O cenário é crítico e não há argumento da equipe do governo federal que possa mascarar o endividamento geral
É cada vez mais assustador ter a comprovação, em números, dos efeitos da retração econômica na vida de todos: a mais recente é a constatação da Serasa Experian de que 57,2 milhões de brasileiros estão inadimplentes com as contas. Isso representa 55% da população economicamente ativa do País, com mais de 15 anos de idade. O porcentual não diz respeito às contas parceladas, mas sim às que estão em atraso há mais de 90 dias – isso, no caso de pessoa física. Para pessoas jurídicas, o período de débito é de 45 dias e já bateu recorde histórico em agosto, com 4 milhões de empresas na lista negra de débitos, que somam R$ 91 bilhões em todo o País. O cenário é crítico e não há argumento da equipe do governo federal que possa mascarar o endividamento geral.
Segundo reportagem publicada na edição de ontem do Correio do Estado, no caso das empresas, 46% dos inadimplentes são do setor de comércio e 44% do segmento de serviços. As contas no vermelho são decorrentes da alta dos custos e queda nas vendas. Na tentativa de evitar o pior, o corte e/ou redução de gastos é a saída para minimizar a disparidade, cada vez maior, entre ganho real e perdas no fechamento de caixa. No topo da lista, infelizmente, a demissão de funcionários, método utilizado até por poderosas empresas. Um exemplo é a Microsoft, que, em julho, anunciou a demissão de 7,8 mil empregados no Brasil. Esta semana, a gigante da tecnologia vendeu a fábrica que tinha na zona franca de Manaus e encerrou as operações por lá. Em nota enviada à colunista da Veja, Vera Magalhães, a Microsoft informou que a planta foi vendida para a Flextron, que assumiu a fabricação do Xbox. No mercado brasileiro, a Via Varejo, do ramo de eletroeletrônicos do Grupo Pão de Açúcar (GPA), encerrou o terceiro trimestre com queda de 24,6% nas negociações. Para estancar as perdas, a companhia, dona do Ponto Frio e das Casas Bahia, encerrou 31 pontos de vendas entre julho e setembro.
O desemprego tem crescido gradativamente, superando os índices históricos. Aliás, este é o principal motivo para a não quitação dos débitos, tanto para pessoa física quanto jurídica. Na avaliação geral, o alto número de empresários que não conseguem honrar com os débitos é um passo à frente para o fechamento da atividade, sepultando qualquer perspectiva de melhora e manutenção de empregos para os que ainda não haviam sido demitidos. Economistas e especialistas de mercado avaliam que a tendência é que a inadimplência continue subindo. No setor industrial, as perspectivas não são diferentes, justamente pela falta de capital de giro, decorrente da suspensão das negociações com as empresas. Além disso, sofre impacto da variação cambial e da elevação da energia. São cada vez mais recorrentes os pedidos de recuperação judicial.
O ano de 2015 tem se consolidado como um dos piores no desempenho econômico do País. Embora o governo tenha admitido que o cenário é crítico, ainda parece tentar usar a máscara da tranquilidade, divulgando que as turbulências da economia não passam de susto no percurso e justificando o ajuste fiscal. Infelizmente, com ou sem epílogo para a novela do afastamento da presidente da República, Dilma Rousseff, os efeitos nefastos da política econômica do PT ainda vão perdurar por longo tempo.