Artigos e Opinião

CORREIO DO ESTADO

Editorial desta sexta-feira: "Segurança apagada"

Editorial desta sexta-feira: "Segurança apagada"

Redação

02/10/2015 - 00h00
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Quando Mato Grosso do Sul vira notícia no combate às drogas, no País, é porque polícias de outros Estados apreenderam entorpecentes que passaram por nosso território 

Passados nove meses do início da administração de Reinaldo Azambuja, mesmo em um cenário de crise econômica e dificuldade para arrecadar, o governo do Estado obteve êxito em algumas iniciativas, como, por exemplo, na área da saúde, com a caravana que teve início em março e já atendeu mais de 6 mil pessoas até agora, ajudando a zerar filas de espera por cirurgias em cidades do interior. 

Neste cenário desafiador causado pela dificuldade financeira e escassez de dinheiro público, o governo também conseguiu cumprir sua obrigação de pagar salários em dia e de confirmar o 13º salário dos servidores no prazo legal, coisa que, por exemplo, a Prefeitura de Campo Grande não conseguirá fazer, conforme tem anunciado. 

Há, entretanto, um setor do governo de Reinaldo Azambuja que pouco se fala e que é muito cobrado pela população: o da segurança pública. Há um ano, durante sua campanha para governador, o tema “segurança” tinha destaque no plano de governo e nos programas de televisão e rádio do então candidato. Agora, as ações de policiamento e combate à criminalidade do governador, já no exercício do mandato, são muito tímidas e pouco visíveis. 

Um exemplo da timidez das ações da segurança pública estadual é o titular da pasta, o discreto secretário Silvio César Maluf. Ele pouco aparece, assim como toda a estrutura da secretaria de Justiça e Segurança Pública que comanda, a qual congrega a Agência Estadual do Sistema Penitencário, a Polícia Militar, a Polícia Civil e o Corpo de Bombeiros. 

Desde a posse de Azambuja, a única medida de impacto anunciada pelo governador para reforçar o combate à criminalidade foi o aluguel de viaturas para as polícias Militar e Civil e para o Corpo de Bombeiros. Mesmo após o processo licitatório concluído, a entrega desses novos carros, que substituirão os sucateados, está atrasada. O ato de alugar veículos e não comprá-los, porém, ainda é controverso, pois os equipamentos não seriam considerados patrimônio do Estado. 

No combate ao tráfico de drogas, não há algum protagonismo das polícias estaduais nem tampouco da Polícia Federal. Apenas a Polícia Rodoviária Federal tem atuado de maneira mais contundente no combate aos entorpecentes. 

Quando Mato Grosso do Sul vira notícia sobre tráfico de drogas no Brasil é porque carregamentos que saíram do Paraguai e da Bolívia e passaram pelo Estado foram interceptados por polícias de outras unidades da federação, como, por exemplo, São Paulo, Paraná e Goiás. 

A apreensão aleatória desses carregamentos nos Estados vizinhos escancara a dura realidade local no enfrentamento às drogas: a de que o tráfico não é combatido, pois a grande maioria dos entorpecentes que abastecem as grandes cidades do Brasil e de outros países passa tranquilamente por Mato Grosso do Sul.

Editorial

O ajuste fiscal que a Capital precisava

O ajuste fiscal não é um fim em si mesmo, mas um meio para que Campo Grande volte a sonhar alto e entregar resultados concretos à população

09/07/2025 07h15

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Seis meses após a posse, a prefeita Adriane Lopes enfim enviou à Câmara Municipal medida que deveria ter sido apresentada já no primeiro dia útil do novo mandato: um pacote de ajuste fiscal para reorganizar as finanças da Capital. Era um gesto aguardado desde fevereiro, não apenas por vereadores ou servidores públicos, mas por toda a sociedade campo-grandense, ciente de que os desequilíbrios fiscais vinham se acumulando há anos.

A verdade é que o ajuste fiscal era necessário há muito tempo. Campo Grande passou a última década operando no limite da Lei de Responsabilidade Fiscal, com sucessivos alertas sobre o comprometimento das receitas com pessoal. Em alguns momentos, a cidade se tornou refém de uma máquina pública inflada, servindo de abrigo para contratações políticas, e não como instrumento de eficiência administrativa. O resultado foi a deterioração dos serviços e a perda da capacidade de investimento.

Com a economia local mostrando sinais de vitalidade, o que faltava era exatamente um governo capaz de colocar a casa em ordem. Campo Grande não carece de recursos, mas de boa gestão. E, nesse sentido, o pacote aprovado pela Câmara é um primeiro passo importante. Ao atrelar o crescimento das despesas à inflação do ano anterior, o município sinaliza compromisso com a responsabilidade fiscal – um recado claro aos credores e potenciais financiadores.

A medida tem peso simbólico e prático. Simbólico, porque representa uma ruptura com a cultura do improviso e do gasto desenfreado. Prático, porque permite ao município acessar linhas de crédito e financiamentos com a garantia da União – algo essencial para retomar obras, modernizar a infraestrutura e atender às demandas históricas da população.

É claro que o ajuste não resolve tudo. Será preciso zelo na execução orçamentária, transparência na alocação dos recursos e, sobretudo, disciplina para cumprir as metas estabelecidas. A nova lei permite cortes em despesas de custeio e pessoal, mas não mexe em áreas sensíveis como saúde e educação, o que é positivo. O foco agora deve ser a melhoria da eficiência nos serviços públicos.

Campo Grande precisa de um novo ciclo, sustentado por finanças organizadas e planejamento de longo prazo. Se esse ajuste for levado a sério, os resultados podem ser surpreendentemente rápidos, justamente porque a capital sul-mato-grossense tem uma economia vibrante, empreendedora e com enorme potencial de crescimento.

A cidade merece encontrar, neste novo momento, o rumo certo – um rumo de responsabilidade, investimento e prosperidade compartilhada. O ajuste fiscal não é um fim em si mesmo, mas um meio para que Campo Grande volte a sonhar alto e entregar resultados concretos à população. Esperamos que, desta vez, a oportunidade não seja desperdiçada.

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ARTIGOS

Meta e o crime organizado digital no Brasil: tecnologia cúmplice das fraudes financeiras

08/07/2025 07h45

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O Brasil enfrenta hoje uma das maiores ondas de fraudes financeiras digitais de sua história. Milhares de pessoas têm sido enganadas por falsas corretoras de investimento, que prometem lucros rápidos, plataformas sofisticadas e uma suposta segurança institucional. Por trás desses golpes, existe um elo perturbador: o uso massivo das ferramentas da Meta Platforms Inc. – controladora do Facebook, Instagram e WhatsApp – como meio estruturante dessas fraudes.

Não estamos diante de incidentes pontuais, mas de um verdadeiro modelo industrial de crime digital. Organizações criminosas transnacionais operam em escala, utilizando inteligência artificial, vídeos com deepfakes de personalidades conhecidas e algoritmos de publicidade hipersegmentada para atingir os mais vulneráveis: aposentados, trabalhadores endividados e pequenos investidores em busca de renda extra.

Esses grupos atuam como instituições financeiras clandestinas, captando recursos do público, prometendo rentabilidades irreais e intermediando operações ilegais, sem nenhuma autorização dos órgãos reguladores. A viabilidade desse modelo está diretamente ligada à omissão da principal plataforma de distribuição: a Meta.
A empresa não apenas permite a disseminação desses conteúdos, como lucra com eles. A cada clique patrocinado, a cada campanha financiada com dinheiro oriundo das próprias vítimas, a Meta arrecada. Mesmo após diversas denúncias, reportagens investigativas e alertas técnicos, os anúncios fraudulentos continuam sendo veiculados.

Essa permanência sistemática dos anúncios reflete um fenômeno conhecido como “cegueira deliberada”: a escolha consciente de não agir, mesmo dispondo de meios técnicos e informações suficientes para barrar crimes em andamento. A Meta detém recursos sofisticados de inteligência artificial, ferramentas de moderação automatizada e análises comportamentais altamente precisas. No entanto, opta por priorizar a venda de anúncios, ainda que isso custe a segurança dos usuários brasileiros.

Essa omissão não é passiva – é cúmplice. A empresa pode ser responsabilizada criminalmente por sua participação indireta na operação de instituições financeiras clandestinas, crime previsto na legislação penal brasileira. Ao fornecer o meio, lucrar com a operação e ignorar deliberadamente sua natureza ilegal, a Meta contribui para o êxito da fraude. Trata-se de um típico caso de dolo eventual: a empresa tinha plena consciência do risco de estar facilitando crimes e, mesmo assim, aceitou esse risco em nome do lucro.

Isso não é um ataque à liberdade de expressão. É uma chamada à responsabilidade de quem, ao oferecer uma estrutura tecnológica poderosa, decide fechar os olhos para o sofrimento alheio – desde que o caixa continue cheio. A Meta, como uma das empresas mais influentes do planeta, precisa entender que operar no Brasil significa também submeter-se às leis brasileiras, inclusive às penais.

O combate às fraudes digitais exige mais do que regulação: exige coragem. Coragem para enfrentar não apenas os golpistas que atuam nas sombras, mas também os gigantes tecnológicos que, à luz do dia, fornecem palco, plateia e bilheteria para que esses crimes prosperem.

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