O socorro às indústrias é indicativo de que o governo tomou pé da grave situação em que colocou o País, ação muito mais contundente do que as tomadas até agora
O anúncio de socorro às empresas do setor automotivo pode ser sopro para as indústrias que, a cada mês, registram queda nas vendas, aumento nos gastos e nos índices de demissões. É o reconhecimento do governo federal de que a intervenção é necessária, urgente e que a crise não é a “marolinha” que insistiam em defender. Não é estratégia nova e já foi adotada para ajudar o setor elétrico, por meio do Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O socorro prometido será por meio de desembolsos que podem chegar a R$ 14 bilhões, via Banco do Brasil e Caixa. São linhas de crédito e de capital de giro com condições especiais, dinheiro que deve ajudar as empresas do setor automotivo a pagar dívida com credores. Os valores serão concedidos por meio de títulos, tendo como garantia o próprio contrato de fornecimento de peças à montadoras. Nas próximas semanas, o Banco do Brasil deve ampliar o crédito também às cooperativas agrícolas, petróleo e gás e construção civil.
Não é de hoje que governos dão uma “mãozinha” para grandes empresas. Nos Estados Unidos a prática foi usada diversas vezes. Lá, eclodiu a crise em 2008, considerada maior que a Grande Depressão de 1929, sendo gerada pelo mercado imobiliário. O quarto maior banco americano, o Lehman Brothers, declarou falência. A instituição não recebeu ajuda, sucumbiu e levou junto boa parte dos investidores. O governo teve que abrir a torneira para que outros bancos não caíssem e evitar o pânico no mercado.
Naquela época, o então presidente do Brasil, Luis Inácio Lula da Silva, disse que a onda de crise americana não chegaria ao país e, se chegasse, não passaria de uma “marolinha”. Não foi o que aconteceu e o governo teve que baixar juros, reduzir alíquotas de de produtos da linha branca, automóveis, além de liberar bilhões em depósitos compulsórios para estimular o setor financeiro a emprestar mais. No período, o país se segurou, mas viu o PIB fechar com número negativo de -0,3%. Agora, o presidente do Banco do Brasil, Alexandre Abreu, diz que a estratégia adotada não segue os moldes das ações tomadas naquele período, já que o socorro, segundo ele, é “cirúrgico”. Porém, não se pode ignorar que o cenário atual é muito mais pessimista, em decorrência das condições internas de crise, deflagradas pelo próprio governo brasileiro.
A aposta de Abreu é que a situação comece a melhorar a partir de 2016, com perspectiva de queda de inflação e possível retomada de crescimento, porém,a expectativa é contraditória, levando em conta a perspectiva feita por economistas do mercado financeiro de redução do PIB no próximo ano e manutenção do indicativo de retração econômica.
O socorro às indústrias é indicativo de que, o governo tomou pé da grave situação em que colocou o País, ação muito mais contundente do que as tomadas até agora, mesmo levando em conta os ajustes fiscais. Resta esperar para ver se as ações surtirão efeito necessário em tempo, para evitar o crescimento da bola de neve que se tornou a economia do país.