grupos que defendem ou são contra Olarte – o qual, na maioria das vezes, está lá por obrigação partidária e/ou interesses muito particulares –, não se vê a mesma intensidade popular no debate de outras propostas tão importantes para o desenvolvimento da cidade. Também falta mais discernimento e compostura parlamentar. Um representante eleito pelo povo não deveria sair ao ataque, dentro da Câmara, incitando a baixaria, porque deveria dar exemplo. Por mais que fosse extremamente ofensivo, não é respondendo “no braço” que a discussão teria fim.
A mesma seriedade que a população exige dos parlamentares também deve ser seguida pelos presentes na Câmara de Vereadores. Participar do desenvolvimento do trabalho legislativo é exercício salutar para todos os envolvidos. Tornar a sessão uma rinha de galo ou apresentação de circo não vai trazer benefícios para a cidade, ou agilizar a resolução dos problemas discutidos.
Hoje, quinta-feira, é mais um dia de sessão na Câmara, em Campo Grande. Em pauta, segundo informações do site, estão projetos que tratam da divulgação de lista de espera por vaga nos
Ceinfs da Capital e criação de programa de incentivo à saúde da mulher. Na teoria, assuntos que interessam à população e que podem ser debatidos pelos parlamentares, caso haja espaço para isso. Espera-se mais compostura dos manifestantes e dos parlamentares.