O governo federal, que, por dever de ofício, tem de atuar para o término da disputa por terras entre índios e donos de fazenda, pouco ou nada tem feito para acabar com a tensão no campo
Os conflitos envolvendo proprietários de fazendas e indígenas em Mato Grosso do Sul, ao que os acontecimentos recentes indicam, parecem estar longe de um ponto final, infelizmente. E a causa desta falta de esperança por paz no campo tem origem nas autoridades federais, que são quem deveriam atuar na mediação e apresentação de solução para os processos de demarcação de reservas e buscar acordos com as partes envolvidas.
No conflito mais recente, que teve início no último fim de semana, no município de Antônio João, distante 282 quilômetros da Capital, na fronteira com o Paraguai, cinco fazendas foram invadidas por índios da etnia guarani kaiowá. Ao todo, segundo os proprietários, são aproximadamente 10 mil hectares de áreas ocupadas e reinvindicadas.
A gravidade da ocupação é tamanha que Campestre, distrito de Antônio João, chegou a ficar isolado. Curiosamente, o distrito – que também é uma aldeia – foi palco de um conflito entre índios e produtores rurais que entrou para a história de Mato Grosso do Sul e culminou, em 1983, no assassinato do líder guarani Marçal de Souza. Episódio de repercussão internacional,
A retomada do conflito, 32 anos depois, é a prova que o tempo deu de que nada, efetivamente, foi feito para buscar um entendimento entre índios e produtores rurais.
“Terceiros interessados” no conflito, como é o caso, por exemplo, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), vinculado à Igreja Católica, em vez de apagar o incêndio que já dura décadas, jogam ainda mais gasolina nas chamas. Os produtores rurais de Antônio João, conforme reportagem publicada na edição de ontem do Correio do Estado, são categóricos em afirmar que o grupo católico atua diretamente nas invasões, criando condições para que elas ocorram. Logo a igreja, que em outros séculos chegou a ser lembrada justamente pela exploração de povos indígenas.
O governo federal que, por dever de ofício, tem de atuar para término da disputa por terras, pouco ou nada tem feito. No caso das invasões mais recentes em Antônio João, tem sido completamente ausente e nem mesmo a Polícia Federal tem atuado na área, tendo ficado a cargo do Departamento de Operações de Fronteira (DOF), órgão estadual de segurança, o trabalho de evitar que os ânimos na região fiquem ainda mais acirrados. Até ontem, equipes da Força Nacional de Segurança Pública, que estavam em Amambai - outra região de conflito - não haviam chegado às fazendas invadidas no último fim de semana.
Outro exemplo de incompetência das autoridades federais na busca pelo fim do conflito ocorre com outras etnias, e outros municípios. Nos municípios de Sidrolândia e Dois Irmãos do Buriti, há mais de três anos que dezenas de fazendas estão ocupadas por índios terena, que esperam a demarcação da “Terra Indígena Buriti”. Em 2013, o indígena Oziel Gabriel foi morto durante operação frustrada de desocupação e, desde então, um acordo para compra das áreas invadidas pela União, está emperrado no Ministério da Justiça.