Apesar do grave dano ambiental, nenhuma intervenção prática foi executada nas últimas décadas para conter o assoreamento no Rio Taquari.
Desde a década de 1970, com expansão da produção agrícola na Bacia do Rio Taquari,o alerta foi ligado. Como em outros exemplos de descaso do homem com os avisos da Natureza, a ação de remoção de matas e implantação de pastagens foi feita à revelia, sem qualquer cuidado com o entorno. O rio perdeu seu curso em decorrência do assoreamento do leito, que aumentou dez vezes com a destruição das matas ciliares do planalto, no norte de Mato Grosso do Sul.
Recentemente, mais um capítulo da tragédia anunciada: o arrombamento da margem esquerda, no Corixão, um dos quatro veios de vazantes da localidade. As águas do Taquari invadiram dezenas de fazenda de gado na região de Nhecolândia, no Pantanal. O cenário é ainda mais assustador ao avaliar que isso ocorreu em período de poucas chuvas e persiste mesmo passado o pico das águas.
Não é de hoje que o Correio do Estado alerta para as consequências dos danos na região do Rio Taquari. Permanentemente, foram perdidos 1,5 milhão de hectares na sub-região do Paiaguás (nordeste de Corumbá) nos últimos 40 anos. Mais recentemente, no dia 2 de agosto, reportagem especial evidenciava o arrombamento da margem na margem esquerda. Pesquisadores da Embrapa Pantanal dizem que o rio avança para região da Nhecolândia e a destruição será inevitável.
O isolamento já chega às áreas e, atualmente, só é possível vislumbrar o que aconteceu em sobrevoos. As águas engoliram propriedades rurais e bancos de areia em trechos impedem a passagem de embarcações, utilizadas no envio de mantimentos. Produtores, assustados, pediram a intervenção do governo estadual e do Ministério Público Federal para minimizar os danos, como drenagem do leito, recuperação e reflorestamento das margens. No último fim de semana, fazendeiros aproveitaram a presença do governador Reinaldo Azambuja em Corumbá para discutir o assunto e novo debate está sendo agendado com MPF.
Apesar do grave dano ambiental e dos vários debates, nenhuma intervenção prática foi executada nas últimas décadas para conter o assoreamento no Rio Taquari. As ações judiciais arrastam-se sem que medida efetiva seja tomada. Em 2006, o governo federal chegou a criar comissão interministerial para elaborar projeto de recuperação do Rio Taquari. Seriam 31 ações, orçadas em R$ 50 milhões, mas a proposta foi engavetada e nada foi feito. Em 2013, a Justiça Federal de Coxim condenou Estado e União e determinou o bloqueio de R$ 6 milhões dos governos federal e estadual até que medidas sejam tomadas. A ação protocolada pelo MPF foi fundamentada pela “inércia do poder público diante dos gravíssimos danos ambientais”. Por enquanto, nada de concreto.
Enquanto isso, sem vazão adequada, as águas tomam conta das áreas da Nhecolândia. Parte da economia no setor agropecuário está comprometida com a perda de centenas de cabeça de gado. Produtores viram suas propriedades submergirem e anos de trabalho e investimentos se perderem. O alerta não é somente para o governo sul-mato-grossense, mas para o País: o sistemático avanço do homem, sem planejamento comprometeu, para sempre, uma dos mais importantes ecossistemas do mundo. E não foi por falta de aviso.