Dilma pode até ficar no cargo, como ela mesma brada, insensível à opinião pública. Porém, em pouquíssimo tempo, conseguiu destruir o PT
Domingo foi dia de manifestações em várias cidades do País. Em Campo Grande, foram cerca de três mil pessoas na Praça do Rádio, região central da cidade. Durante o ato, um abaixo-assinado foi feito, reivindicando mais rigor nas leis anti-corrupção, material que será levado ao Ministério Público Federal. Os eternos defensores da gestão petista evidenciaram que o número teria sido menor do que nos protestos anteriormente realizados, mas, isso não tira a legitimidade da indignação dos que foram às ruas. Tanto não pode ser considerado menor que, ontem, foi realizada reunião de coordenação política da presidente da República Dilma Rousseff para tentar “quebrar o clima de pessimismo” e “garantir condições econômicas” de governabilidade.
O sinal de alerta ligado no Palácio do Planalto parece um pouco tardio, se for levada em conta a pesquisa Datafolha feita com os manifestantes que estiveram na Avenida Paulista. Dos entrevistados, 85% não vislumbram outro caminho a não ser a renúncia de Dilma, porém, metade acredita que la realmente vá deixar o cargo. Do total dos pesquisados, 95% consideram o governo ruim ou péssimo. Os índices pareceriam óbvios, por terem sido colhidos em ato contra a presidente, mas seguem tendência nacional, conforme levantamento feito anteriormente pelo Datafolha, no início de agosto, em que 72% reprovavam a gestão, resultado superou as piores taxas registradas por Fernando Collor (1990-92), no período em que estava prestes a sofrer processo de impeachment. Na pesquisa anterior, em junho, o percentual de rejeição era de 65%. Os detratores do movimento não podem reclamar de maciça desinformação: 69% souberam responder corretamente que Michel Temer assumiria o cargo, na eventual saída da presidente.
Dilma pode até ficar no cargo, como ela mesma brada, insensível à opinião pública. Porém, em pouquíssimo tempo, conseguiu destruir o PT, partido que demorou para chegar ao poder, teve ascensão meteórica com o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva e, agora, e padece de credibilidade, envolvido em escândalos de corrupção, desvio de recursos e superfaturamento. Capítulo triste da história política, que também arrasta o Brasil para a retração econômica, desemprego e aumento da inadimplência, efeito cascata inevitável em consequência da política econômica adotada pelos petistas. A legenda não tem nome forte, capaz de reverter o cenário tão negativo. Mesmo Lula, não conseguiria repetir o feito de 200: em julho, pesquisa Ibope mostrou que o ex-presidente perderia a disputa, em eventual segundo turno, para Aécio Neves (PSDB-MG). Mesmo se o embate fosse com Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, haveria empate técnico, situação difícil de se imaginar em outros tempos.
O que fica para o PT, agora, é a herança maldita das tomadas de decisões equivocadas, da teimosia e intransigência da presidente e do escancaramento da corrupção que tomou conta da administração. É difícil enxergar uma estratégia que possibilite o partido de reerguer-se do escândalo. Mesmo quem está pulando do barco, está marcado pela estrela petista. Os eleitores não vão esquecer disso.