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Editorial desta terça-feira: "Morte nas estradas"

Editorial desta terça-feira: "Morte nas estradas"

Redação

06/10/2015 - 00h00
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A educação, aliás, é a saída a médio e longo prazo, mas, enquanto isso, é importante que as fiscalizações nas estradas sejam recorrentes e incisivas.

Este ano, o número de mortes registradas nas rodovias federais em Mato Grosso do Sul caiu em relação ao mesmo período do ano passado. Porém, os casos que ainda acontecem impressionam pela irresponsabilidade gritante dos condutores. A maioria dos acidentes é consequência da alta velocidade e da imprudência dos motoristas. No último fim de semana, dez pessoas perderam a vida em colisões nas estradas e pelo menos dois casos chamaram atenção, por envolver maior quantidade de pessoas e crianças.

De janeiro até setembro, foram 116 mortes, 36,9% a menos do em igual  período de 2014, quando foram registrados 184 óbitos. Os dados fechados pela Polícia Rodoviária Federal ainda não incluem os casos ocorridos em outubro, em que foram 10 mortes até agora. A BR-163 ainda concentra o maior número dos casos - 40 - seguida da BR-267 (23) e da BR-262 (18). Nas rodovias estaduais, também   houve queda de mortes este ano, de 108 para 65.

Um dos casos ocorrido nas rodovias federais foi na BR-262, entre Ribas do Rio Pardo e Água Clara. De acordo com registro da ocorrência, o condutor foi tentar ultrapassagem e bateu frontalmente com veículo que vinha na pista contrária. Dos cinco ocupantes, quatro morreram, sendo duas crianças de 12 e 8 anos. Apenas a mãe deles sobreviveu. Na investigação preliminar, apurou-se que o motorista que invadiu a pista teria bebido e há relatos de testemunhas de que ele ainda havia comprado mais bebida depois de ter saído de festa.

Levantamento feito no período de onze meses, entre 2013 e 2014, mostra as colisões frontais representam 3% das colisões em rodoviais federais em todo o País, mas que foram responsáveis por 34% das mortes. A letalidade é consequência da impossibilidade de reflexo rápido de quem é pego de supresa pelo motorista que tenta fazer a ultrapassagem. Nas estradas - principamente nas de pavimentação de qualidade -, é comum o condutor abusar da confiança e da velocidade e forçar passagem, mesmo em condições mínimas de segurança. O excesso de velocidade está entre os principais motivos dos acidentes.

Esperar pela conscientização dos motoristas não  vai surtindo efeito necessário. O uso do cinto de segurança tornou-se hábito pois foi imposto, sob pena de multa e pontos na carteira e, mesmo assim, é comum ver condutores sem o equipamento nas ruas da cidade. O ponto positivo é que muitas crianças incorporaram a ação e obrigam os pais a seguirem o exemplo. A educação, aliás, é a saída a médio e longo prazo, mas, enquanto isso, é importante que as fiscalizações nas estradas sejam recorrentes e incisivas. É comum no período de férias e feriado prolongado as operações especiais, envolvendo todo o efetivo das polícias rodoviárias. O empenho poderia se estender por todo o ano, mas, para isso, segundo as polícias, seria necessário aumentar o efetivo. Enquanto o problema das corporações não for sanado, infelizmente, isso permite que as estradas estejam descobertas em boa parte do tempo, tanto para a imprudência dos condutores quanto para a criminalidade, principalmente em Mato Grosso do Sul, estado de passagem do tráfico de drogas e armas e contrabando de combustíveis. 

Editorial

O uso de terrenos federais para moradia

Que a iniciativa prospere, mas que venha acompanhada de responsabilidade, planejamento e respeito às pessoas que aguardam há anos pela casa própria

23/06/2025 07h15

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Nesta edição, mostramos que o governo federal estuda a possibilidade de utilizar áreas pertencentes à antiga Rede Ferroviária Federal localizadas em zonas urbanas para a construção de casas populares. A iniciativa, que integra o esforço nacional para reduzir o deficit habitacional, surge em um momento oportuno, em que o País precisa ampliar a oferta de moradias e, ao mesmo tempo, estimular a economia.

O que se espera é que o processo seja conduzido com extrema eficiência e responsabilidade. O Brasil vive uma fase em que a construção de moradias não é apenas uma resposta social, mas uma estratégia essencial para o avanço da classe média e para a melhoria da qualidade de vida da população. Garantir o acesso à casa própria é um dos pilares para a inclusão social e econômica.

Mais do que atender à demanda habitacional, um programa como esse representa uma poderosa alavanca de desenvolvimento econômico. Sempre que o setor da construção civil é incentivado, a economia local sente os efeitos de forma positiva: surgem empregos diretos e indiretos, o comércio de materiais de construção se aquece, o consumo aumenta e os investimentos privados também tendem a crescer. Quem poderia reclamar de um ciclo virtuoso como esse? Mas aí reside o principal ponto de atenção: a eficiência na execução. Um programa mal planejado pode ter efeitos colaterais indesejados, como a pressão inflacionária sobre os preços de terrenos, materiais e mão de obra.

Além disso, é fundamental que o processo de seleção dos beneficiados pelas casas populares siga critérios justos, transparentes e orientados pelas reais necessidades da população.

Outro aspecto que não pode ser negligenciado é a necessidade de um bom planejamento urbano nas cidades que receberão os novos empreendimentos. Não basta apenas construir casas: é preciso garantir infraestrutura adequada, acesso a transporte público e serviços básicos, como saúde e educação, além de espaços de lazer e convivência comunitária. A integração dessas novas áreas ao tecido urbano existente deve ser pensada com cuidado.

A utilização dos terrenos da antiga rede ferroviária pode, sim, representar uma solução criativa e viável para enfrentar o problema da falta de moradias nas cidades brasileiras. Mas isso só será possível com uma gestão eficiente, transparente e com foco no desenvolvimento social e econômico sustentável.

Que a iniciativa prospere, mas que venha acompanhada de responsabilidade, planejamento e, acima de tudo, respeito às pessoas que aguardam há anos pela realização do sonho da casa própria. O Brasil precisa construir mais do que paredes e telhados: precisa construir cidadania e oportunidades.

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ARTIGOS

Quando a ausência custa caro ao SUS

17/06/2025 07h45

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O Sistema Único de Saúde (SUS) é, sem dúvida, uma das maiores conquistas da nossa democracia. Ele representa a promessa de um Brasil mais justo, em que a saúde deixa de ser um privilégio para se tornar um direito de todos, sem distinção de renda ou localização. No entanto, esse gigante que sustenta a saúde de milhões de brasileiros tropeça no vazio deixado por ausências. São consultas que não acontecem, exames perdidos, cadeiras vazias e horários que poderiam ser utilizados por outros pacientes. A cada falta, uma porta se fecha para quem aguarda do outro lado. O absenteísmo corrói o que há de mais valioso no SUS: a chance de salvar vidas. 

Uma simples falta, muitas vezes vista como algo inofensivo pelo usuário, desencadeia consequências profundas. Não se trata apenas de desperdício de tempo e recursos, mas de uma oportunidade perdida para atender outros que também esperam. Quando consultas e exames não são realizados, o diagnóstico precoce e o tratamento adequado são adiados, permitindo que doenças que poderiam ser evitadas ou controladas se agravem. Imagine uma paciente idosa que espera há meses por uma endoscopia essencial para diagnosticar um câncer de estômago, ainda desconhecido. Agora, visualize oito pacientes que, sem aviso, não compareceram ao exame agendado no mesmo dia, enquanto aquela paciente permanecia em casa à espera. O absenteísmo expõe esse descompasso: o silêncio de uns amplifica a angústia daqueles que contam os dias para serem atendidos. 

No Brasil, estima-se que o absenteísmo na saúde atinja cerca de 25%, tanto em consultas quanto na realização de exames pelo SUS. Esse índice não representa apenas a perda de oportunidade de tratamento para milhares de pessoas, mas também um custo financeiro considerável. Estudos indicam que o desperdício causado pelas ausências pode ultrapassar bilhões de reais anualmente, comprometendo o orçamento já limitado da saúde pública. Muitos veem o SUS como algo garantido, mas poucos percebem que faltar a uma consulta marcada é como comprometer uma engrenagem crucial para o funcionamento de todo o sistema. Cada agendamento, além de ser um compromisso pessoal, é uma peça essencial que, se negligenciada, priva outros cidadãos do atendimento que também merecem.

O absenteísmo no SUS é tanto um problema organizacional quanto uma questão cultural. A falta de conscientização sobre a importância de comparecer é intensificada pela ausência de punições. Ao contrário do setor privado, em que multas e cobranças desencorajam faltas, no SUS, não há custo direto para o paciente. No entanto, o impacto no sistema e nos outros usuários é imenso. Para enfrentar essa realidade, quem sabe o caminho seja implementar novas estratégias educativas e sistemas de comunicação mais ágeis. Ferramentas simples de cancelamento, que permitam ao usuário informar sua ausência de maneira rápida, podem ser um passo essencial. 

Mais que um obstáculo, as ausências são uma barreira que limita o alcance e a eficiência dos serviços destinados à população. Esse problema resulta no desperdício de recursos e em uma sobrecarga, dificultando a construção de um sistema de saúde verdadeiramente universal e igualitário. Em vez disso, essas faltas nos afastam desse objetivo, comprometendo a cobertura e criando um ciclo vicioso de ineficiência. Como uma corrente quebrada, o sistema perde a força necessária para seguir em frente, deixando de cumprir sua missão de cuidar de quem nele confia.

É urgente adotar uma nova perspectiva, em que cada agendamento seja encarado não apenas como uma responsabilidade individual, mas como um compromisso coletivo que impacta o bem-estar de todos. O absenteísmo não é um problema isolado, ele é um desafio que exige a união de gestores, profissionais de saúde e usuários para preservar a essência do SUS. Para isso, talvez seja preciso dar um passo atrás e fortalecer a saúde preventiva como base para um sistema sustentável e eficaz. O SUS, maior símbolo de inclusão e justiça social, não pode ser deixado à deriva por algo tão simples, mas tão devastador. Afinal, quando um falta, muitos pagam o preço da negligência. 

Cada ausência é uma lacuna que enfraquece o sistema, e cabe a todos nós preenchê-la para garantir que a saúde seja um direito acessível a todos.

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