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CORREIO DO ESTADO

Editorial desta quinta-feira: "Tempo perdido"

Editorial desta quinta-feira: "Tempo perdido"

Redação

14/01/2016 - 00h00
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Fica a lição para que no próximo ano não tenhamos que acompanhar novamente a tentativa de correr atrás do prejuízo quando nada mais pode ser feito    

Com as chuvas constantes dos últimos dias, o descaso com a infraestrutura tornou-se ainda mais evidente. São projetos mal elaborados, falta de limpeza ou obras interrompidas que acabaram se transformando em transtornos para os moradores. O desmoronamento de parte da margem do Rio Anhanduí era tragédia anunciada e os danos ainda podem ser maiores. Na terça-feira, tubulações de drenagem e esgoto romperam-se em decorrência da força da água - problema que poderia ser evitado caso a administração municipal iniciasse as obras que estão com R$ 68 milhões já garantidos. A prefeitura, porém, permanece na eterna letargia e a erosão só avança, atingindo cada vez mais a pista. 

A precariedade chegou a tal ponto que caminhão-guincho vem sendo usado para segurar o cano de esgoto até que os reparos definitivos possam ser feitos. Agora, resta esperar e torcer para que os estragos não sejam maiores. Nem precisa ser grande especialista para saber que obras não podem ser executadas durante o período das chuvas. Mesmo assim, o poder público parece só lembrar dos problemas depois que a desgraça já aconteceu. Centenas de buracos espalhados pelas ruas de Campo Grande tornaram-se símbolos do descaso e as competentes equipes da Secretaria de Obras decidiram iniciar os reparos justamente no período de chuvas, ao custo de R$ 2 milhões mensais. O resultado não poderia ser outro: dinheiro público desperdiçado. 

Ontem mesmo, com a precipitação praticamente constante, equipes estavam tapando buracos na Avenida Capital. Moradores relatam que o material usado é levado pela água pouco depois e o problema reaparece. Cenas semelhantes são vistas todos os dias nas ruas de Campo Grande. O mais coerente, no momento, seria suspender os trabalhos nos dias de chuva para evitar que dinheiro seja jogado fora, algo que o secretário municipal de Obras, Amilton Cândido de Oliveira, garantiu que será feito. 

Também entra na conta dos estragos da chuva, que poderiam ser evitados, os alagamentos que ocorreram na Avenida Rachid Neder, principalmente na rotatória com a Euler de Azevedo. Um dos motivos seria rompimento da barragem e de uma piscina de contenção de água da chuva, obras que foram alvo de questionamentos por possíveis falhas estruturais e de projetos. 

Mato Grosso do Sul, infelizmente, vivencia período de dificuldades, em que ao menos 25 municípios são castigados pelas chuvas. Há danos estruturais, como pontes destruídas e estradas intransitáveis, casas alagadas e as perdas serão ainda maiores com o início da colheita de soja, prejudicado pelo excesso de água e pelos problemas de escoamento. Não basta, porém, tentar colocar a culpa apenas em São Pedro. Há, certamente, prejuízos que poderiam ter sido minimizados caso o poder público trabalhasse com mais planejamento e eficiência. Infelizmente, estradas, ruas e avenidas que estavam sem manutenção ficaram muito piores. Fica a lição para que no próximo ano não tenhamos que acompanhar novamente a tentativa de correr atrás do prejuízo quando nada mais pode ser feito.     

EDITORIAL

Risco sem seguro ameaça o agronegócio

O mais contraditório é que a contratação de seguro beneficiaria diretamente o produtor. Com menor risco envolvido, o acesso ao crédito seria mais barato

08/12/2025 07h15

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O dado revelado nesta edição – a queda na proporção de produtores rurais que contratam seguro agrícola em todo o País – é um alerta que não pode ser ignorado. Em um setor cada vez mais exposto a eventos climáticos extremos, instabilidade de mercado e riscos operacionais crescentes, reduzir a própria proteção é caminhar na contramão do bom senso e das melhores práticas internacionais.

Em Mato Grosso do Sul, pelo menos, o número de apólices aumentou.  A agricultura brasileira se tornou um dos pilares da economia nacional justamente porque incorporou tecnologia, gestão e previsibilidade.

Mas, quando o tema é seguro rural, o retrocesso é evidente. E esse movimento nacional não afeta apenas o campo: acaba transferindo à sociedade e ao Estado a missão de funcionar como uma espécie de seguradora informal do agronegócio.

A lógica é simples. Quando a adesão ao seguro diminui, aumenta a insegurança, tanto financeira quanto produtiva. E, na falta de uma rede formal de proteção, cresce a pressão política e econômica – para que o poder público intervenha.

O histórico recente confirma: secas, enchentes e quebras de safra frequentemente resultam em socorros governamentais, renegociações, descontos, novos subsídios e linhas emergenciais. O recado implícito é de que, mesmo sem contratar seguro, boa parte do setor espera que alguém absorva o impacto das perdas.

Porém, essa dependência crescente não é sustentável, e tampouco justa com o conjunto da sociedade que financia sucessivos aportes públicos.

O mais contraditório é que a contratação de seguro beneficiaria diretamente o produtor. Com menor risco envolvido, o acesso ao crédito seria mais barato, mais rápido e menos burocrático – com ou sem subsídio. O sistema financeiro precifica risco, e risco mitigado significa juros menores.

Ainda assim, muitos agricultores optam pelo caminho mais arriscado: produzir sem cobertura e, diante da quebra, recorrer à recuperação judicial. Esse recurso, que deveria ser uma medida excepcional, virou estratégia recorrente em algumas regiões.

Mas é realmente o remédio adequado? Tudo indica que não. A recuperação judicial não resolve falhas de gestão, não substitui planejamento financeiro e tem elevado custo operacional. Além disso, desgasta relações com bancos, fornecedores e parceiros.

E esse último ponto é decisivo. As instituições financeiras mostram disposição cada vez menor de participar de operações em que o prejuízo parece inevitável. Com o avanço das recuperações judiciais, cresce a resistência ao crédito rural sem garantias sólidas.

Isso deve redefinir o perfil do produtor rural do presente: será necessário planejar melhor, manter mais capital de giro, menos dependência de socorros e menos aposta na blindagem patrimonial – o bem que geralmente fica protegido nos processos de recuperação.

O agronegócio brasileiro tem força, capacidade técnica e protagonismo mundial. Mas, para manter esse lugar, precisa incorporar definitivamente uma cultura de gestão de risco. Sem isso, os avanços conquistados podem ficar reféns da imprevisibilidade que a própria modernização deveria ter superado.

ARTIGOS

Como estimular a leitura na era da inteligência artificial

Crianças que leem todos os dias não apenas têm um desempenho melhor em testes, mas também desenvolvem um vocabulário mais amplo, maior conhecimento geral e a capacidade de pensar de forma crítica

06/12/2025 07h45

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Formar novos leitores é uma tarefa cheia de desafios. Esse tema se torna mais difícil por conta das transformações tecnológicas, em que o acesso à informação é instantâneo e ilimitado. Infelizmente, essa facilidade em se obter informações não se traduziu em aumento do hábito da leitura.

Um estudo do Ministério da Saúde, publicado em 2023, mostrou que no Brasil 24% das crianças com até 5 anos não têm livro infantil ou de figuras em casa.

Pais e professores têm diferentes influências nesse processo. Os pais devem incentivar a leitura em casa desde cedo. Já o professor auxilia o aluno a desenvolver habilidades para que se torne um leitor.

Crianças que leem todos os dias não apenas têm um desempenho melhor em testes, mas também desenvolvem um vocabulário mais amplo, maior conhecimento geral e a capacidade de pensar de forma crítica.

A leitura é uma das habilidades que mais desenvolve o cérebro, porque ela é um processo de decodificação. É muito importante entender que o nosso cérebro não nasceu para aprender a ler e escrever.

Então, quando a gente faz esse processo de neuroplasticidade, abrem-se portas para se estruturar habilidades que são valiosas para outras questões do desenvolvimento, como, por exemplo, o vocabulário.

A leitura possibilita ter autonomia e conhecimentos em relação ao mundo. A escrita possibilita produzir conhecimento.

A queda no hábito traz um impacto cognitivo significativo, tanto em crianças quanto em adolescentes, porque limita todo o potencial, tanto em termos de neuroplasticidade quanto em termos de vocabulário, de expressão e de protagonismo do conhecimento.

Para torná-la mais prazerosa e acessível a estudantes com dislexia, TDAH ou outros transtornos, as estratégias têm que estar pautadas em um bom processo de alfabetização.

Habilidades como o conhecimento alfabético, a consciência fonológica, a nomeação automática rápida, o vocabulário, a compreensão oral e a memória fonológica se desenvolvem antes ou durante as fases iniciais da alfabetização.

Esses conceitos são essenciais, porque são habilidades que preparam e solidificam o processo de alfabetização e compreensão de leitura. E, no caso dos transtornos, isso precisa ser melhor trabalhado.

Esse hábito pode e deve ser resgatado em larga escala, começando por nós adultos. As crianças aprendem com o que elas veem, com o exemplo.

É muito importante mostrar pela nossa atitude, pela nossa valorização por menos tela e por mais tempo no livro, até porque o nosso cérebro é extremamente plástico, mas o cérebro depende de um ambiente que cultive essa prioridade.

Além disso, indico que busquem por temas de interesse da criança para que o hábito se torne mais atrativo e cativante. Compartilhe as histórias que gostava na infância, isso fortalece o vínculo. Visite livrarias e deixe-os escolher o exemplar que os atraiam. A leitura é um presente que pode e deve ser compartilhado de geração em geração.

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