A narrativa fantasiosa apresenta diferentes prazos e sempre aparece uma nova afirmação de que a obra será destravada. De real, apenas os problemas que continuam sem ser resolvidos
A crise econômica, aliada à instabilidade política, fez com que Campo Grande tivesse um “ano perdido” em relação aos investimentos na área de infraestrutura. Nos últimos anos, os campo-grandenses tinham vivenciado o desenvolvimento de diferentes regiões, com a Orla Morena e abertura de avenidas, como a Lúdio Coelho e a J. Barbosa Rodrigues. Entretanto, 2015 ficará marcado pela estagnação. Sem dúvida, as dificuldades financeiras enfrentadas em todo o País influenciaram. Mas não há como desconsiderar a ineficiência administrativa.
Há recursos de R$ 68 milhões garantidos para executar a obra de recuperação do leito do Rio Anhanduí, desde fevereiro deste ano. Entretanto, a administração municipal esbarra no simples trâmite licitatório e, até agora, não conseguiu tirar do papel os investimentos previstos há mais de seis anos. Enquanto isso, a cada chuva, novo desmoronamento ocorre e a erosão atinge mais trechos da Avenida Ernesto Geisel, uma das principais da cidade. Não há justificativas plausíveis para ter recursos parados e permitir que obras necessárias para a população deixem de ser atendidas.
Hoje, vivemos um ciclo de promessas baseadas apenas em projetos antigos: revitalização do centro da Capital, conclusão do Hospital do Trauma, retomada da obra do Centro de Belas Artes, finalização da sincronização de semáforos pela Onda Verde, pavimentação de corredores do transporte coletivo pelo PAC Mobilidade Urbana e construção de novos terminais de ônibus. Isso sem contar as obras de postos de saúde e Centros de Educação Infantil (Ceinfs) que foram abandonadas. Planos já foram tão repetidos que se tornaram lenda para muitos campo-grandenses. A narrativa fantasiosa apresenta diferentes prazos e sempre aparece uma nova afirmação de que a obra será destravada. De real, apenas os problemas que continuam sem ser resolvidos.
Para piorar, as expectativas não são as melhores para 2016. No orçamento municipal, há previsão de executar apenas obras com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que já sofreu cortes em razão do contingenciamento de despesas pelo governo federal. E, se mensurarmos o cenário de inflação alta e baixos índices de crescimento no País, poderemos prever outro ano de estagnação na área de infraestrutura. Hoje, a administração municipal não tem condições de arcar com os compromissos mais básicos, como pagar salários em dia, e, portanto, torna-se ainda mais difícil acreditar que será possível lançar novos investimentos.
Mesmo assim, voltamos a ouvir a promessa, repetida constantemente pelo prefeito Alcides Bernal durante a campanha, sobre a construção do Hospital Municipal de Campo Grande. No projeto de 2013, eram previstos R$ 100 milhões para ativação de 250 leitos. Agora, nem essa projeção da estruturação é feita. Por isso, fica difícil acreditar que não estamos diante de novas ilações. Será preciso reverter o quadro de paralisação total de investimentos para que o campo-grandense volte a acreditar que alguma promessa sairá do papel.