Como já era esperado, o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró citou o senador Delcídio do Amaral entre os políticos envolvidos em esquema de propina
Pode parecer um disco riscado, em que o mesmo trecho da música fica sendo repetido várias vezes. Mas não é. Os escândalos de corrupção envolvendo políticos do Partido dos Trabalhadores e da base de sustentação do governo federal parecem nunca terminar.
Muitas destas denúncias são previsíveis. Todas elas muito graves. Como já era esperado, o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró citou o senador Delcídio do Amaral (PT-MS), líder do governo Dilma Rousseff no Senado, entre os políticos que participaram do esquema de recebimento de propina para a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, pela estatal brasileira de petróleo.
A propina, segundo citou Cerveró em reportagem da edição desta semana da Revista Época, serviu para a campanha à Presidência de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006. Além de Delcídio, também estão envolvidos no esquema, conforme delação premiada de Cerveró, o presidente do Senado, Renan Calheiros, e Jader Barbalho, ambos do PMDB.
O depoimento de Cerveró só confirma o que vem sendo noticiado desde o ano passado: as relações entre o diretor da Petrobras e o senador sul-mato-grossense. Diga-se de passagem, Delcídio do Amaral é considerado “padrinho político” e amigo de Cerveró, uma das peças principais no esquema de desvio de dinheiro da Petrobras por meio de pagamento de propinas investigado na Operação Lava Jato da Polícia Federal.
A delação de Nestor Cerveró é a primeira dentre outras que devem citar vários políticos do primeiro escalão do PT e do PMDB na Lava Jato. Outros lobistas e empreiteiros presos, como Fernando Baiano, que firmou recentemente acordo de delação premiada, e Ricardo Pessoa, que também contribui com a investigação, vêm revelando vários detalhes do esquema de corrupção aos policiais federais que podem incriminar ainda mais parlamentares.
É triste que os detalhes informados pelos delatores na Operação Lava Jato pareçam capítulos repetidos de uma novela. Triste porque não se trata de ficção, nem tampouco de algo já investigado. Todos os novos escândalos que parecem notícia velha são, na verdade, novidade, o que gera ainda mais revolta nos cidadãos brasileiros que trabalham honestamente e contribuem com impostos para os governos.
A investigação da Polícia Federal ainda revela as entranhas de um sistema perverso de manutenção de políticos no poder. Do uso dos recursos do estado brasileiro e de empresas estatais para manter um grupo político nos mais importantes cargos do País.
Em momento de crise econômica, como o atual, percebe-se a falta que faz o dinheiro público desviado em esquemas corruptos. Estes recursos poderiam ser investidos em infraestrutura, ou fariam a diferença para cobrir o deficit orçamentário do País.